terça-feira, 29 de setembro de 2009

Humanas

Temos requerimentos sociais sempre. Embora não concordemos com diversos aspectos da demanda social, devemos cumpri-los afim de conseguirmos viver. Se não concordamos com o pragmatismo, devemos, diversas vezes, ser pragmáticos; se não concordamos com o capitalismo, temos de receber o salário proposto pelo patrão; etc.
Como já se mencionara em outra postagem, não podemos viver em uma redoma de vidro, pois necessitamos de aceitar múltiplos fatos que não queremos e relegar, a um segundo plano, coisas que, deveras, agradam-nos. Então, entramos na crise de identidade que sofrem todas as carreiras da área de humanidades. Pois, o que fazemos não serve, pragmaticamente, para esta sociedade, por conseguinte tornamo-nos loucos, vagabundos, imprestáveis. Contudo, o que fazer com o conhecimento acumulado? Há diversas pessoas que buscam um fim prático para isso e enjaulam-se em um discurso cujo teor não corresponde, plenamente, aos pragmáticos e, simultaneamente, distancia-os de sua área original das humanas. Sigamos com os poréns. Entretanto, outrora, pela forma como se tinha a concepção de mundo, por parte dos sujeitos ou, mais antigamente, dos indivíduos, era possível enriquecer o intelecto. Atualmente, isso de nada serve se não se ganhar dinheiro. Assim, não somente os valores intelectuais, se não também os de caráter, os morais são rechaçados para cumprir-se o objetivo de angariar fundos para si.
Essa crise de identidade se agrava (claro que menciono isso porque estou imiscuído nesses fatos), principalmente, com quem trabalha com artes. A literatura não tem uma razão de ser, no senso comum, que não seja o entretenimento, então para que alguns estudam a diversão dos outros? Não se deve procurar na literatura algo mais que ela mesma. Todas as formas e expressões, representações e transfigurações que ela carrega consigo podem levar-nos a uma série de arquétipos tão antigos quanto a própria literatura, porém esta nos mostra sempre, ou melhor, tem em estado latente a visão de mundo do sujeito criador. Destarte, podemos aprofundar uma citação de Friedrich Engels, na qual afirmava ter aprendido mais sobre a história da França lendo Balzac que em livros de história. Essa afirmação vai além do realismo (ponto discutível)da obra do escritor francês, pois denota que se podia apreender a visão dos sujeitos sensíveis aos acontecimentos contemporâneos a si. E o que se está a esquecer é essa importantíssima dimensão não só da literatura, mas das artes em geral.
Por sua vez, esse esquecimento traz consigo conseqüências trágicas à sociedade. Observemos a falta de escrúpulos de grande parte dos políticos, a corrupção presente em todos os níveis da estrutura social. Entramos em um círculo vicioso, porque o pragmatismo afasta-nos de nossa essência humana e, afastados, tornamo-nos mais pragmáticos ainda. Solução? Não tenho idéia, afinal não posso perder muito tempo pensando, pois tenho mais o que fazer!

