quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Faroeste Gaúcho

Volto a postar depois de algum tempo e, infelizmente, um assunto triste que não se pode calar. Claro que o assunto é triste para mim e para todas as pessoas que nasceram, viveram ou sentem um carinho especial por Santana do Livramento, eu, particularmente, encaixo-me nas três categorias. O descaso, a má-educação e a falta de perspectivas são os tripés desta cidade.
A cidade está suja como nunca. Não, apenas, pela quantidade de lixo jogado nas ruas pelos habitantes e os turistas que vêm visitar a vizinha Rivera no Uruguai, mas também pela greve dos lixeiros cujos altíssimos salários estão atrasados há algum tempo. Certo eles, ganhando uma miséria para fazer um trabalho, literalmente, sujo, mas indispensável, não só em relação à estética, como também à saúde. Esse crime contra a população retorna em violência urbana, se é que esta cidade ainda mantém qualquer traço de uma urbe. Casas, pessoas, comércios sendo assaltados. Assassinatos por discussões banais. Tudo tão complicado.
A cidade atrasada no tempo e a mentalidade das pessoas também. Há um concurso de falta de respeito em todas as esferas, mas a mais perceptível é no trânsito, no qual pedestres e motoristas disputam páreo a páreo quem leva o prêmio de cidadão má-educação! As pessoas julgando qualquer comportamento que não faça jus ao modo de vida que se deve levar aqui: vive muito de aparências. Não tenta parecer o que tu és, mas aparenta o que os outros querem que tu sejas, nem que para isso seja necessário o total abandono da tua personalidade.
Mas isso tudo é explicado. A falta de horizontes dos que vivem aqui é de dar pena. Não há empresas, o comércio é deplorável. E tudo contrastando com Rivera que, pela queda do dólar, progride. Bem, Livramento foi uma das únicas cidades do estado do Rio Grande do Sul, na qual a população diminuiu. Se alguém quer algo, deve sair daqui.
Triste, melancólico, imperdoável, ver a cidade onde nascemos, crescemos, conhecemos pessoas, fizemos amizades que duram até hoje, nesse estado lamentável. Tomara, tomara, tomara que algo de bom aconteça neste lugar esquecido pelas autoridades, esquecido pelas pessoas que não respeitam a sua própria casa, e para os que acreditam nele, esquecida por Deus.

sábado, 12 de dezembro de 2009

E agora, José?

E agora, José?
O fim de semestre chegou,
A atividade aumentou,
O tempo sumiu,
O blog parou,
E agora, José?

PS: Temporariamente.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Mais uma vez!

Oba! Mais um escândalo político no país. O congresso e as assembléias legislativas são a Disney da corrupção. É incrível, ou melhor, é, completamente, crível esse tipo de fato em nossas terras. Políticos fazem o que querem como querem, então todos dizem que isso é problema da impunidade. No entanto, e a impunidade das urnas cujos juízes somos nós? Essa também fracassou há tempos.
Quem fizer um trabalho de garimpo, na internet, poderá observar os discursos dos tucanos e dos democratas na época do mensalão. E, agora, a menos de um ano das eleições vêem-se imagens, que, por sinal, não dizem nada, de dinheiro em meias. É interessante ver como os acessórios estão bonitos, nessa moda corrupção Brasil, enfeitados com peixes e onças das notas de cem e cinqüenta. O discurso dos Democratas é rígido, firme, categórico. Claro que o fazem pelo curto prazo para as eleições. Expulsam algumas cabeças que já estão na forca e saem com a imagem irretocável de partido sério que pune os corruptos, pois ninguém se lembrará de que esse era o partido de ACM. Não se sabe onde é direita ou onde é esquerda. Não se tem um porto seguro para atracar. Então o cidadão desilude-se e não dá importância ao cenário político.
Entretanto, o pré-requisito para desiludir-se e cansar-se com a política é haver-se iludido, alguma vez, e ter-se desgastado, e esta geração não moveu sequer uma palha para sentir-se cansada. Bem, nossa geração já nasceu cansada. Na era do tudo pronto, observar, pensar e chegar a alguma conclusão cansa em demasia. Daí, chega-se ao mais banal do senso comum: “político é tudo igual”, “só tem ladrão”. E baseado nessas proposições, chega-se a lógica, extremamente arguta, do: “vou deixar alguém que não eu fiscalize, vote, decida. Não vou reclamar muito, em voz alta. Só vou reclamar pros amigos e xingar que isso eu sei fazer.” Que perspicácia! Sou capaz de apostar que mais de 70% dos eleitores não se lembram de seu voto integralmente, de presidente a deputado estadual, e 90% não faz a mínima idéia do que fizeram seus deputados e senadores nos últimos anos. E agora vemos o retorno, aliás para algo retornar deve haver partido alguma vez. Logo, vemos a massificação (esse é o termo) dos acontecimentos referentes a mais um mensalão, mas desta vez os papéis inverteram-se: os acusados passaram a acusadores e vice-versa.
E assim seguiremos pelo resto dos tempos, pois, há a democracia eleitoral, e nós somos os juízes que não culpamos ninguém. A impunidade no nível judiciário e no popular leva a isto: um país inteiro às cegas, de olhos vendados empurrando a culpa para o cego ao lado. Somos concretização do Mito da Caverna. Enfim, no Brasil, não votamos, torcemos, como no futebol, por um candidato ou por outro e reclamamos do árbitro, sem nos darmos conta que, em última instância, os árbitros somos nós. E alguém duvida como esse filme vai acabar? Em: pizza, bambino, pizza!

