Vivemos em um continente marcado pela heterogeneidade, que fala diversas línguas, desde o português e o espanhol até o inglês, o francês e línguas crioulas, indígenas e africanas, uma América-Latina de diversas etnias e grupos sociais, de uma vasta natureza, que foi, talvez o primeiro referente literário de Nuestra Améria (como a chamou Martí) nas cartas de Colombo. Sem esquecer uma "literatura" anterior como o Popol Vuh e os livros do Chilam Balán. Contúdo, tivemos a explosão de nossa literatura nas décadas de 60 e 70, com o chamado Boom da Literatura Latino-Americana. Por isso não podemos reduzir nossa maior expressão cultural a somente esse período.
Vemos, com freqüência, a massiva discussão, elaboração de teses, foros sobre escritores do Boom. É claro, que García Márquez, Vargas Llosa, Cortázar e Carlos Fuentes são magníficos escritores e, além de venderem uma exorbitância de livros, fizeram uma literatura de altíssima qualidade. Porém, eles mesmos têm suas referências continentais, diferente de que muitos pensam que somente o norte-americano Faulkner influenciou esses escritores. Havia, desde antes do surgimento desses escritores, uma renovação narrativa em nossa literatura. Como é o exemplo do Real Maravilloso, do Cubano Alejo Carpentier, que pensava a história do continente como uma crônica sobre o fantástico, ou do uruguaio Felisberto Hernández, que trouxe muito do legado das vanguardas poéticas para a narrativa, ou, ainda, antecedentes mais antigos, como é o caso de Borges, que além da poesia e da obra ensaística, deixou-nos um legado de contos espetaculares e mostrou que o gênero policial não deveria ser menosprezado. Há um enorme leque de escritores latino-americanos, desde o ciclo da Revolução Mexicana, como Mariano Azuela, a poetas que inovaram a poesia, é o caso de Nicanor Parra com seus antipoemas, que são pouco mencionados no Brasil, quando não esquecidos pelos leitores comuns, acadêmicos, tradutores e, principalmente críticos. Principalmente, pois trazendo à tona o que asseverou o crítico uruguaio Ángel Rama: " la crítica no hace las obras, pero en cambio construye la literatura." Isso para citar apenas alguns autores que este espaço permite.
Trago à luz esta questão, porque creio que devemos seguir lendo escritores como Córtazar, Márquez, etc. mas necessitamos urgentemente redescobrir nosso continente, literariamente, para entendermos nossa situação e apontar novos rumos. Pois, neste momento, desde Tierra del Fuego até o Norte do México, está escrevendo-se literatura interessantíssima que tem de lutar contra nomes já estabelidos no cânone literário. Não nos devemos esquecer que a literatura precisa renovar-se e encontrar novas formas, pois perde espaço frente aos meios de comunicação de massa, e para isso também necessitamos conhecer o novo, para que tenhamos um futuro tão bom quanto foi no passado o Boom e não voltemos a ser colônia intelectual do Norte.
4 comentários:
Bravo, bravísimo. Un propósito que no muchos latinoamericano persigue, aunque sí muchos se llenan la boca con estas palabras. Se necesita muchas veces un grito de guerra para que el escuadrón salga a la batalla. Éste es un hermoso grito de guerra. Muchas gracias, Rodrigo, por estas palabras. Esperemos que abran conciencias.
Benjamín (El anacoreta).
Muchas gracias, Benjamín. Me pongo contentísimo que hayas leído y que te haya gustado. Sin embargo, me gustaría saber como pasaste el obstáculo del idioma.
Duro encuentro si los hay. Pero no si nuestro padre, el latín, nos facilita ciertas similitudes. Además, fue una promesa para el 2009. No puedo dejar este año sin conocer, siquiera tibiamente, la lengua de Pessoa y Machado de Assis, tan melódica como ella sola.
Te sigo leyendo. Y seguimos adelante con la causa latinoamericana (qué neoclásico suena). Yo también, aunque tímidamente, aporto mi grano de arena. Saludos.
Benjamín.
Me alegro mucho que lo leas, pues sabés que te admiro mucho
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