sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A ideologia das palavras

Há certas palavras que não sei como ousamos usá-las. Todo signo, apesar da sua arbitrariedade, tem uma forte carga semântica, obviamente, mas, principalmente, uma enorme carga ideólogica. Bakhtin (ou Voloshinov) dizia que o signo é a arena da luta de classes, o que Raymond Williams retoma para verificar onde se dava a luta de classes em sua teroria marxista cultural.
Pois bem, as palavras empregadas e propagadas, por diversos meios, não as são por ingenuidade. Notemos que, sem entrar no mérito da questão, o Iraque era um país soberano, apesar de um regime ditatorial. Um país estranho e distante, penetra, com suas tropas, em seu território e assistimos às notícias da OCUPAÇÃO dos “soldados” norte-americanos. No entanto, sem entrar novamente no mérito da questão, a constituição brasileira de 1988 da mesma forma que assegura o direito à propriedade privada, assevera que toda a terra que não esteja a cumprir seu valor social deve ser comprada pelo estado com o fim de realizar-se a reforma agrária. E quando o MST, entra em uma fazenda, vemos o alarde dos meios de comunicação da INVASÃO de terras feita pelos “terroristas do MST”. Parece-me, pelo mínimo, irônico.
Enfim, a questão a qual quero chegar é que não tenho a capacidade de compreensão de como usamos a palavra marginal. A sua acepção no dicionário Houaiss é: “que vive à margem do meio social em que deveria estar integrado, desconsiderando os costumes, valores, leis e normas predominantes nesse meio; delinqüente, vagabundo, mendigo.” Bastante prático. O que não está adequado às normas de uma cultura dominante é um marginal. Mas como, mesmo com a total negação das normas, alguém pode estar à margem delas? Qualquer um que for contra as normas e não as aceitar é um marginal? Se assim é, tivemos e temos muitos marginais em nossa sociedade. Paulo Freire, o marginal da educação, Florestan Fernandes, da sociologia, entre tantos outros.
O mais terrível de tudo é que nem o Houaiss nem o Aurélio faz referência a que esses indivíduos não estão ali, na quase totalidade das vezes, porque o querem. Pensaríamos um pouco melhor, se os tratássemos como sujeitos que foram postos à margem. Porém, ninguém está posto à margem, pois nenhuma sociedade conseguiu lugar para todos os indivíduos que a compõem.
Por conseguinte, os ditos “marginais”, são parte integrante da sociedade. E é mais fácil pensarmos neles assim, do que como sujeitos que compõem o mesmo meio social que nós, e que se estão em condições piores, nós somos, em grande parte, culpados pela sua caminhada à beira disto que chamamos sociedade. Ou seja, ninguém pode determinar que esses sujeitos são os marginais porque não seguem normas dominantes, construídas por uma hegemonia dominante, pois como podemos duvidar que não somos nós que estamos à margem do seu meio social?

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