quarta-feira, 31 de março de 2010

Qual a diferença?

Em uma aula de latim, conversávamos sobre a Fíbula de Preneste, uma fivela cujo valor é de ser o primeiro documento escrito em língua latina, na qual estava escrito “Manius me fecit Numerio” e que Manius nunca imaginaria que seria responsável pela primeira escrita conhecida em latim, a qual é de, aproximadamente, 600 a.C. Feita essa introdução, seria interessante abordar o tema da postagem de hoje: que diferença fez isso na vida de Manius? Viveu como um trabalhador e morreu, como acontecerá a todos que ainda existimos. Talvez, tenha sofrido, talvez, tenha sido infeliz, talvez, não.
A questão é que Cristo é conhecido por todos como um homem maravilhosamente bom (alguns acreditam ter sido Jesus mais que um homem, um semi-deus, com poderes divinos); Hitler é conhecido por todos como um homem terrivelmente mau (alguns acreditam não haver acontecido o holocausto e por isso Adolf não seria tão mau); Ricardo, o entregador de jornais na década de 50, é conhecido por alguns como um homem normal (alguns acreditam ser ele uma pessoa boa, outros pensam, exatamente, o contrário). Enfim, temos três personagens, mas poderiam ser os bilhões de pessoas que já habitaram a Terra.
A partir deles, perguntemo-nos: o que os faz, ou fê-los, diferentes em vida, isto é, para vida deles? Quem afirma que um deles foi mais feliz que o outro? Que alguns viveram sem angústias e os outros na agonia? Que uns sofreram mais que os outros? Ninguém poderá fazer tal afirmação, pois ninguém o saberá. O reconhecimento póstumo não muda a viva vivida de ninguém, o conhecimento em vida traz alegria por uns momentos, contudo não muda, drasticamente, a existência do ser. A transcendência, através das ações ou das letras, não nos faz melhor ou piores. Talvez, o esforço, para conseguir viver feito por Ricardo, tenha sido muito maior que o de Cristo, e Ricardo não tem uma linha nos livros de História.
Portanto, o ponto crucial da existência, quiçá, seja não se preocupar com a transcendência, senão existir vivendo, fazendo o que se gosta, pensando no presente, evitando desgastes desnecessários, veja bem, não se menciona falta de esforço para conseguir o que se quer, mas fazer de tudo para conseguir o que se quer; e se o desejado é atingir a transcendência, que se lute por ela, porém não nos enganemos, isto não nos fará melhores nem piores, afinal todos acabaremos da mesma forma: acabando.

segunda-feira, 22 de março de 2010

De onde vem?

O que desperta um sentimento? O que faz outro adormecer? Sobrepõem-se uns aos outros em estado latente à mercê do acaso ou desaparecem e tornam a aparecer às vezes? Como sempre, respostas não são fáceis de serem dadas em qualquer campo da existência humana. Contudo, discorrer e refletir sobre fatos, pois sentir também é um fato, faz-nos construirmos uma idéia melhor sobre eles.
Os sentimentos são, ao que parece, uma bomba prestes a ser detonada, esperando uma fagulha para acender-se. Algo os desperta, algo os faz adormecer. Talvez, sejam como a visão. Quem não tem problemas visuais pode enxergar. Isso parece ser de uma redundância horripilante, mas relativizemos. Sem a luz, podemos ter a capacidade de ver, no entanto não o conseguiremos, pois temos a necessidade desse conjunto de fatores para usufruirmos o dom da visão. Assim, cremos, são os sentimentos. Necessitam de algo para desencadear-se em uma sucessão infindável de sensações. Observemos que, mais uma vez, falamos dos sentimentos, porém não pretendemos explicá-los, haja vista o mestre Sartre haver apenas escrito um esboço sobre eles, que maturidade temos para ir mais além?
A questão é a sobreposição de um ao outro. Não deixamos de estar felizes porque estamos tristes, senão a tristeza foi mais forte e empurrou a felicidade para o fundo poço do coração ou vice-versa. O primeiro problema dos sentimentos e sua sobreposição é o fato de serem arredios, impertinentes e controversos. Destarte, aparecem sem serem convidados, recusam-se a sair e contradizem-se o tempo todo. Entretanto, não os vejamos, simplesmente, como negativos, porque quando chegam e fazem-nos sentir bem, são as visitas inesperadas e agradáveis que queríamos há muito tempo. O segundo problema dos sentimentos é o que carregam consigo, isto é, um punhado enorme de sensações. Difícil explicar a diferença, contudo, tentemos. Os sentimentos seriam um gênero do qual fazem parte sensações que não têm fronteira fixa, podendo migrar de um ao outro. A ira desperta a raiva, o rancor, a sensação de impotência, de vingança de menosprezo. O amor, a de felicidade, de ansiedade, de desejo, de... tudo. Bem, talvez, as sensações não sejam um problema, senão uma necessidade dos sentimentos.
Enfim, não se conseguiu explicar nada, o que é comum neste espaço. Contudo, logrou-se pensar sobre os sentimentos e perceber que sempre estamos sentindo através das sensações, afinal estamos vivendo, e viver é sentir. Se soubéssemos o que desperta um sentimento e faz outro adormecer, poderíamos controlá-los, mas então a existência seria bem menos confiável e prazerosa ou dolorida. Sim, dolorida, pois a dor faz-nos viver, andar para frente, querer livrar-nos dela, mas para quem goza da felicidade, aproveitemo-la, embora sem saber de onde vem.