sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A ideologia das palavras

Há certas palavras que não sei como ousamos usá-las. Todo signo, apesar da sua arbitrariedade, tem uma forte carga semântica, obviamente, mas, principalmente, uma enorme carga ideólogica. Bakhtin (ou Voloshinov) dizia que o signo é a arena da luta de classes, o que Raymond Williams retoma para verificar onde se dava a luta de classes em sua teroria marxista cultural.
Pois bem, as palavras empregadas e propagadas, por diversos meios, não as são por ingenuidade. Notemos que, sem entrar no mérito da questão, o Iraque era um país soberano, apesar de um regime ditatorial. Um país estranho e distante, penetra, com suas tropas, em seu território e assistimos às notícias da OCUPAÇÃO dos “soldados” norte-americanos. No entanto, sem entrar novamente no mérito da questão, a constituição brasileira de 1988 da mesma forma que assegura o direito à propriedade privada, assevera que toda a terra que não esteja a cumprir seu valor social deve ser comprada pelo estado com o fim de realizar-se a reforma agrária. E quando o MST, entra em uma fazenda, vemos o alarde dos meios de comunicação da INVASÃO de terras feita pelos “terroristas do MST”. Parece-me, pelo mínimo, irônico.
Enfim, a questão a qual quero chegar é que não tenho a capacidade de compreensão de como usamos a palavra marginal. A sua acepção no dicionário Houaiss é: “que vive à margem do meio social em que deveria estar integrado, desconsiderando os costumes, valores, leis e normas predominantes nesse meio; delinqüente, vagabundo, mendigo.” Bastante prático. O que não está adequado às normas de uma cultura dominante é um marginal. Mas como, mesmo com a total negação das normas, alguém pode estar à margem delas? Qualquer um que for contra as normas e não as aceitar é um marginal? Se assim é, tivemos e temos muitos marginais em nossa sociedade. Paulo Freire, o marginal da educação, Florestan Fernandes, da sociologia, entre tantos outros.
O mais terrível de tudo é que nem o Houaiss nem o Aurélio faz referência a que esses indivíduos não estão ali, na quase totalidade das vezes, porque o querem. Pensaríamos um pouco melhor, se os tratássemos como sujeitos que foram postos à margem. Porém, ninguém está posto à margem, pois nenhuma sociedade conseguiu lugar para todos os indivíduos que a compõem.
Por conseguinte, os ditos “marginais”, são parte integrante da sociedade. E é mais fácil pensarmos neles assim, do que como sujeitos que compõem o mesmo meio social que nós, e que se estão em condições piores, nós somos, em grande parte, culpados pela sua caminhada à beira disto que chamamos sociedade. Ou seja, ninguém pode determinar que esses sujeitos são os marginais porque não seguem normas dominantes, construídas por uma hegemonia dominante, pois como podemos duvidar que não somos nós que estamos à margem do seu meio social?

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Retiro o que disse

Se não leste o post de ontem, lê-lo antes de começar esta retratação.
A chuva de ontem trouxe vítimas e estragos ao estado. Cidades estão ilhadas, pessoas desabrigadas e é desolador ver tanta gente chorando, dizendo que em dez minutos perdeu tudo o que demorou uma vida para conquistar, com sacrifício e privações.
A cada catástrofe como a de ontem vemos que os que sofrem e que perdem são os pobres, pois são vítimas da falta de estrutura das urbes e do descaso das autoridades. É tocante para todos ver o sofrimento alheio, mas quando é em nossa própria pele, experimentamos a dor. Portanto, enquanto não forem atingidas pessoas de outras classes sociais, esses fenômenos seguirão a castigar a vida dos já castigados pelo destino.
Perdão! Fico triste por ter ficado feliz ontem.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Chuva

As gotas caíram e acalmaram almas que estavam desoladas com a sua falta. Hoje, a chuva voltou a cair depois de um longo período. Confesso-lhes que fiquei muito contente, pois aguardava ansiosamente seu retorno.
A seca castigava e segue a castigar a metade sul do estado. Contemplei as gotas pluviáis que não resolverão o drama da estiagem, porém melhorarão um pouco o problema. O plúvio escureceu o céu e trouxe a esperança de que a água retornasse à terra. E, assim aconteceu.
Fiquei contente, pois não me lembrava de como era a chuva, do seu cheiro, da sua atmosfera. Também fiquei feliz por centenas e centenas de famílias de pequenos agricultores e produtores de leite que estavam amargando uma vida de privações, pois a natureza não os estava ajudando. A natureza?
Creio que não. O trabalho feito com tanto esmero pelo homem em devastar o seu meio, já está dando os primeiros frutos. O homem deve algrar-se de estar começando a terminar com o planeta. Pois, desde a segunda revolução industrial, a sua atividade sempre tem, em primeiro ou segundo plano, a capacidade da destruição. Grande homem, pequeno em relação ao planeta, mas unido mostra como podemos derrotá-lo. Como empregamos bem a nossa inteligência!
Agora, muitos, como eu, estão felizes pela chuva, porém, no fim do ano passado, vimos quantos choraram, padeceram, deprimiram-se pela chuva que destruiu, matou e desalojou mais de uma centena de milhar de pessoas em Santa Catarina.
Se a felicidade vem de situações que não são corriqueira e sim inesperadas, fico feliz com a chuva e triste por ter de ficar feliz por ela.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Tudo muda II

