segunda-feira, 29 de junho de 2009

Outra vez

A consciência flui de uma maneira que não a conseguimos deter. Porém, às vezes, sem saber o porquê, detemo-nos em algum ponto (paradoxal como a nossa consciência). Para escrever, neste espaço, sento-me, muitas vezes, e deixo passar um leque de idéias, retiro algumas, umas frutificam, outras são colocadas em outro lugar, a fim de que, mais tarde, possa explorá-las, outras, ainda, são postas fora, e, raríssimas vezes, acontece a geração "espontânea" de pensamentos, então fico a escrever sobre isso.
Enfim, ultimamente, este blog tem sido lugar de reflexão sobre a escrita, ou seja, uma metalinguagem barata, e as pessoas que, aqui, visitam não querem saber disso. Peço desculpas e tentarei parar com o vício de desabafo da dificuldade da escrita (quanta preposição!). Contudo, nego-me a falar, novamente, sobre Michael Jackson ou gripe suína, pois esta presentifica meu caráter hipocondríaco, já o célebre cantor teve a morte que ressuscita para a fama (acabei falando sobre o que não desejava falar, essa é a consciência em seu fluxo) embora a gripe suína, certamente, será tema destas páginas outras vezes, assim como os escândalos políticos, a literatura, os sentimentos que nos acossam, porque esses são meus topói.

sábado, 27 de junho de 2009

Contra a gripe suína

Rápida reflexão sobre um tema, baseado em um comentário de minha namorada.
Encontramos um antídoto contra a gripe suína, que estava a deixar em pânico a população brasileira, pois o número de casos vem crescendo de forma assustadora. Para curar o medo, basta que morra uma celebridade. Com a morte de Michael Jackson, a gripe fica em segundo plano. Ninguém deve preocupar-se com sua própria saúde, no momento em que uma pessoa tão famosa, respeitável, sem dúvidas sobre seu comportamento e tão vinculado a suas raízes morre.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

De que mundo?

Qual será o trabalho do sujeito empírico na criação literária? Pergunto isso, porque fico a pensar que colocamos a arte em lugar que estaria fora do real, ou seja, quando nos referimos à arte como ficção estamos colocando-a em um plano de objetos inventados, que não são reais. Costumamos ouvir asserções do tipo: "não é de verdade, é só um romance.", ou "a poesia não faz sentido, é pura imaginação." Certo, mas onde se localiza a imaginação? E o produto dela?
Primeiro devemos deixar claro que, este texto, é de base impressionista, sem suporte teórico, ou quase sem este. Pensemos, na arte, como produto da imaginação humana dentro de uma sociedade, pensemos nas grandes invenções (refiro-me ao carro, ao computador, à tudo que é considerado efetivamente bom dentro da sociedade burguesa) como produto da imaginação humana dentro de uma sociedade. O que torna diferente a televisão do automóvel, o automóvel do computador, o computador de Madame Bovary? Isto é: baseado na problemática da invenção humana. A literatura está inserida em nosso meio, é parte constituinte e construtora da sociedade. A imaginação humana é capaz de criar coisas incríveis, como o Ulises, de Joyce ou Tabacária de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, e todos podemos usufruir disso para um fim "prático", conhecer a literatura.
Portanto, é óbvio que não somente a literatura, mas as artes em geral têm o estatuto de real, e são parte da realidade, pois são invenções do homem como tudo o que nos rodeia, não são de outra dimensão ou de outro mundo e vêm materialmente para nós através de um gênio que faz as vezes de mediador entre esse mundo imaginário e o mundo dito real. O que não vai ser pensado, neste momento, é que se não houvessem sido aqueles homens que criaram aquelas obras, outros teriam-nas feito?


segunda-feira, 22 de junho de 2009

Maravilha!