sábado, 26 de setembro de 2009

Estamos sempre presos

Questionamos o mundo ou questionamos a nós mesmos? Talvez, a ambos. É-nos complicado pensar outro modo de vida diferente do que levamos. Não um pensamento referente a como seria minha vida se eu fosse palestino ou mulher, mas pensar em um mundo cuja estrutura fosse completamente distinta da nossa.
Se pensarmos que o berço da civilização ocidental é a Grécia, deveríamos refazer a trajetória de toda a herança cultural por ela deixada e observar que pontos cruciais modificariam nossa construção sócio-cultural. Contudo, podemos pensar nos gregos como herdeiros de uma cultura africana e que os postulados culturais tivessem-nos chegado por meio desta. Mas, há, ainda, mais uma questão de forte pressão que nos levou a ser o que somos: o cristianismo, ou o legado judaico-cristão. Pois, o monoteísmo exerce a exclusão, o rechaço dos deuses, o que nos leva sempre a termos escolhas que converjam para o único, que se trabalhem com eleições nas quais a vitória de um é a dissipação do outro, que não consegue conviver, harmonicamente, com as diferenças. E se o monoteísmo comporta tais características, o cristianismo acentua-as. Pensemos, por exemplos, nos mouros que durante oito séculos ocuparam a Península Ibérica, eles conviveram, pacificamente (termo que deve acarretar diversas restrições), com os habitantes do lugar, permitindo os cultos religiosos, as manifestações culturais, etc, recíproca que não ocorreu, por parte dos cristãos, no momento da reconquista.
Mas a questão é que estamos arraigados aos paradigmas construídos ao longo da história e herdados por nós. Isto é, podemos questionar tudo, pois nada é natuaral (falo em relações sociais), mas não modificaremos quase nada, se conseguirmos modificar algo. A primeira mudança do ser é a interior, mas, por mais que questionemos, mudaremos, apenas, uma pequena parcela, haja vista a impossibilidade de mudarmo-nos totalmente. O que está dito é: pensemos, questionemos, para exercitarmo-nos intelectualmente, para buscar compreender como o mundo funciona, para tentar mudar algo com que não concordemos, mas não nos esqueçamos de que sempre estamos presos a diversos paradigmas sócio-culturais.
"... obedecer é mais fácil que entender. Era? Não sou cão, não sou coisa. Antes isto, que sei, para se ter ódio da vida: que força a gente a ser filho-pequeno de estranhos..."
Grande Sertão: Veredas. Guimarães Rosa.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Quem somos?

Nunca sabemos, nem saberemos, de fato, quem somos. Temos uma percepção, extremamente afetiva, de nós mesmo. Isto é, relativizamos os acontecimentos, as ações e percebemo-nos tendendo ao que queremos ver de nós mesmos. Isso funciona da mesma forma para com os outros. Tencionamos acreditar em quem temos mais simpatia, em perceber a pessoa como desejamos que seja. Também os fatos, tomados como referentes, contamo-los como cremos e queremos tê-los visto. Ou seja, tudo é projeção.
O ser humano, tende a falar em verdade de um acontecimento porque o relata "tal como sucedeu". Mentira! Nunca encontraremos verdades, simplesmente partes suas e que consiguiremos que se sobreponham, se não como a única, pelo menos como a mais legítima, através de um bom discurso argumentativo. Bem, pensarmos em relatividade de percepção dos fatos não é problema algum, a questão problematiza-se se nos pensarmos como fatos exteriores a nós mesmos. Quebramos diversas categorias subjetivas, sem descartá-las obviamente, para projetarmo-nos a nós próprios como um referente externo.
Nosso defeitos não nos incomodam, nossas virtudes são as mais positivas possíveis. Percebemo-nos como a melhor pessoa existente e não compreendemos, na maioria das vezes, como gostos, valores, formas de ação podem distar tanto das nossas. Definimo-nos como alguém mas essa definição que, parte da subjetividade, observa-nos como algo exterior, ou seja, vemo-nos, afetivamente, como alguém. Por que afetivamente? Porque tendemos, quase que na totalidade das vezes, a ter razão, pelo menos para nós.
O problema que os outros têm percepções, muitas vezes, completamente, diferentes de nós e de si. Destarte, somos tantos quantos podemos ser percebidos. Nenhum ser percebe o mesmo fato de maneira exatamente idêntica, se nós somos um fato também, logo somos percebidos de forma diferente por cada um inclusive por nós (sem desejar ser cartesiano). Mas se somos tantas pessoas, uma para cada um, qual será o nosso verdadeiro eu? Que percepção estará mais autorizada? Para isso não há respostas. O único que podemos mencionar é o fato de sermos a pessoas que mais tempo está conosco embora conhecermos e convivermos mais tempo com nós mesmos não é legítimo para afirmar que somos assim, pois somos "assins". Então, somos sombras de nós e nunca sairemos da caverna.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Nosso destino

