quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Tempo


Estava eu a ler o conto "El perseguidor", do livro "Las armas secretas", de Julio Cortázar, e não me pude furtar à idéia da relatividade do tempo, por conseguinte lembrei-me de Einstein, mas de quão mais complexa é a nossa relação com o tempo.
Borges diz em sua "Historia de la eternidad" que: "El movimiento, ocupación de sitios distintos en instantes distintos, es inconcebible sin tiempo; asimismo lo es la inmovilidad, ocupación de un mismo lugar en distintos puntos del tiempo." Ou seja, o tempo está presente em tudo, mas por que esse tempo, inclusive o cronológico,é-nos tão diferente em distintos aspectos? Pois, todos sabemos que 20 minutos de ansiedade são interminavelmente mais longos que 20 minutos de prazer. O tempo, nosso algoz, que nos castiga todos os dias, diminuindo o espaço entre a linha de partida e a linha de chegada de nossa existência. Tempo que pode ser melancólico e tenebroso, como o deve ser para milhares de palestinos que têm noites em que o tempo não passa, aflitos com o medo de o próximo amanhacer não chegar.
Isto, sem mencionar o tempo de nosso pensamento, que flui, inegavelmente, mais veloz que nossas ações. Em um minuto, podemos pensar em dias a fio, e demoraremos horas para discursivizá-lo. Como é complicada a abstração de pensar no tempo! E o tempo da literatura que são diversos tempos e podem andar para frente ou para trás simultaneamente. O tempo de espera pela hora do almoço de quem tem fome, garanto-lhes, que não é o mesmo de quem tem a certeza que terá a sua frente uma farta mesa.
Somos reféns do tempo, ainda mais em uma época na qual a produtividade é o que interessa. E, há algo mais ligado ao tempo que a produtividade?Fazer o máximo que se pode em menos tempo, logo termos menos tempo para refletir o porquê de o fazermos. Sem tempo para deleitarmo-nos com o prazer que nos dão as sensações positivas de algo bom. Precisamos de tempo para ter mais tempo na vida. Qual a lógica de trabalharmos incansavelmente para um dia podermos descansar e não, ao contrário, aproveitarmos o tempo, dosando-o melhor?
Enfim, infelizmente, esta é nossa luta diária contrao tempo. Porque esta é a nossa luta pela existência: alongar o tempo para termos o tempo de viver por mais tempo.

P.S: Obrigado pelo tempo dispensado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Dispensar um pequeno tempo para ler as ideias fantasticas de um amigo fascinante como tu nao é colocar nenhuma "gota de tempo escoada" fora...
adorooo^^
bjim

Rodrigo Bentancurt disse...

Obrigado, ju. De coração