Ontem vinha aqui para escrever sobre a mudança do intelectual de outrora e acabei desviando-me completamente do tema, ou melhor, não cheguei a tocá-lo. Por conseguinte, hoje quero falar sobre essas figuras tão importantes para o desenvolvimento humano.
Antigamente, e não me estou reportando a Platão ou Aristóteles, penso no final do século XIX até meados do século passado. Os intelectuais, ou os homens de letras, eram aqueles que tinham um vasto conhecimento sobre o maior número de assuntos possível, vejamos o exemplo do narrador e poeta moderninsta argentino Leopoldo Lugones, seu conhecimento sobre história, geografia, literatura clássica era enorme, não obstante, esse homem do século passado não ignorava as demais áreas do conhecimento, sendo o primeiro argentino a interpretar as teorias de Einstein. Ou seja, seu deslocamento por diversas áreas era enorme.
Vemos essa versatilidade em uma época que a informação corria de maneira mais lenta e era bastante mais difícil de obter. Hoje, a internet e outros meios de comunicação em massa despejam-nos um dilúvio de informações, das quais retemos somente uma pequena parte: a que nos interessa. Assim, inclusive, os intelectuais estão seccionados. Pois, se pensarmos em um intelectual contemporâneo, este, geralmente, saberá muito, muito, muito, muito sobre um determinado tema, e terá uma compreensão bastante superficial sobre os demais. Claro que não devemos generalizar tal asserção, pois seríamos facilmente desmentidos.
O que tento dizer é que teríamos condições melhores, de entender diversos temas, do que os homens de idéias, que viveram em tempos idos. Porém, rechaçamos uma quantidade de informação que está aí ao nosso alcance, para preocuparmo-nos por, cada vez mais, informações específicas sobre determinados temas. E o que fazem os estudiosos da literatura que engloba uma gama vasta de temas? Especializam-se também em uma micro área ( a narrativa de tal obra do escritor fulano, baseado na teoria de sicrano) e esquecem-se de todo um aparato de informações que serviria não somente para "intelectualizar-se", mas para viver.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Tudo muda I

Eu tenho que notar, sou obrigado a notar que as coisas mudaram. É óbvio, eu não sou mais o mesmo, mas o mundo que me rodeia já não é quem foi. Mas se eu faço parte do mundo, é lógico que com minha mudança o mundo muda também.
Somos pequenas partículas de um todo. Não somos nada sozinhos, porém alteramos a ordem final das coisas com a nossa mudança. Pensemos: o mundo é tudo que o compõe, nós compomos o mundo, logo a transoformação de um de nós é a transformação do mundo, não como um todo, mas de parte dele.
Sigamos. Se eu mudo e isso faz o mundo mudar, cada um de nós é muito mais importante, para a totalidade da humanidade, do que pensa. Quero dizer que nossa óptica transformando-se, transforma todas as relações que nos rodeiam, e se isso tiver efeito sobre a óptica de outros, podemos provoar uma transformação em cadeia.
Enfim, tenhamos esperança em nós mesmos. E comecemos a mudança do mundo com a nossa própia mudança. Mudemo-nos a nós!
PS: O assunto sobre mudanças e transformações não era esse, mas fui levado pela escrita por esse caminho. Voltarei a tratar do tema, mas em um objeto específico.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Não sei como dizer

