segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Cidade do interior

Roubo este argumento à minha mãe, que olhando da janela afirmou que as cidades do interior se parecem e são todas tristes à noite. Há um silêncio que incomoda.
Olhar uma cidade pequena do interior pela noite é realmente triste. O silêncio que enche os ouvidos de um vazio aterrador é mórbido. Saber que não há nada para fazer coletivamente traz-nos um sentimento paradoxal de claustrofobia no espaço aberto e solitário. É uma impotência querer sentar-se com um amigo em um bar, pedir uma bebida e discutir sobre música, literatura, cinema ou falar da filosofia da cotidianidade, que nada mais é que, em uma linguagem mais rebuscada, falar besteiras, e não poder por não haver meio. Deprimente é querer ir a um espetáculo, a um museu, a recital e ser privado pela falta de estrutura e de atividades em cidades pequenas do interior que tanto se parecem.
Mas não somente pela noite elas se assemelham. Durante as manhãs e as tardes, a pouca velocidade que os corpos empregam, o tempo de sobra para pôr-se a olhar vitrinas conferem-lhe esse ritmio lento e corriqueiro das cidades interioranas. Às vezes pensamos que tudo que há (pois as perspectivas são ínfimas nesses lugares) para fazer é esperar a vida passar, com o mesmo passo lento que ela se desenvolve até que a morte chegue e peguemo-nos pensando que não fizemos nada e que tudo passou tão devagar e é impossível voltar alguns segundos para refazer o que deveríamos ter conduzido de outro modo.
Então, se a vida passa dessa forma em diversos pequenos luguares do planeta, talvez somente percebamos a tristeza durante a noite, pois durante o dia pensamos em outras coisas que não a nossa vida, pois temos de produzir para continuarmos no mesmo lugar, e os culpados de tudo isso, muito provavelmente, sejamos nós, com nossas cabeças provincianas, que pouco reivindicamos melhoras e não gritamos pedindo tudo aquilo que queremos: mais tempo para nós e para vivermos nossas vidas com a qualidade de uma tranqüilidade agitada pelo estresse do pensamento e da reflexão, que deveriam ser nossos únicos soberanos.



2 comentários:

εϊз Anne Cris εϊз disse...

[eu postei com o login da Laís, agora vou com o meu]
Cidades interioranas são complicadas.... para nós que conhecemos outras realidades, porque quem nunca saiu delas não tem como fazer esse tipo de comparação... e talvez sinta até falta de alguma coisa para sentir falta nestas noites de divagação na janela...

Anônimo disse...

Nossa. Não tinha pensado nisso. Perfeito.