quinta-feira, 28 de maio de 2009

A literatura em nossa sociedade


Essa entrevista de Cortázar foi concedida a um canal espanhol em um programa chamado A Fondo. Observamos como o brilhante autor argentino pensa a literatura, como a projeta em uma idéia democrática cujos temas são livres, e propõe algo bastante interessante: uma camada interna na prosa, um ritmo que existe pela seleção, organização de sons e não através de figuras de linguagens.

O que está latente nessa declaração, o que a ela subjaz é um pensamento moderno sobre um tema milenar, mas um pensamento que começou há muitos anos com o romantismo, com a Revolução Francesa. Essa liberdade de temas, na literatura, somente foi possível, porque anos antes diversos paradigmas quebraram-se. O homem livre, individualizado, capaz de falar sobre o que tiver vontade foi um homem nascido da burguesia, da sua revolução, embora, no século XIX, a liberdade de temas não fosse o que hoje lemos, o modernismo levou a liberdade ao extremo.

Contudo, parece irônico falar em liberdade em uma sociedade como a nossa, pois se não há mais modelos e padrões a serem imitados e repetidos, a liberdade de criação está diametralmente oposta à liberdade de ação. Pois, se o homem pode falar sobre o que quer, cada vez tem menos possibilidade de agir em um mundo onde não é permitida a ação. Digo isso, porque temos que prestar contas, a todo instante, à sociedade e à nós mesmos, haja vista a necessidade de produção imposta.

Dar-se ao deleite da leitura é lazer, embora visto com maus olhos pela maioria das pessoas, estudar isso já é uma falta de respeito, pois não estamos produzindo materiais concretos, palpáveis, senão abstração, e, em uma era, cuja importância é enfaticamente dada ao ter não podemos simplesmente ser, pois o ser está atrelado ao ter. Assim, quem tem dinheiro tem tudo, e o desejo final dos seres humanos é esse, independentemente da incapacidade cultural e de conhecimento que esteja patente, o essencial é saber como ganhar dinheiro e basta. Esse dinheiro não vem, na grande maioria das vezes, acompanhado de uma ganho pessoal.

Portanto, obviamente, podemos escrever sobre tudo e termos o prazer de ler sobre tudo e encontrar algum Cortázar que tenha condições de chamar atenção para um ritmo interno de sua escrita, porém esses são cada vez mais raros. E se a visão de literatura não é mais de classes, asserção que eu duvido de seu estatuto de verdade, está dentro de outras condições, pois se a ignorância é dona do poder (meios de produção, não me dirijo somente a políticos), para a ignorância escrevamos; e assim damos mais um passo em nossa transformação de seres humanos para teres humanos.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Lembrança

Hoje, ao acordar-me, aconteceu-me algo que ocorre-nos a todos, tinha uma música na cabeça por razões cujos psicanalistas explicar-me-iam. Porém, prefiro recair no senso comum e ficar sem entender o motivo desta lembrança. O essencial é que tinha uma múscia na cabeça, mas deparei-me com um grave problema, o de gênese. Provavelmente, haja ouvido essa música antes, embora não lembre quando, nem quem a cantava, nem mais de sua letra que um mísero verso.
Talvez, tenha-a ouvido há muitos anos, creio eu que há aproximadamente quinze anos, quando eu beirava os dez de idade. A execução era feita pelo excelente músico uruguaio Alejandro Massiotti que, como a maioria dos talentos uruguaios, teve a necessidade de deixar a sua pátria para obter o reconhecimento pela sua música. Contudo, não posso afirmar com exatidão que haja sido assim. O que tornou a lembrança da música mais interessante foi a quantidade de outras memórias que a acompanharam, sejam estas certas ou não. Digo certas ou erradas, porque se a música não foi executada pelo músico na situação da qual me lembrei, são erradas as lembranças e deveriam ser outras no lugar destas.
Lembrei-me de Rivera, no uruguai, em uma época que a infância fazia pensar que o mundo era ali, que tudo chegava ali, que tudo passava por aquela bonita cidade interiorana. Naquele lugar, ergueram-se muitas de minhas características que, posteriormente, desenvolveram-se ou ficaram estagnadas em mim. Lembrei-me de uma idade em que as responsabilidades eram pequenas e a liberdade enorme, embora, como toda a criança que tem a sorte de ter grandes pai e mãe como eu os tive e tenho-os, fosse proibido de muitas coisas que desejava fazer. Mas, isso é liberdade também, pois a liberdade é utópica, como diria Benjamín Carrario. E agora vista desde o ponto onde me encontro a infância foi uma utopia, pois é lembrança. Nunca mais a teremos, mas ela nos terá para sempre.
Enfim, havia começado falando da música, mas foi assim que aconteceu. A música trouxe-me idéias e lembranças tão distantes dela que seria impossível refazer o labirinto que ela percorreu, os signos que criaram outros signos e outros signos e assim ad infinitum. Entretanto, isso não importa mais, porque esse leque de lembranças agora já é lembrança, logo utópico, pois é perfeito. Seja qual for o cantor, estas lembranças foram tidas e assim já se tornaram verdade da memória. Obrigado, música, pois, havia uma parte da memória que há muito eu não visitava.