PS: no Uruguai, há dois domingos, elegeu-se presidente José Mujica. Esperamos que continue com a importante, necessária e coerente mudança do país. Temos plena confiança nele.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Poços secos

Somos poços com água que verte incansavelmente e é extraída para ser bebida por outros. Somos seres cognitivos com idéias expressas através do discurso. Embora a água verta sem descanso, cabe uma pergunta: pode o poço secar?
Em um primeiro olhar, a resposta óbvia é não. Ninguém, salvo uma catástrofe neurológica, parará de pensar, pois estamos sempre pensando mesmo que não o percebamos. O que devemos saber é como se esgotam as ilusórias idéias de estarmos dizendo algo nosso. Ilusórias porque somos um mosaico de referências cuja extensão vai desde a percepção do mundo até como articulamos o que conhecemos, porque, inclusive, quando negamos algo, temos um ponto de contato com algo de outrem (um outrem que pode ser nós mesmos). Esgotadas porque não conseguimos articulá-las e justificá-las como nossas. Não conseguimos dizer nada a respeito de algo.
Muitas vezes, há tanta água que não necessitamos jogar o balde no poço, ela encharca a terra e começa a ser jorrada ao mundo que nos cerca. Contudo, há tempos de escassez. O balde toca no fundo do poço, sente a terra como árida e volta vazio. A água escondeu-se, fugiu-nos. Sabemos que ela existe, porém não a encontramos. Desconhecemos o motivo pelo qual não obtemos a concatenação do que temos em nosso intelecto. Nada nos desperta o interesse para que articulemos idéias e exponhamo-las, pois o pouco senso crítico de que desfrutamos está abalado. Sim, porque termos a ilusão de sermos os donos de uma idéia, de termos opinião própria que pode ser compartilhada por outros, não é mais do que tomarmos um objeto, entenda-se este como um fato, uma lembrança ou algo material, e refletirmos, confrontarmo-lo com o que já está internalizado, para descrevê-lo, concordar ou discordar com ele. Assim, provavelmente, não temos uma crise de criatividade, senão de senso crítico.
Enfim, esses fatos ocorrem, muitas vezes, em nossa vida, mas problema é que eles nos assustam. A angústia de sentir-se seco por dentro, desertos esperando por água, poços aguardando infiltração, aterroriza-nos e faz-nos pensar que não seremos molhados outra vez.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Saudade

Convivemos com as pessoas, temo-las ao nosso lado durante anos a fio. Depois, vem o distanciamento que é natural, pois as vidas sempre seguem rumos distintos. A falta da convivência que, outrora, era a base do que nos rodeava, faz com que a saudade invade-nos. A presença da ausência é angustiante. O desejo não realizado de estarmos com quem desejamos, faz o coração ficar apertado e as lágrimas rolarem com a simples lembrança. Não falemos, somente, da morte de pessoas queridas, mas da distância física que o vasto mundo nos impõe. Sejam homens ou mulheres, a saudade é o sentimento mais poderoso e mais eficaz em relação à desestruturação emocional de cada um. Aquela frase, muito usada em séculos passados que homem não chora, tinha uma exceção, as lágrimas advindas pela saudade. Esta projetada ou rememorada faz, como todo o sentimento, que a sintamos sem, necessariamente, sentirmo-la. O que é, senão saudade projetada, o sentimento que nos faz cair em prantos quando pensamos na futura morte de alguém que amamos? Esse denso desespero é fruto da consciência que poderemos seguir a existir privados da pessoa a quem queremos. Quando nos lembramos de que já sentimos saudade, ela retorna como saudade. Embora esse fato aconteça com todos os sentimentos, a saudade dói, pois ela desencadeia uma série de outros sentimentos negativos.
A saudade deixa-nos impacientes, angustiados e aflitos. Corrói-nos o coração essa ausência. Não conseguimos respirar quando somos sufocados por essa fenda incipiente ou antiga. Pensamos, simplesmente, na ausência do ser amado, da vida que tínhamos ou do lugar onde vivemos. Limpamos as imperfeições, polimos e deixamos perfeito o saudoso, aumentando, destarte, a saudade. Claro, que saudade é uma bela palavra, cheia de significados, mas o sentimento saudade é terrível. A saudade é uma ponte que se faz de nosso coração até o sujeito amado. Uma ponte não tão pequena para ser cruzada imediatamente, nem tão longa que impeça a visão daquilo que sentimos saudade. E, à diferença de outros sentimentos, a saudade é duradoura, e a angústia que ela nos causa também o é.
Porém, ouvimos asserções que a saudade, somente, é boa quando estamos prestes a matá-la. Discordo! A saudade nunca é boa. O bom é a projeção de que, em breve, não a sentiremos mais. Logo o positivo não reside sobre a saudade, mas sim, sobre a expectativa de sua dissipação.
Portanto, somos reféns da saudade, salvo em casos que ela pode ser, rapidamente, exterminada. Contudo, na maioria das vezes, ela se instaura em nós, porque sabemos da dificuldade e dos empecilhos que nos impossibilitam tal concretização. A saudade de pessoas que estão longe, podemos matá-la desvencilhando-nos dos obstáculos, isso serve também para os lugares, os objetos, mas há duas saudades de pior trajeto: a do que fomos outrora; e a única, realmente, impossível de ser quebrada: a dos que já se foram, pois a ponte rompeu-se no meio do caminho e vemos, apenas, a pessoa saudosa sem que possamos abraçá-la. Mas o pior de tudo é que, com o passar do tempo, uma bruma vai formando-se, tornando a pessoa, mera, lembrança da lembrança, sem que saudade diminua.