Sabes como é? Pois é, eu sei mas não sei como dizer. É bastante difícil compreender tal enunciado, mas a realidade é essa. Temos tamanha dificuldade em expressar o que queremos, ou melhor, expressar como queremos o que queremos expressar.
Muitas vezes, nossas respostas diante de certas perguntas são que sabemos, mas não sabemos explicar. Incrivelmente, a linguagem, que teria por objetivo primordial propiciar a comunicação entre os seres, torna-se uma barreira, um elemento que obstaculiza a comunicação.
Havia um renomado poeta europeu, cujo nome não recordo, que dizia que o verdadeiro poeta era o que sabia dizer não o que doía, senão como doía. É muito estranho, pois experimentamos as sensações mais diversas, vivenciamo-las, mas temos dificuldade de discursivisar o que são e como são. Expliquemos a alguém o que a saudade, a melancolia, o remorso, ou , o mais difícil de todos, o amor são. São sentimentos que todos já vivemos, ao menos parte deles. Sabemos o que sentimos, então apelamos a essas palavras, mas o que elas trazem consigo fica relegado a segundo plano.
Expressar o que sentimos, portanto, não é tão simples. Se digo a alguém que tenho uma angústia e essa pessoa me pergunta o que é uma angústia creio que ficaria angustiado por não me conseguir explicar. Porém, se sabemos que sentimos e o que sentimos, por que não conseguimos dizer? Será que o sentimento não é verdadeiro ou seu significado não significa o mesmo para todos? Escolho sem hesitar a segunda opção. Mas, todas as palavras significam diferente para cada um, não completamente, mas cada um experimenta o significante segundo a sua construção social de sujeito permita que o ser a experimente e assim constrói-se seu significado. Contudo, se alguém diz-me a palavra livro, por mais que o livro que eu imagino não seja igual ao que tu estás imaginando agora, chegaremos a descrição de livro semelhante. No entanto, a situação complica-se se alguém pede-nos para descrevermos o amor. Serão tão dissímiles nossas respostas que talvez não achemos que é o mesmo sentimento, o que nos ajuda com essa hipótese é a vasta literatura sobre o tema, isso sempre e quando conseguirmos descrever o que um sentimento é.
Termino aqui o post de hoje, sem saber se disse o que queria. Estou com uma sensação esquisita. Entende? Sei o que é, mas não sei como dizer.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Corrupção

O nosso uso da palavra sem ter compromisso nenhum com a palavra é uma espécie de corrupção como tantas outras que criticamos diariamente. A tão execrada corrupção política não é o que nos faz ser corruptos em diversas esferas do nosso cotidiano, e sim essa corrupção corriqueira é que se reproduz nas esferas do poder (pensando em uma lógica foucaultiana)
Quando pensamos que podemos agilizar um processo na justiça ou passar a frente de diversas pessoas em uma consulta médica, pois conhecemos as pessoas indicadas para darem velocidade ao que precisamos e julgamos ser mais urgente para nós do que para outros, não é somente uma demonstração de egoísmo, senão um exercício da nossa tão próxima e entranhada corrupção.
Sem mencionar as muitas vezes que somos desonestos em jogos com amigos, somente pela arte de tirar vantagem e o desejo de ser visto como o melhor, sendo que para isso atropelamos o valor ético da vida. Além destas já citadas formas de corrupção, temos, ainda, a inefável capacidade de silenciarmo-nos quando recebemos dinheiro a mais em uma pequena quantia, por acharmos que não fará falta a ninguém, e a avidez de encher a boca de impropérios a políticos que desviam milhões em orçamentos que são de bilhões. Eles também têm o direito de achar que milhões são pouco dinheiro perto dos bilhões que (es)correm pela nação.
Não estou aqui a defender a corrupção, mas a pedir que nos olhemos e tentemos perceber que somos muito bons para apontar o dedo para os outros e jamais virar o índice para nosso lado. Somos corruptos, em diferentes esferas, em diferentes quantidades, que julgamos ser desimportantes, porém somos corruptos. O quão maléficos somos uns com os outros. Deveríamos, em uma atitude bastante, bastante, bastante cartesiana dizer: Corrompo, logo existo.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Tudo e nada

Não sei ao certo quem sou. Muitas vezes me olho no espelho e penso se esse que vejo serei realmente eu ou um eu simplesmente projetado que não pode ser eu, porque eu sou o que não está projetado diante do espelho. Isto é bastante simples, pois o que vejo é o que quero ver, ou melhor, o que posso ver, porque estou condicionado a isso.
Quando nos vemos, simplesmente enxergamos o que queremos, pois para mim eu sou uma pessoa, isto é, para mim eu sou o que somente sou para mim. Outros vêem-me de maneira completamente distinta, assim como eu os vejo de forma diferente a qual eles fazem os auto-retratos de suas vidas. O que eu represento para o outro não é o que desejo, senão a maneira como as pessoas apreendem o que eu desejo representar. Esse jogo de espelhos produz as impressões que temos dos outros e de nós mesmos. Logo, a vida é um jogo.
À parte o sofisma, eu gostaria de entender por que dizemos que somos tal ou tal coisa, e não tal e tal coisa? Somos qual destes prismas? O que queremos ser, o que pensamos ser ou que os outros pensam que somos?Esses outros compartem a mesma visão?Não. Apesar de sermos todos iguais, somos todos profunda ou superficialmente diferentes. Não há seres iguais, tudo o que podemos encontrar são semelhanças que, muitas vezes, o tempo dissipa.
Creio que somos um conglomerado de eus, pois não podemos dirimir todas as perspectivas pelas quais nos enxergamos ou pelas quais somos vistos. Somos simultaneamente simpáticos e antipáticos, decididos e sem poder nenhum de decisão, românticos e brutos, enfim o ser é antitético em sua essência. Não classifiquemos, por conseguinte, os humanos. Não somos somente algo, somos, concomitantemente, tudo. Sempre que reduzirmos homens e mulheres a rótulos, estaremo-lo fazendo segundo nossa perspectiva, então fazemos uma abundante redução: a de todos os outros pontos de vista envolvidos, logo estamos praticando a ignorância no que ela tem de mais oculto. Porque, ser o dono da verdade é desprezar todas as outras verdades e ser simplesmente o dono da ignorância.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Barack