Maravilha! Passamos muito tempo a dizer que, na sociedade moderna, tudo muda assaz rapidamente. Contudo, aqui no Brasil, não funciona dessa maneira, pois somos um povo ligado às nossas raízes, ressaltamos o valor do indígena e respeitamos os mais velhos.
Pensemos no Senado. O senado romano era composto por um conselho de cidadãos mais anciões, senex e seu nome era senatus. Observemos, a partir disso, como somos um povo intelectualizado, conhecedor da história e respeitamos tal premissa. Collor é nosso senador; Pedro Simon, Renan Calheiros (bastante jovem ainda, mas com longa carreira política), Jarbas Vasconcelos também o são, entre outros. Tivemos Jader Barbalho e ACM com cargo quase vitalício, e temos, ainda, Sarney o pai, o tio, o avô da pátria.
Nossos antropófagos modernistas estariam a regozijar-se, comemos, culturalmente, o de fora a fim de chegar à noção síntese de nosso povo, com o regional/cosmopolita. Observemos. Temos um cacique na presidência do Senado, nada poderia ser mais interessante, é o encontro do quase-âmago da civilização ocidental com a nossa cultura pré-colonial. Alguém que manda em sua tribo, em sua aldeia, e nas adjacências está a sua filha cuidando da oca. Mas, tudo isso seguindo as leis de direito, herança ocidental cujo descarte é impensável. Maravilha! O Brasil é símbolo da convergência de culturas. Somos pioneiros. E suponho que esse comportamento seja deliberado, por parte do cacique, haja vista ser ele um membro da Academia Brasileira de Letras, ou seja, um cacique intelectual.
O poeta, membro da ABL, ex-presidente da república, presidente do senado e, sempre, cacique sabe agir, é um grande político, basta que nos lembremos de suas posições políticas. Sempre esteve na situação, ou seja, é um cacique extremamente diplomático, sabe adequar-se ao que a situação exige, sabe contornar as situações com maestria, inclusive, se necessário, compartilhar, comunitariamente (como em várias culturas ameríndias), o bônus de sua função com os demais pajés. A prova disso é sua declaração de que a crise não era sua, mas da casa. Enquanto isso, os índios de sua família engajam-se, zelam pela pátria (maravilha! Esse senso de doação e solidariedade) empregados em cargos públicos.
Os demais índios ficam em suas ocas assistindo ao ritual de soerguimento da nação em prol do cacique. Opa! Enganei-me, é o cacique que trabalha em prol da pátria, e essa é, provavelmente, uma palavra com um conceito que nós, índios, não o entendamos muito bem. O único problema de nossos senex cacique, ou sênior, é que à medida que a idade passa, a memória começa a fraquejar, e o nosso senador, algumas vezes, esquece-se de notificar o emprego, por parte dele, de algumas pessoas que mantêm com ele relação familiar. Maravilha!
P.S: sem ofensa aos índios!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Irregular

    A
        V
            I
                D
                    A

      É

            C
                    O
                            M
                                        P
L
        E T A
  (M
        E
                    N
T
    E)

IRREGULAR.


Por mais que nos proponhamos a viver o momento, sem planejarmos a vida, sem fazer planos a longo prazo, sempre criamos expectativas, ao menos acordar no dia seguinte para termos o sinal que estamos vivos.
Amigos: pensamos, quando adolescentes, que são os melhores e os únicos que teremos. Precisamos de contato freqüente, para que a amizade não termine; mais velhos, observamos que os verdadeiros amigos sempre estarão por perto quando precisemos.
Amores: Idem + desejo carnal e sempre nos mantemos próximos.
Família: construímos essa relação e sua imagem desde o momento em que nascemos.
A questão é que quando menos esperamos uma pessoa vai-se, e a distância desmancha os planos. Outras morrem e fazem com que a dor transforme tudo o que planejamos. A condição social também altera os planos. Isso vale, da mesma forma, para as condições física, psíquica e biológica. A condição do clima faz resignarmo-nos ou alegrarmo-nos em cumprir a meta, prorrogá-la ou cancelá-la. O tempo que passa, tal como o vento, e leva a vitalidade ou recompõe a nossa visão de mundo, e...t...c...é...t...e...r...a...
Poderíamos mencionar uma gama maior ainda de fatores, porém, por uma irregularidade de escolhas obrigatórias, esses foram os elementos citados, e vemos que, por mais clichê que soe, somos uma gota d`água no oceano.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Feridas