domingo, 17 de maio de 2009

Mario Benedetti

Hoy, domingo 17 de mayo de 2009, falleció el poeta uruguayo Mario Benedetti. Aunque una parte de la intelectualidad lo mal valore, fue el Maestro un poeta que armó, en su poesía, combinaciones increíbles con el idioma español, porque las palabras las sabemos todos, cuando usarla casi todos y como ordenarlas son pocos, y entre estos estaba Benedetti. Como crítico apuntó puntos claves de nuestra literatura en un continente subdesarrollado. Como escritor fue de una prosa extraordinaria. Pero, simpre será un poeta. Nuestro Maestro. Con innovaciones, que tomaron mucho de las vanguardias poéticas. No tengo mucho que hablar.Estoy triste. Les dejo con el Maestro:



DESPABÍLATE AMOR

Bonjour buon giorno guten morgen
despabílate amor y toma nota
sólo en el tercer mundo
mueren cuarenta mil niños por día
en el plácido cielo despejado
flotan los bombarderos y los buitres
cuatro millones tienen sida
la codicia depila la amzonia

buenos días good morning despabílate
en los ordenadores de la abuela onu
no caben más cadáveres de ruanda
los fundamentalistas degüellan a extranjeros
predica el papa contra los condones
havelange estrangula a maradona

bonjour monsieur le maire
forza italia buon giorno
guten morgen ernst junger
opus dei buenos días
good morning hiroshima

despabílate amor
que el horror amanece.





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TE QUIERO





tus manos son mi caricia
mis acordes cotidianos
te quiero porque tus manos
trabajan por la justicia

si te quiero es porque sos
mi amor, mi cómplice y todo
y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos

tus ojos son mi conjuro
contra la mala jornada
te quiero por tu mirada
que mira y siembra futuro

tu boca que es tuya y mía
tu boca no se equivoca
te quiero por que tu boca
sabe gritar rebeldía

si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo
y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos

y por tu rostro sincero
y tu paso vagabundo
y tu llanto por el mundo
porque sos pueblo te quiero

y porque amor no es aurora
ni cándida moraleja
y porque somos pareja
que sabe que no está sola

te quiero en mi paraíso
es decir, que en mi país
la gente vive feliz
aunque no tenga permiso

si te quiero es por que sos
mi amor, mi cómplice y todo
Y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Alforriemo-nos