Hoje presenciamos a posse do novo presidente estadounidense, Barack Hussein Obama II, sugestivo sobrenome, não?. É uma novidade insuperável um negro presidente da nação mais rica do mundo, ainda mais se pensarmos que é um descendente de árabes em um país, que como todos sabemos, sempre exerceu um massacre contra negros e orientais.
Creio que todos que, de certa forma, acompanhamos a corrida presidencial norte-americana, torcemos por Obama, por um membro do Partido Democrata, embora na maior democracia do mundo esta palavra tenha um significado bastante dúbio. Mas isto não é o essencial do post de hoje. Todos queríamos o fim do império Busch. Um governante que se aproximou aos ditadores e causou alguns milhares de mortes mundo afora em um tempo de crises e chacinas que abalaram o mundo. Que o presidente que hoje assume terá uma postura diferente é inegável, se não tivermos ouvido somente promessas, mas para nós o quão diferente vai ser?
Como latino-americanos não creio que mudará para melhor, senão virmos uma piora de nosso quadro sócio-econômico. Pois, este presidente eleito por ianques governará para eles e fará de tudo para tirá-los da crise na qual se encontram. Isso quer dizer, em minha visão pessimista, menos gastos com importações o que significa os países de nosso continente exportando menos, levando a uma diminuição da receita das nações latino-americanas e cortes na área social.
Não sejamos egoístas e pensemos que uma tentativa de fim de guerra, uma redução, na qual não acredito, de apoio a Israel significa salvaguardar a vida de milhares de humanos, porém, esperemos que isso não seja a morte por inanição de outros milhares.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Cidade do interior

Roubo este argumento à minha mãe, que olhando da janela afirmou que as cidades do interior se parecem e são todas tristes à noite. Há um silêncio que incomoda.
Olhar uma cidade pequena do interior pela noite é realmente triste. O silêncio que enche os ouvidos de um vazio aterrador é mórbido. Saber que não há nada para fazer coletivamente traz-nos um sentimento paradoxal de claustrofobia no espaço aberto e solitário. É uma impotência querer sentar-se com um amigo em um bar, pedir uma bebida e discutir sobre música, literatura, cinema ou falar da filosofia da cotidianidade, que nada mais é que, em uma linguagem mais rebuscada, falar besteiras, e não poder por não haver meio. Deprimente é querer ir a um espetáculo, a um museu, a recital e ser privado pela falta de estrutura e de atividades em cidades pequenas do interior que tanto se parecem.
Mas não somente pela noite elas se assemelham. Durante as manhãs e as tardes, a pouca velocidade que os corpos empregam, o tempo de sobra para pôr-se a olhar vitrinas conferem-lhe esse ritmio lento e corriqueiro das cidades interioranas. Às vezes pensamos que tudo que há (pois as perspectivas são ínfimas nesses lugares) para fazer é esperar a vida passar, com o mesmo passo lento que ela se desenvolve até que a morte chegue e peguemo-nos pensando que não fizemos nada e que tudo passou tão devagar e é impossível voltar alguns segundos para refazer o que deveríamos ter conduzido de outro modo.
Então, se a vida passa dessa forma em diversos pequenos luguares do planeta, talvez somente percebamos a tristeza durante a noite, pois durante o dia pensamos em outras coisas que não a nossa vida, pois temos de produzir para continuarmos no mesmo lugar, e os culpados de tudo isso, muito provavelmente, sejamos nós, com nossas cabeças provincianas, que pouco reivindicamos melhoras e não gritamos pedindo tudo aquilo que queremos: mais tempo para nós e para vivermos nossas vidas com a qualidade de uma tranqüilidade agitada pelo estresse do pensamento e da reflexão, que deveriam ser nossos únicos soberanos.