Temos enorme dificuldade de expurgar os nossos lixos, de remoer as nossas feridas não cicatrizadas. Quando a dor acalma e sentimo-nos melhor, tiramos o curativo e não a olhamos mais, em vez de fixar a visão nela, rememorar as suas possíveis causas e, assim, fazê-la desaparecer, ou, no mínimo, ser quase que plenamente apagada.
A dor de amor, por exemplo, é uma ferida que rompe com a racionalidade, impede-nos de agir conscientemente, deixa-nos atônitos, cria uma espécie de pusilanimidade. Porém, o poeta pode ter razão, pois a é ferida que dói e não se sente, mas é essa dor em si que nos deixa em estado de ânimo alterado em relação ao comportamento racional e faz-nos querer esquecê-la. Já a ferida física fica a doer em estado latente, chama-nos a atenção para a sua presença e, quando a esquecemos, deixamos de senti-la. Portanto, é a própria ferida que se mostra e esconde-se.
Mas quando nos impedem de sangrar a ferida que está aberta no seio da pátria, que fazemos? Que faremos? Que fizemos? Calamo-nos como o fazemos agora, calar-nos-emos e permaneceremos calados, porque assim sempre o fizemos. Somos um povo calado de curtíssima memória. Somos um povo facilmente manipulável. Somos assim e somos hipócritas e egoístas por não o admitir, por culparmos o outro e dizer que fazemos a nossa parte. Se o que julgamos ser a nossa parte não surte efeito, estamos sendo, historicamente, incompetentes, ou a nossa parte é maior e não conseguimos abrangê-la em sua totalidade.
Este ano, comemoramos (e devemos comemorar realmente) vinte e cinco anos do fim da ditadura militar no Brasil. E os desaparecidos? E os assassinados? E os que perderam seus empregos ou a sua pátria? E os que foram torturados física e/ou psicologicamente, a fim de que pudéssemos gozar desta "liberdade"? Essa é uma ferida aberta e poderia ser expurgada plenamente, com todas as restrições que essa generalização possa acarretar, pois muitos dos causadores dessa dor ainda vivem e, paradoxalmente (ou não), isso impede a apuração de diversos fatos. Então, olhar para essa ferida, trazê-la à tona poderia ser a redenção, mas, simultaneamente, é o impedimento. É o que cobre a ferida com panos quentes. Aí está mais um atestado de povo calado que somos, e essa é uma ferida que dói por si, contudo, não é curada por culpa dos que a originaram.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Falou e não disse

Está frio, não é?
Pois é, bastante.
Será que chove?
Parece. Está meio úmido.
È.
È sim.
Então, tá.
Falou.
Como em todas as situações nas que não se têm muito a dizer, fica-se a abusar da função fática da linguagem, ou seja, essa tentativa de estabelecer um contato ou mantê-lo. E assim está a postagem de hoje. Uma porção de palavras que muito não dizem.
Pensar sobre determinados assuntos e escrever sobre eles, compartilhá-los vistualmente é um bom exercício para saber realmente como organizamos o nosso pensamento em discurso e como os demais o recebem. Então, da mesma maneira, parece-me interessante falar sobre o não saber acerca de que falar. Todos que, de certa forma, lidam com a escrita, passam por esses períodos. Teríamos diversos assuntos sobre que falar, porém as idéias não se concatenam, não conseguimos expressá-las, ou os temas fogem-nos. Assim são as coisas, assim é a vida. Porém, o que me chama a atenção, em diálogos como o escrito acima, é a maneira de se despedir dos jovens, assim como eu, com esse "falou". Exatamente, não se poderia usar outro signo, pois somente se falou, sem se dizer nada.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Apatia globalizada

Às vezes, por uma espécie de resíduo de um pensamento colonial, temos a idéia que, na Europa, as coisas são diferentes. Na metrópole, os valores são mais fortes, porém enganamo-nos. Basta vermos Berlusconi.
A farra do primeiro ministro italiano não é o tema da postagem. O povo italiano não se revoltou com a orgia do governante. Certos estão, pois seria hipocrisia puritana condená-lo por essa razão. Os italianos revoltaram-se, porque o dinheiro, ou parte deste, gasto, na festa, era público. Este projeto de Mussolini que governa a Itália, recentemente, sancionou uma dura lei contra emigrantes na sua península. Mas, o que mais nos deixa intrigados é a apatia do seu povo, cuja revolta não se torna manifestação pública, protestos, pressões. Observamos, então, que a inércia, como quase tudo no mundo, está globalizada. De fato, uma pena.
Cá temos as palmeiras, as aves que gorjeiam, e temos casos e mais casos de casos arquivados, sem que a população tenha a simples curiosidade de indagar sobre investigações e tentar apurar, esclarecer os fatos. Tivemos um PC Farias morto em condições obscuras, tivemos uma ditadura já esquecida pela população, temos um presidente que não sabe de nada, aqui, no RS, temos uma governadora que tem alguns bens de valores que ela não teria como pagar, para citar apenas alguns fatos. Mas não há problemas. Damos um jeitinho, empurramos com a barriga e as coisas ficam bem. Estamos a viver na globalização da apatia. Não podemos nos preocupar com "situações que não nos dizem respeito". Pois, afinal, conflitar é muito estressante.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Eus