O destino pode ser uma trama feita a priori ou a resolução de cada ser, em cada uma de suas escolhas, dia após dia. Se o destino for algo predeterminado, quem o predeterminou? Se for algo criado por nós, através de nossas eleições, o que as determina? Sim, sempre há determinações, não somos livres, nunca o seremos. Ou seja, a liberdade não existe, isso sempre é reiterado neste espaço. A questão é: desde já excluímos a primeira hipótese, pois não há uma entidade superior, supra-humana que teça os fios das teias. Resta-nos a segunda opção.
Se pensarmos que somos produtos de nossas escolhas, teremos um obstáculo (a vida é cheia de obstáculos e não seria diferente escrever sobre a existência. Duvidemos de qualquer explicação simplista, em linha reta): o que nos faz gostar disto ou daquilo, o que nos leva a sentirmo-nos atraídos por tal escolha? Pierre Bourdieu tem uma excelente teoria sobre o tema: somos resulatado de nossa trajetória, a questão é que a determinamos, ao passo, que somos determinados por ela. Sentimo-nos atraídos por um "campo" através da "ilusio", e assim damos lugar à ilusão e ao acaso para formar nosso "habitus". Dessa forma somos socialmente determinados e determinamos a sociedade. Explicação satisfatória, contudo apovorante, pois somos forjados por esta sociedade e somos, simultaneamente, seus formadores.
Experienciamos um momento terrível, tanto no âmbito nacional como no global, haja vista a globalização aproximar-nos tanto as mazelas e afastar-nos os ganhos, porque estes são para poucos, pouquíssimos, como sempre o foi. Na nossa América Latina, mas em especial no Brasil, vivemos um momento crítico. A euforia pelo fim da ditadura militar criou uma ilusão de democracia e uma sensação confusa entre liberdade e falta de alguns limites. A liberdade, somente é plena (com todas as restrições que esse termo abarca) se não cercear a liberdade dos demais, porque, na democracia, todos teríamos o direito a ser livres, e a liberdade de alguns não pode acarretar restrições a outros. Nessa senda, estamos a viver um momento limite cujo desfecho pode ser terrível.
Alunos batendo em professores, professores despreparados e sem o conteúdo necessário para modificar a sociedade, a expansão universitária que cada vez nivela mais por baixo os futuros condutores da nação, pois quase não há seres críticos capazes de discernir o porquê chegamos a tal ponto, roubos e assaltos ocorrendo na frente de policiais e os direitos humanos dando liberdade para alguns e, de forma tautócrona, cerceando a liberdade dos outros. Essa quebra de respeito pelas autoridades não serve em uma sociedade capitalista. Se queremos liberdade devemos buscá-la de outra forma, em outro sistema. Não sei em qual, mas os que temos estão esgotados. Nessa senda, desdobram-se outros problemas: cada vez com menos seres críticos, mais distantes ficamos de uma proposta, de uma teoria, de um corolário contundentes para modificar a atual situação. Isso pode desencadear um processo de retorno ao passado histórico e a nova instalação de ditaduras, com grande suporte popular.
Devemos rever conceitos, repensar nossa situação, pois nosso futuro, assim como o nosso passado, são execráveis e a ilusão de que estamos, momentaneamente bem, é a pior das mazelas. Se estamos de olhos fechados, abramo-los e coloquemo-nos a pensar, a respeitar, a vislumbrar a totalidade da sociedade e como essa liberdade é uma ilusão, um circo para quem não tem pão. E a solução pode estar mais próxima de nós do que, deveras, acreditamos embora não seja simples. Mudemos relações cotidianas e, com o passar dos anos, mudarão as relações de poder institucionalizado. A corrupção existe em todos os níveis: furar uma fila, não devolver um dinheiro que nos dão para mais são formas de corrupção em nossa esfera. Repensemos sem, entretanto, tentarmos ser politicamente corretos, isso é hipocrisia, respeitemos aos demais que já nos basta e assim poderemos ser "livres" em nossas escolhas e reponsáveis por nosso destino.
P.S.: Não quero soar retrógrado, muito pelo contrário. Sejamos a vanguarda da liberdade, compreendendo o que esta significa e como podemos ser mais autônomos perante si.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Diminui ou não