domingo, 18 de janeiro de 2009

Frágil II

Creio que o assunto de ontem sobre a frafilidade do ser merece um tratamento mais profundo, por esse motivo retorno a ele hoje.
Nesta manhã vi uma cena bastante tocante. A senhora acariciava com o seu polegar direito a testa do marido inconsciente na cama de uma U.T.I. Percebi o carinho com que ela o tratava e, de relance, vi seus olhos cheios de lágrimas. Provavelmente, pensava na fragilidade da vida, não da vida em geral, mas na de seu companheiro. Confesso que me angustiou bastante esse quadro.
Duas vidas que correm juntas, talvez, há algum tempo, de amor, carinho e dedicação de um pelo outro, e o medo pairando sobre a cabeça dela, pelo temor de uma separação precoce.
Feliz dos que estão preparados para enfrentar a fragilidade humana, pois esta é sempre dolorosa. É incrível pensarmos que somos capazes de chegar ao espaço, mover rios, destruir florestas, enfrentar guerras, mas que, concomitantemente, podemos cair ao cruzarmo-nos com um percalço do destino.
Triste pensarmos em quão pequenas são nossas vidas perante a imensidão da história, da qual quase nada presenciamos. Deixo-lhes um conselho: viavamos, amigos. Vivamos.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Frágil I

Não sei o que há de certo na vida além de sua fragilidade. Como somos reféns de catastrofes naturais, que vão desde enchentes a uma parada cardíaca.
Nosso corpo, nossa ferramento de trabalho nesse labor que é a vida, é sucetível a qualquer pequeno desiquilíbrio que venha do seu exterior ou interior. Nossa mente, que não deixa de ser parte de nosso corpo, também sofre constantemente com tais desarmonias.
A resposta para tudo é que somos frágeis. Devemos entender essa fragilidade e revertê-la a nosso favor. Como? Aproveitando nossas curtas e débeis vidas.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Fuga de palavras

Não sabia o que escrever, pois não sempre se vence a luta com as palavras. Luta árdua e complicada, que quando a estamos vencendo vemos fluir como um rio dezenas de frases e idéias que se entrelaçam, mas quando as palavras negam-se a aparecer e nos fazem suar de aflição, começamos a sentirmo-nos derrotados.
Então, percebi que já havia algo para escrever: a dificuldade de ter algo para escrever. Pois não digo. Estava parado nesse último ponto escrito depois de escrever, logo acima, há algum tempo, porque as palavras se estão escondendo de mim. Ah! Terrível luta esta. Não sei se vocês já passaram por isso, mas concordemos que é angustiante.
Enfim, deixo-os, porque notei que hoje, por mais contraditório que possa parecer, não consiguirei escrever nada.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Tempo


Estava eu a ler o conto "El perseguidor", do livro "Las armas secretas", de Julio Cortázar, e não me pude furtar à idéia da relatividade do tempo, por conseguinte lembrei-me de Einstein, mas de quão mais complexa é a nossa relação com o tempo.
Borges diz em sua "Historia de la eternidad" que: "El movimiento, ocupación de sitios distintos en instantes distintos, es inconcebible sin tiempo; asimismo lo es la inmovilidad, ocupación de un mismo lugar en distintos puntos del tiempo." Ou seja, o tempo está presente em tudo, mas por que esse tempo, inclusive o cronológico,é-nos tão diferente em distintos aspectos? Pois, todos sabemos que 20 minutos de ansiedade são interminavelmente mais longos que 20 minutos de prazer. O tempo, nosso algoz, que nos castiga todos os dias, diminuindo o espaço entre a linha de partida e a linha de chegada de nossa existência. Tempo que pode ser melancólico e tenebroso, como o deve ser para milhares de palestinos que têm noites em que o tempo não passa, aflitos com o medo de o próximo amanhacer não chegar.
Isto, sem mencionar o tempo de nosso pensamento, que flui, inegavelmente, mais veloz que nossas ações. Em um minuto, podemos pensar em dias a fio, e demoraremos horas para discursivizá-lo. Como é complicada a abstração de pensar no tempo! E o tempo da literatura que são diversos tempos e podem andar para frente ou para trás simultaneamente. O tempo de espera pela hora do almoço de quem tem fome, garanto-lhes, que não é o mesmo de quem tem a certeza que terá a sua frente uma farta mesa.
Somos reféns do tempo, ainda mais em uma época na qual a produtividade é o que interessa. E, há algo mais ligado ao tempo que a produtividade?Fazer o máximo que se pode em menos tempo, logo termos menos tempo para refletir o porquê de o fazermos. Sem tempo para deleitarmo-nos com o prazer que nos dão as sensações positivas de algo bom. Precisamos de tempo para ter mais tempo na vida. Qual a lógica de trabalharmos incansavelmente para um dia podermos descansar e não, ao contrário, aproveitarmos o tempo, dosando-o melhor?
Enfim, infelizmente, esta é nossa luta diária contrao tempo. Porque esta é a nossa luta pela existência: alongar o tempo para termos o tempo de viver por mais tempo.