Somos todos sujeitos inéditos, únicos, irrepetíveis. Somos um com caractrísticas e escolhas peculiares que nos tornam o que somos. Contudo, somos muitos em um só. Somos o resultado das experiências malogradas e das exitosas. Somos o que vamos recolhendo e o que nos modifica. Somos, concomitantemente, diferentes e iguais a nós mesmos.
Ninguém é igual. O máximo que podemos ser é semelhantes aos outros cujas características espirituais, morais, sentimentais, aproximam-nos, por termos trajetórias parecidas. Ora, isso aparenta ser bastante lógico, portanto não haveria necessidade de pensarmos acerca de tal assunto. Porém, somos diferentes de nós mesmos. Somos um uno idivisível dividido, um receptáculo de nós. Somos os mesmos, em essência, de quando tínhamos três anos, quinze, vinte e cinco ou sessenta, mas, se pensarmos um pouco, vemos que somos outros, ou pelo menos deveríamos ser. Sinto, hoje, que as pessoas de quinze anos são mais parecidas comigo de quinze anos, do que eu, hoje, comigo mesmo quando tinha quinze anos. Pois, assim flui a vida. Temos fases, gostos, vontades, desejos, repressões, esperanças, desilusões típicas da fase que vivemos, e isso nos faz diferentes dos outros e de nós.
Essas diferentes representções de nossos eus fazem-no crescer e mudar, fazem-nos ser quem somos. Nossas escolhas levam-nos a caminhos diferentes e a construirmos a nós mesmos de forma diferente. Quando fazemos uma escolha, e sempre as fazemos, abrimos mão de um leque assaz significativo de caminhos, ou seja, estamos a forjar-nos de uma maneira em detrimento de outras, e assim somos o que somos, pelo fato de sermos outros. Mas, a cada escolha, modificamo-nos e transformamo-nos em outros, agregamos experiência, absorvemos a vida e o que nos redeia.
Então, a pesar de sermos os mesmos, somos outros. Somos o conjunto de eus que nos constituem. Somos a estrutura em aberto do que depositamos em nós. Ou seja, tautocronamente, somos o que fomos, pois isso é que nos faz ser quem somos, e não somos quem fomos, porque se a essência é a mesma, o restante é diverso. Isto somos: seres fragmentados de seres em um único ser. Somos a união na diversidade.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Espera

Todos sabemos, se não conscientemente, ao menos inconscientemente, que o tempo é relativo. O tempo de prazer voa como as ondas do mar vão e vêm, renovando a sua água, o de espera passa lentamente como a água de uma lagoa que parece ser sempre a mesma.
Os momentos de espera fazem com que o ponteiro veloz do relógio desempenhe sua função sem direito a gratificações. As esperas, em nossa vida, são tão paradoxais e antitéticas como a própria vida. Há a espera por nascer, não dos que vivem intra-uterinamente, senão dos que estão já neste mundo, ou seja, a espera pela vida é dos que vivem, e quem ainda não o faz, também não espera. Há, também, a espera pela morte e esta sim é esperada pelos que vivem, então quem nasce espera a morte, e a vida é espera. Mas, dentro dessa espera, temos de esperar outra gama de iminências. Esperamos a pessoa amada, esperamos uma derrota, esperamos a vitória, o grito de gol, a partida e o regresso. Esperamos ter uma grande idéia, que mude a nossa espera, ou melhor, a nossa vida. Esperamos o afago e a rejeição. Esperamos que o momento desejado chegue logo, para, no momento em que acontece, termos a espera(nça) de que demore e não se esvaia por nossos dedos para tornar-se lembrança.
Então, como a natureza é cíclica, volto ao início. A espera é angustiante, o prazer rápido, veloz e inefável. Porém, se a vida é espera, espero que essa espera seja extremamente longa.