No último 13 de maio, celebrou-se a abolição da escravatura que ocorreu no mesmo dia há 121 anos. Mais de um século depois, observamos como certas atitudes arraigam-se em nossa sociedade e por algum motivo, sem especular Carl Jung, passam de geração para geração e, no terceiro milênio, ainda temos condutas provenientes da era anterior à Revolução Idustrial.
O preconceito e a discriminação não acabaram, apenas se escondem embaixo do tapete de cada um de nós. As atitudes de cada um de nós frente a situações envolvendo pessoas negras faz pormos a mão na consciência para pensar como a escravidão se deslocou, mas não acabou em nossas mentes. Basta, notarmos situações corriqueiras como: um negro mal vestido vs. um branco mal vestido; o salário de um negro vs. o salário de um branco; e a maneira com que nos referimos a um negro: o moreno, como se essa condição política que é ser negro, pois negro é quem se diz negro, e afro-brasileiros somos quase todos nós que nascemos deste lado do Atlântico, fosse pejorativo. Quase todos somos, simultaneamente, africanos e europeus. As palavras ferem, mas os eufemismos também.
Tentemos abolir a escravidão em nós. Darmos a alforria a humanidade que tão precisada está de tolerância e mentes realmente modernas e não simplesmente discursos politicamente corretos e ações assustadoras. E comecemos dando lugar e voz a todos aqueles que merecem e devem ser ouvidos. Pois, nunca deixamos que contassem a sua história. Sei muita coisa da parte da minha família que veio da Europa, e tudo que sei sobre a avô de meu avô é que era negra.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Razão/emoção

O ser é governado pela razão e pela emoção. Não existe época, nem pessoa que seja somente racional ou sentimental, porém o que há é a predominância de um sobre o outro. Impossível enunciar que devemos agir racionalmente diante de algumas circunstâncias, pois a própria escolha da racionalidade está impregnada de emoção. Isto é, a lógica que faz escolher algo e rejeitar o imenso leque de possibilidades que é obliterado não é realmente lógica. Esta, apenas existe depois, quando refazemos o já construído ou pensamos acerca dele, porém tudo que fazemos automaticamente está envolto em uma capa de emoções.
Pode-se discordar ou somar-se a está idéia, contudo a primeira opção a ser tomada será assaz mais emocional que racional, porque o que nos faz voltar atrás é a racionalidade, haja vista que a emoção faz-nos ir para frente. E a primeira escolha, essa efêmera e inapreesível ecolha é a que fazemos com maior grau de emoção do que de razão.
Portanto, razão e emoção deveriam ser pensadas como razão/emoção-emoção/razão. Talvez essa seja a escolha certa, e não atribuir a tudo a razão pura e simples.

sábado, 9 de maio de 2009

Vigília

Quando nos deitamos, após um dia inteiro de atividades, sejam estas física, intelectual ou emocional, embora, se observarmos, as três sempre acontecem simultaneamente, a mente começa a funcionar em estado de vigília e um grande fluxo de idéias apresenta-se-nos. É interessante deixá-las correr, quer sejam boas ou más. Às vezes, desprezamo-las e as relegamos a um espaço mental obscuro, embora possamos resgatá-las tempos depois.
Muitas vezes, em momentos de vigília, fico a pensar se não conseguiremos ter um estado produtivo de vigília, ou seja, que tenhamos condições intelectuais e materiais para fazê-lo. A primeira depende mais de nós, a segunda, predominantemente, da parte social. Os vagabundos de nossa sociedade, isto é, os escritores, os filósofos, os artistas, etc. os que perdem o tempo, ou malgastam pensando, refletindo, problematizando e antecipando-se aos demais, antevendo as mazelas e os problemas que a existência passada causou no presente e a que no presente eclodirá no futuro.
Os vagabundos atrasam a sociedade, em seus moldes. Ainda bem! De algum lugar há de vir a resistência ou a oposição, a deflagração e a busca de soluções ou de alternativas para reestruturar, ou romper e recriar a sociedade ou a arte, mas como esta faz parte daquela, creio que não precisamos mencioná-la separadamente. Não digo que haja um função objetiva, de reivindicação ou luta social pela arte, porém uma possibilidade para observar a relação do homem com mundo em uma determinada época. Portanto, seria positivo que déssemos mais atenção a está filha rejeitada da sociedade em que vivemos, não sei se moderna ou pós-moderna. O problema é que não temos como fazer com que a arte consuma-nos mais, pois, em qualquer momento de crise, ela é a primeira a ser escamoteada para que se salvem empresas ou bancos e os artistas, poetas e filósofos passam a ser parasitas da sociedade, porque todos temos de comer, embora muitos não o façam, e para isso necessitamos ir em busca da realização das necessidades básicas do ser humano. Não posso falar mais, pois este estado de vigília já dura muito e devo dormir, pois amanhã cedo tenho de estar de pé para produzir.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Que não seja profético