P.S: Obrigado pelo tempo dispensado.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Mulheres



Escutei a frase mais que conhecida por todos: "não entendo as mulheres."Obviamente, em um primeiro momento, não me estranhei e achei-a corriqueira. Depois, pensando sobre esse enunciado, dito por um homem, é tão óbvio como dois e dois são quatro. Pois a complexidade feminina é diferente da masculina e isso é inegável.
Como entender as mulheres? Mas, por que essa pergunta e não: como entender o ser-humano?Esta é bastante mais complicada e a filosofia a persegue há mais de dois mil anos. O ser e sua complexidade vai muito além de uma discussão sobre gênero, pois acho que é tão difícil para um homem entender a mente, as vontades e preferências de uma mulher, quanto para um norte-americano entender esses quesitos, mencionado acima, de um iraniano. Apesar, neste caso, de tratar-se de culturas diferentes, as nossas posições e nossos gostos estão intimamente ligados à nossa trajetória (tomando um conceito de Bourdieu). Mas as mulheres, assim como uma cultura diferente da nossa, foram excluídas historicamente. Peguemos os estudos de Freud, para não remontarmo-nos à história mais antiga, quase não menciona a mulher e seus estudos são quase todos focados para o homem. Não pensemos isso em termos de machismo pois estaríamos sendo anacrônicos.
Homens e mulheres são diferentes ,têm aptidões e comportamentos diferentes porque são socialmente construídos e até que se reconstruam isso continuará sendo como o é. A questão é que para as mulheres também é complicado entender os homens, sua baixa sensibilidade e seu desprezo por quase todas as formas de estética (isto, fique claro, é uma grande generalização dos gêneros). E, esses pontos são os que os aproximam, e muitas vezes os afastam, a vontade de um ter o que falta ao outro. Mulheres são diferentes dos homens, mas, principalmente, diferentes entre si. Assim um negro é diferente de um branco não pela cor, mas porque são dois seres diferentes, com suas sinuosas trajetórias percorridas de forma diferente ao longo da existência.
Troquemos nossas afirmações e digamos em primeiro lugar:"eu não consigo entender minha mente, imagine a do outro."

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Nossa Literatura

Vivemos em um continente marcado pela heterogeneidade, que fala diversas línguas, desde o português e o espanhol até o inglês, o francês e línguas crioulas, indígenas e africanas, uma América-Latina de diversas etnias e grupos sociais, de uma vasta natureza, que foi, talvez o primeiro referente literário de Nuestra Améria (como a chamou Martí) nas cartas de Colombo. Sem esquecer uma "literatura" anterior como o Popol Vuh e os livros do Chilam Balán. Contúdo, tivemos a explosão de nossa literatura nas décadas de 60 e 70, com o chamado Boom da Literatura Latino-Americana. Por isso não podemos reduzir nossa maior expressão cultural a somente esse período.
Vemos, com freqüência, a massiva discussão, elaboração de teses, foros sobre escritores do Boom. É claro, que García Márquez, Vargas Llosa, Cortázar e Carlos Fuentes são magníficos escritores e, além de venderem uma exorbitância de livros, fizeram uma literatura de altíssima qualidade. Porém, eles mesmos têm suas referências continentais, diferente de que muitos pensam que somente o norte-americano Faulkner influenciou esses escritores. Havia, desde antes do surgimento desses escritores, uma renovação narrativa em nossa literatura. Como é o exemplo do Real Maravilloso, do Cubano Alejo Carpentier, que pensava a história do continente como uma crônica sobre o fantástico, ou do uruguaio Felisberto Hernández, que trouxe muito do legado das vanguardas poéticas para a narrativa, ou, ainda, antecedentes mais antigos, como é o caso de Borges, que além da poesia e da obra ensaística, deixou-nos um legado de contos espetaculares e mostrou que o gênero policial não deveria ser menosprezado. Há um enorme leque de escritores latino-americanos, desde o ciclo da Revolução Mexicana, como Mariano Azuela, a poetas que inovaram a poesia, é o caso de Nicanor Parra com seus antipoemas, que são pouco mencionados no Brasil, quando não esquecidos pelos leitores comuns, acadêmicos, tradutores e, principalmente críticos. Principalmente, pois trazendo à tona o que asseverou o crítico uruguaio Ángel Rama: " la crítica no hace las obras, pero en cambio construye la literatura." Isso para citar apenas alguns autores que este espaço permite.
Trago à luz esta questão, porque creio que devemos seguir lendo escritores como Córtazar, Márquez, etc. mas necessitamos urgentemente redescobrir nosso continente, literariamente, para entendermos nossa situação e apontar novos rumos. Pois, neste momento, desde Tierra del Fuego até o Norte do México, está escrevendo-se literatura interessantíssima que tem de lutar contra nomes já estabelidos no cânone literário. Não nos devemos esquecer que a literatura precisa renovar-se e encontrar novas formas, pois perde espaço frente aos meios de comunicação de massa, e para isso também necessitamos conhecer o novo, para que tenhamos um futuro tão bom quanto foi no passado o Boom e não voltemos a ser colônia intelectual do Norte.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Passagem da vida