Recomeçaram as aulas, recomeçou a rotina agradável dos afazeres acadêmicos. Diversas cadeiras sendo cursada, projeto em andamento, aulas particulares que dou. Por essas razões, PROVAVELMENTE, as postagens fiquem mais esparsas, contudo farei o possível para que isso não ocorra. O problema é a cabeça focada em diversas ações que, muitas vezes, não têm razão de ser neste espaço. Assim, resta-me pouco tempo, infelizmente, para refletir sobre os demais temas que nos cercam e freqüentam, de praxe, este espaço. A reflexão não pára, o que diminui, na verdade, é o tempo para transformá-la em discurso, medianamente, organizado. O pensamento toma quase a totalidade do tempo, e a escrita toma o resto.
Desculpo-me, desde já, se as postagens passarem a ser semanais. Porém, não acreditem, muito cegamente, no que digo, pois a incoerência e a contradição são marcas do blog, do autor; e poderia ser de outra forma? Não, porque a vida é assim: contraditória. Talvez, continue a escrever, como vinha a ser, duas vezes por semana, e esta postagem seja, apenas, um subterfúgio empregado para suprir a ausência de palavras. Não o sei. Somente o tempo ou a falta deste é que o dirão.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Nós e o mundo

Tentemos entender algo, isso já é suficiente. A existência foi declarada aqui, diversas vezes, complexa demais para ser compreendida, então tentemos entender o mundo. Como estamos afetivamente envolvidos com ele? O que somos nós, em pequenez, perante a sua grandeza? O que mudamos nele, e o que ele muda em nós? Creio que nenhuma dessas peguntas será respondida, contudo façamos uma reflexão acerca de tal tema. Uma reflexão, por assim dizer, mais ligada ao senso comum, isto é, não lançaremos mão a Piaget, a Vigotsky ou a qualquer outro que trate do assunto.
Somos parte do mundo, logo somos o mundo. Esse corolário pode levar a uma reflexão sofismática, mas não é esse o desejo que está presente nesta postagem. Somos todos, portanto, responsáveis pelo estado no qual o mundo se encontra. Obviamente, desde o momento em que o homem começou a agir sobre a Terra instrumentalizando-se para otimizar a produção de que necessitava, passou, também, a criar novas necessidades e deixou de viver em estado natural. Isto é, selvagens que vivem em estado natural são mitos, haja vista que, desde o uso de um pedaço de madeira para alcançar uma fruta, em uma alta árvore até o uso de qualquer norma social como não andar nu, embora faça muito calor (não remeto diretamente ao último Freud) são usos de objetos não inerente ao homem, cada qual em seu nível; a própria linguagem não deve ser considerada natural, mas esta é que nos faz representar o mundo e tornara-o o que, atualmente, é. Portanto, os seres humanos, para interagir com o que os rodeia, desnaturalizaram-se, criam ferrementas sem as quais teríamos um tipo de vida bastante distinto do que hoje há.
A vida, atualmente, é concebida da maneira que a vivemos, e, por razões lógicas, não poderia ser de outra forma. O problema é que temos uma relação afetiva com os produtos sem nos darmos conta que tudo vem da Terra, para qualquer processo necessitamos de ingredientes que dela provêm, mas esquecemo-nos que, ao destruirmos o meio, destruimo-nos também. Então, a nossa relação com o mundo modifica-se. Temos os produtos que necessitamos industrializados; não mais precisamos pensar no estado em que o mundo se encontra, logo interagimos com o mundo de forma mediata. A distância que se apresenta nessas relações começa a refletir entre os homens. O ser humano passa a se importar, cada vez mais, consigo e esquece-se das redes de relações com os demais, de maneira tautócrona isola-se mais e começa a fazer parte de pequenas bolhas, com um mundo próprio, chamadas Eu.
Além disso, o mundo passa a exercer a pressão sobre nós. Somos cada vez mais castigados pelos chamados fenômenos naturais que, entre outras qualidades, têm as de não serem naturais, pois são o desenlace da ação humana. As catástrofes assustam, apavoram, aterrorizam mais, e o homem vive com a angústia em estado latente. Vivemos em um mundo que faz tudo em série, inclusive psicopatas, maníacos. Aliás, fabrica homens em série. Acusou-se, por muitos anos, os comunistas de, com o objetivo da igualdade social, quererem transformar os seres todos em imagem e semelhança uns dos outros, e, neste momento, em que o capitalismo põe as oliveiras dos vencedores, em sua cabeça, percebemos o problemático que é não ser igual a todos, o deslocamento obrigatório dos que não concordam com o senso comum.
Enfim, nós mudamos o mundo e ele nos mudou. Essa atividade prosseguirá, simultaneamente, enquanto houver vida que consiga interagir com o mundo exterior e discursivizar essa relação. Destruímos o mundo e ele nos destrói como humanos, animaliza-nos. E, assim, nunca o mundo, nem nós somos iguais. Quando morrermos, poderemos não fazer falta para a totalidade, apenas para algumas pessoas que, com o tempo, curarão as cicatrizes, mas o mundo não será o mesmo, porque essa ínfima parcela não fará mais parte de si.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Mistério