O progresso que vivemos é um atraso sem precedentes. Atualmente, percebemos pessoas morrendo de girpe, existe algo mais século XIX? Então, imaginemos um cenário ideal de pessimismo. A humanidade andaria assim:
No século XXI, o desenvolvimento tecnológico alcançou seu apogeu, as invenções nunca antes vistas faziam com que as pessoas tivessem alto grau de conforto e a sociedade baseava a realização do ser humano no ter e não no ser. As pessoas foram alienando-se e não buscavam refletir sobre a existência e os motivos desta. Como as pessoas multiplicavam-se de maneira assombrosa a produção de alimentos acompanhava, com défcit, mas acompanhava essa multiplicação. Portanto, como a quantidade de seres vivos crescia e necessitavam dividir um mesmo território, as pessoas passaram a aglomerar-se e os animais também. Começaram a surgir mutações de vírius, e fez-se preciso que a OMS gastasse um alto valor na saúde, embora o fizesse o número de mortos foi alto e a crise financeira que começara um pouco antes de uma gripe suína desencadeou uma guerra entre potências bélicas.
Durante pós-guerra, a humanidade teve de reestruturar-se, porém o estrago fora enorme. Com uma diminuição significativa dos habitantes do planeta, poderia pensar-se que os problemas da aglomeração estavam solucionados. Contudo, os sistemas de comunicação estavam destruídos e as linhas de produção em série devastadas. O dinheiro que sobrou não tinha muito valor e foi investido no incetivo da produção familiar, pois, haviam sobrado poucos veículos e o transporte dos alimentos não se podia fazer. Logo, as pessoas saíram das cidades, ou do que restara delas, e foram para o campo, entretanto, as terras, em sua maioria, não eram produtivas o que acarretou outra diminuição da população global. A falta de infra-estrutura fez com que a televisão, a internet e o rádio desaparecessem. O telégrafo voltou a operar, como principal meio de comunicação por volta de 2237.
Mas, os fenômenos da natureza foram piorando e a temperatura no planeta era insuportável. O nível do mar subiu muito e porções que outrora foram de terra agora eram salgadas pelo mar. No ano de 2720, o homem deixou de ser sedentário e passou a procurar lugares que ainda davam frutos e nos quais ainda existiam animais. Infelizmente, não se sabe muito sobre alguns anos após essa época, porque, pelo que consta, o homem deixou de usar a linguagem e passou a comunicar-se por gestos, diferente de seus ancestrais o homus sapiens capitalistam destroiderum.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Sabemos o que não sabemos

Quanto mais aprendemos, quanto mais sabemos, mais sabemos e aprendemos o menos que aprendemos e sabemos. Assim, quando somos mais jovens e pensamos que tudo sabemos, percebemos, olhando para trás, o pouco que sabíamos, e, agora, que sabemos mais que antes, notamos o quão pouco temos noção do saber.
Somente um burro, crê que sabe muito ou sabe tudo, pois ja começa por não saber tudo o que não sabe. Funciona como "La biblioteca de Babel", de Borges. O saber bifurca-se e à medida que descobrimos algo novo abrem-se novos caminhos que não percorrêramos ainda.
E nesse rio, cheio de encruzilhadas, vamos fazendo escolhas, voltando a um ponto anterior a fim de refazermos a escolha e vendo que nunca alcançaremos o oceano, e isso é excelente, pois, percebemos a nossa pequenez. Ter consciência que jamais saberemos, em todos os seus aspectos, o que desejamos saber é grandioso e assustador. Se não conseguirmos possuir o saber total, a nossa existência tem sentido parcial. Porém, talvez, seja essa a razão de nossa existência, sua plenitude é reconhecer-se como parcial. Contudo, se essa asserção estiver correta, já sabemos tudo o que deveríamos saber, e o resto é acessório, para viver mais agradavelmente, mas para isso necessitamos tempo que não temos, pois, infelizmente, devemos viver para trabalhar e não o contrário.
Portanto, se a humanidade levou-nos para esse caminho, fluamos pelo rio até onde ele nos levar.