É difícil perceber quando estamos passando de uma fase para outra de nossas vidas. É doloroso observar que as coisas estão mudando para nós e, nesses momentos, damo-nos conta que, quando essas coisas aconteceram outrora, foram mais fáceis.

Então, no dia em que não conseguimos considerarmo-nos adultos e nem adolescentes, é porque estamos atravessando essa fase de transição da vida cuja a característica primordial é sentirmo-nos deslocados no mundo. A adolescência é incrível e longa. Quantas experiências exuberantes e terríveis tivemos? Quantos mundos e lugares novos descobrimos e por quantos nos perdemos?Na adolescência não sentimos tanto medo. Eis que a vamos deixando para trás, passamos a ponderar mais, a ser menos ousados, a preferir as comodidades às novidades. Terrível e chata esta fase. Parece-nos que quando deixamos a infância e nos tornamos adolescentes foi mais fácil, porém, também sentiamo-nos deslocados e, embora não ponderássemos tanto, tínhamos a proibição de aventurar-nos por caminhos sinuosos desconhecidos pelos adultos que ponderavam por nós. A única diferença está em que esse período já passou, enfrentamos as dificuldades por ele impostas e, na sua grande maioria, superamo-las, logo ficaram lembranças e o que sentimos tornou-se experiência vivida, o que, talvez, não nos sirva de muito, pois agora temos este dilema que nos corrói a alma: Somos o quê?Seremos jovens adultos ou adolescente retardatários?

Tenho certeza que com o passar do tempo essa dúvida diluir-se-á e quando estivermos indo para a nossa velhice, refletindo sobre a vida, encontraremos novos dilemas e acharemos este tão despreocupante quanto todos pelos quais já passamos.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Acordo Ortográfico



O Acordo ortográfico é algo que não sai da boca das pessoas nestes últimos dias. O caso é que temos de perceber que a língua é um organismo vivo, logo cambiante. E esta nova reforma tem alguns pontos benéficos para nós brasileiros.
Lendo a revista Língua Portuguesa, pude apreciar alguns pontos do Acordo e também opiniões de diversas perspectivas de estudiosos brasileiros e portugueses. O que mais me deixa triste é o fim do trema. Seguirei pronunciando tranqüilo ou devo dizer e escrever: tranquilo? Não o sei. O acréscimo do hífen, em palavras que têm o prefixo ou falso prefixo terminado com a mesma vogal pela qual começa o radical, por exemplo: micro-ondas, é bastante interessante.
Porém o mais interessante é um ponto bastante subjetivo, diga-se de passagem, cuja a transcrição é: “ certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção da composição, grafam-se aglutinadamente.” Pois, não é interessante que para um leigo, que apenas usa a língua para suas necessidades imediatas e não é um estudioso filológico dessa língua, deva saber se se perdeu a noção de composição?
Creio, entretanto, que há diversos pontos positivos nessas mudanças. Porque, pela primeira vez, o Brasil deixa de ser um dominado, por completo, “lingüisticamente” falando, já que apenas 0,5% das palavras no nosso país mudarão, enquanto nos países africanos e em Portugal é de 1,6% a mudança. O que causou muita desconformidade no país dos lusitanos. Segundo a revista Língua Portuguesa, o editor adjunto do jornal português Independente de Catanhede opinou: “Não consigo entender porque há de ser a língua mãe a aproximar-se dos facilitarismos brasileiros, afastando-se da sua raíz latina que lhe deu vida (...) Se o acordo for posto em prática, o português passará a ser uma língua vagabumda.” Parece-me, com esta opinião, que ainda deveríamos ser colônia portuguesa (conforme os Senhores da Metrópoli), pois ainda somos os vagabundos do além mar. Triste pensamento, sr. Editor.
Portanto, não devemos de ter tanto receio da reforma como o sr. Editor conservador, porque politicamente ela nos serve, dá-nos um pouco mais de reconhecimento lingüístico, enfim teremos uma língua unificada, mas com nossas diferenças marcadas na fala. E lembremo-nos que o mercado editorial brasileiro tem muito a ganhar com o Acordo. Mas que ninguém se preocupe, pois ainda temos três anos para adaptarmo-nos.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Meus queridos amigos