O porquê não o sabemos, mas simplesmente é assim. Assim como? Também não o sabemos. A existência está cheia de mistéros, Fernando Pessoa foi atormentado por eles e assim os transfigurou em sua poesia, mas esses mistérios não estão postos para serem resolvidos, senão para estarem aí, para que busquemos sua elucidação sem êxito, pois não pode haver êxito, o mistério da existência é indecifrável, ele está aí sem razão de ser, e, talvez, como afirmava o poeta citado "o único mistério é não haver mistério nenhum".
Às vezes procuramos obter, através de meios supra-humanos, a razão da existência. A existência basta-se, ela é apenas ela, com um ponto de partida e um de chegada, o que há entre esses pontos costumamos chamar vida. Contudo, é-nos aterrador, insuficiente e, talvez, trágico pensar que o ponto de partida é um mero ponto de partida, e o de chegada não é nada mais do que isso.
A existência é o resultado de nossas escolhas. Somos seres psicologicamente, sociologicamente atrelados. O psicológico tenciona nossas escolhas, o sociológico também as tenciona, e na tensão de ambas as tenções vamos forjando-nos o que somos. Mas somos isto: o resultado da psiqué e do que observamos no exterior. Somos, portanto, cultural e psicologicamente formados.
Que Deus está morto, sabemos desde a época de Nietzsche, contudo, custa-nos acreditar em tal fato. Todas as despedidas são dolorosas, imagine-se a do ser que viveu milhares de anos. Os paradigmas são assaz fortes. Provavelmente, a resposta de tudo, a que não há, a que, apenas, almeja-se, esteja mais próxima das pessoas simples, que muitas vez julgamos de antemão, mas sabem viver e percebem que o mistério é ser feliz. Sim, procurarmos o prazer imediato dá-nos mais prazer que a busca do mistério que ao cabo de tudo seria a felicidade plena. Contudo, para quem já se imiscuiu nas perguntas do mistério inexistente não há mais salvação. Seguiremos com as perguntas atrás das respostas utópicas. Então, acabemos com o bordão de Chicó: "Não sei, só sei que foi assim."