Hoje minhas sobrinhas de 11, 12 e 14 anos estavam conversando sobre a legião de amigos que elas têm. Lembrei-me, então, que com essa idade também pensava ter uma imensidão de amigos, todos confiáveis e insubstituíveis, que com a partida de algum da cidade em que morávamos seria o fim de uma parte de mim, que a traição de outro era para ser desprezada com repugnância que o meu erro com algum era para ser perdoado, sempre egoísta.
Contudo, os anos passam e vamos percebendo e apredendo a diferenciar amigos de conhecidos, ou amigos verdadeiros de "amigos" simplismente. Compreendi que é uma dádiva podermos dizer amigos no plural, pois estes são muito poucos. Há essas pessoas que estão contigo quando tu estás bem e que sempre são agradáveis e estão prontas para dividir contigo as tuas alegrias. Porém, quando tu não te consegues levantar do fundo do poço ao que chegaste, eles somem e com isso te afundam mais, porque te sentes abandonado. É nesse momento que os verdadeiros amigos aparecem e mostram-se o verdadeiro Deus, logo são onipresentes, diferente desse Deus inventado que somente quer castigar-te e é mais sectário que o Diabo. Os poucos amigos que tens estão por todas as partes quando os precisas, dispostos a ajudar-te, a oferecer-te um ombro amigo e deves fazer exatamente o mesmo e conservá-los como a relíquia mais preciosa que possas ter.
Meus verdadeiros amigos, agradeço-lhes tudo que sempre fizeram por mim e saibam que quando precisarem estarei disposto a fazer o que for necessário por vocês. E quando formos dividir as experiências mais felizes de nossas existências, estaremos juntos de coração

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Ironias da história

Parece-me incrível que estejamos passando pelo que estamos!Com o perdão da redundância anterior, mas sinto-me indignado diante dos ataques de Israel a Gaza, justamente em um momento tenso da economia, pois infelizmente, são nesses tempos que se manifestam as maiores desgraças. Penso em 80 anos atrás quando também houve um momento de crise econômica:a quebra da bolsa de Nova York em 1929 há quase um século. Vimos qual foi a solução sugerida e que mais ecoou pelo mundo. Assistimos a um avanço do totalitarismo, com o nazi-fascismo alcançando seu auge e milhões de judeus mortos em campos de concetração.
A ONU, como solução, fez de um território do Oriente Médio a casa para milhares de judeus perseguidos pela guerra. O irônico é que essa terra era ocupada por palestinos que então começaram a viver em campos de concetração como a Faixa de Gaza.
Mas o prêmio para o maior sarcasmo é o de em período de crise como o que estamos vivendo, começam ataques do povo de Moisés aos muçulmanos. Exatamente os perseguidos de outrora são os caçadores de hoje em dia, com a diferença que a caça é bem mais frágil do que eles algum dia foram, pois israelenses são parte da cultura dominante e não “terroristas” árabes que querem destruir o mundo com uma cultura que é apenas diferente da ocidental, com rituais que são vistos como como antiquados, obsoletos e deshumanos, como usar uma burca, por exemplo. Embora o ritual judeu da circuncisão não seja jamais mencionado por atentar contra os direitos humanos.
Grande farsa presenciamos agora, porque a história não se repete e quando isso acontece é mentira. Porém por ser uma farsa as pessoas, talvez, possam prestar mais atenção a esta ficção da vida real e deixem de olhar a novela e prestem atenção a esta bufa que têm diante de seus olhos.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Prazer, Rodrigo

Apresento-me com todo o prazer. Sou Rodrigo, Barba, Peixe, , Rodi, Guigo, Gugo,enfim, chamem-me como quiserem. Apesar de ter apenas 24 anos, tenho uma profunda diferença de caráter com o meio virtual. Porém, acho que estava na hora de interagir e vim para este espaço lançar idéias (perdão, demorarei a me desvencilhar do acento em ideia), discussões, reclamações, sempre desde meu ponto de vista, parece óbvio, mas é bom ressaltar, pois gostaria de gerar debates, já que em algum lugar precisamos exercitar este dom do diálogo, do confronto de idéias, que não são brigas e sim a heterogeneidade do ser humano.
Então, estejam livres e convidados para postar o que quiserem, desde a derrota do seu time até a questão mais interessante sobre metafísica.