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A tristeza

Quanta tristeza se abala em nosso peito pelo simples fato de sermos o que somos e termos medo que a felicidade, esse instante que assim se chama, acabe. A tristeza, muitas vezes, aparece, no momento, de maior alegria, transvestida de angústia, e esta provém da incerteza de duração contínua da felicidade. Pois sim, temos dificuldade, desconfiança, afinal somos sujeitos pós-modernos (embora eu não entenda muito bem o que isso significa), do que nos acontece de positivo.
Assim como descremos da boa esmola, é uma característica nossa buscar sempre obter vantagem sobre os demais, então desconfiamos do gesto gratuito; assim como lutamos pela liberdade e quando logramos o seu esboço, arrasamo-la e perseguimos tempos de enrijecimento; assim como desejamos o tempo livre, o ócio, o descanso, notamos o deprimente que é um domingo de chuva, não sabemos como usar o tempo; assim como perseguimos a felicidade, quando tocamos esse efêmero momento, não sabemos o que o fazer, aterrorizamo-nos com medo de que acabe, logo não nos aprazemos e, dessa forma, damos lugar a angústia, para que esta descambe para a tristeza.
Não sei se na maior parte do tempo somos tristes ou felizes, ou apenas somos. O que, na verdade, podemos perceber é que a tristeza é mais duradoura que angústia, porém isso pode ser relativizado, pois temos a impressão que o tempo dura mais nos estados negativos que nos positivos. Duas horas de tédio são muito mais tempo que duas de diversão. Destarte, a impressão de duração da tristeza é maior que a da felicidade. Contudo, há um agravante já mencionado: é bastante mais difícil, em um momento de tristeza, a alegria sobrepujá-la que o contrário. Ah, e esses sentimentos são o que são e não os controlamos, infelizmente.
A inexorabilidade dos sentimentos fá-los guiar-nos. Somos tomados pelo êxtase ou pela depressão e não conseguimos combatê-los, por essa razão apelamos a remédios, e somos seres dopados para a vida, pois é assaz complicado agüentá-la de cara limpa. O que podemos tirar disso? É que não conseguimos suportar a vida, esta é um fado e cada um busca solução onde é mais fácil encontrar a saída: remédios, bebida, drogas, suicídio, ou todos. A vida é triste por natureza, cabe-nos vivê-la, o único que não saberemos é o porquê. Talvez, se o soubéssemos a vida fosse feliz, mas, com certeza, não seria esta.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Adeus virtual

As despedidas são complicadas. Isso, todos o sabemos, mas são elas assim porque terminam com uma convivência (mesmo virtual), com uma impossibilidade de recorrer à pessoa ou à coisa que não está mais onde esteve. Nas despedidas lágrimas são lançadas, soluços abafados, embora algumas, apenas, deixem-nos tristes (se é possível que "apenas" possa acompanhar "tristes"). Domingo, no Brasil, segunda-feira, em Portugal, li, via web, uma despedida daquelas que nos fazem termos de repensar muitas situações da vida. Estarrecido, na frente do computador, vi que alguém que, há bastante tempo, acompanho deixa de escrever em seu blog. Ficamos perturbados com esses ocorridos, porque ali havia uma referência, alguém que tinha opiniões admiráveis, que abordava fatos conhecidos e dava-nos um norte, que abordava fatos desconhecidos que nos faziam querer conhecê-los e quando abordava a sua própria vida, dava-nos o deleite de viajar pela língua portuguesa. Uma bela língua! E bem utilizada, mais bela ainda é. Assim, José Saramago despediu-se de seu espaço virtual. Deixando milhares, quiçá milhões de internautas perdidos no momento do dia que era dedicado a ler aquelas belas linhas. A prosa virtual de língua portuguesa perde muito.

P.S. Para quem ainda não conheça o espaço: http://caderno.josesaramago.org/