quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Livramento um ano depois

Há aproximadamente um ano, publicou-se neste espaço um denúncia, um apelo, um desabafo sobre o descaso das autoridades locais com a minha cidade natal: ttp://pensamentofascinante.blogspot.com/2009/12/faroeste-gaucho.html . E nesse um ano muita coisa mudou, então venho aqui para...desabafar, denunciar, notificar que essa mudança foi para pior.A situação de descaso mudou? Sim, está bem maior.
Ano passado, com a recusa de aumento de salários dos lixeiros por parte da prefeitura municipal, houve a greve daqueles trabalhadores, deixando a olhos vistos a sujeira da cidade. Neste final de ano, o problema é outro, pois o problema é os problemas. Falta de respeito, falta de planejamento, falta de autoridade, falta de concorrência e represálias com os que se opõem à situação de desatenção com a cidade, e cada uma dessas situações incômodas interrelacionam-se, gerando uma grave crise na cidade. 
A companhia de energia elétrica resolve trazer benefícios para cidade, realizando a troca dos postes de iluminação pública. Que maravilha! Não fosse a data, a semana entre Natal e Réveillon. A cidade está cheia de pessoas, a maioria é gente daqui que mora fora, as geladeiras estão cheias também, o calor insuportável, logo ótima data para que fiquemos as tardes inteiras sem energia elétrica, grande planejamento. Muitos podem pensar, não se pode nem desfrutar dessa água gelada deliciosa que escorre pelas torneiras proveniente do aqüífero Guarani. Contudo, aqui o problema é outro, pois também, por algum problema, há um corte no abastecimento de água. Pensei na hora em ligar para alguém para contar esse fato, em publicar esta denúncia na hora do acontecimento, no entanto, a única companhia de telefonia fixa que opera na cidade, aqui o monopólio impera, estava realizando a manutenção das linhas, justamente nessa data, e não havia nem telefone, nem internet. Então, não tínhamos água, luz nem telefone, foi para brincar de século XIX, claro que com o calor que todas tecnologias geraram devido ao impacto da mudança que transforma o clima diariamente. Além de tudo isso, a prefeitura viu-se no direito de subir as tarifas do serviço de água. A boa notícia seria que um vereador mudou seu voto, graças a pressão popular, ao que tudo indica, e votou contra o aumento, dando a vitória à oposição e rejeitando a suba na tarifa. Entretanto, o vereador, logo após o voto, ainda na câmara de vereadores, foi avisado que um veículo do departamento de água e esgoto do município, o DAE, havia dirigido-se à sua casa e cortado o fornecimento de água na casa do político. Uma represália que mostra Livramento cada vez mais próxima ao Faroeste do pampa.
Portanto, diante de tamanho descaso e falta de respeito, parece que não basta às autoridades locais expulsarem os filhos da terra pela falta de perspectivas que a cidade apresenta,haja vista que a população nos últimos 10 anos diminui de 90849 habitantes para 81964 (segundo os dados do IBGE) também parecem não mostrar a mínima vontade que essas pessoas voltem para visitar seus familiares, rever seus amigos e lugares de sua infância e adolescência. "Livramento, ame-a ou deixe-a"! 

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sombras natalinas


Uma vaga, curiosa e estranha ausência começa nesta época natalina. Não sei ao certo o que é, mas me sinto como se fosse uma sombra, como se todos nós fôssemos sombras. Sim, apenas sombras. Hoje, uma pessoa disse-me que as sombras poderiam representar a essência do ser, mas eu relativizaria tal assertiva, pois acho que as sombras representam justamente a aparência, projeções de nós, variando conforme a angulação solar.

Assim, sinto-me a mim e aos outros também na época de Natal. Neblina, tudo vira neblina, como em um dia ansiosamente aguardado para fazer algo ao sol que amanhece nublado, cinza e frustra nossas expectativas. Bem, em relação ao dia sem sol, até posso entender o motivo da tristeza da apatia que se nos apodera, do tédio que no abate, entretanto, no Natal, não sei qual é o motivo, senão ser Natal. Nunca tive problemas, sempre foi uma data para ser feliz, família reunida, amigos, presentes, comida, festa, contudo, à medida que a data se aproxima, um sentimento negativo, inexplicavelmente, se apodera de mim. Esse sentimento é corroborado por cada criança com fome na rua, por cada pessoa de escassas condições sonhando com um Natal cujo banquete nada mais do que o que temos cotidianamente. Natal é triste, é sem graça, o único bom é ser marca que falta apenas uma semana par o Ano Novo, data na qual as sombras se desfazem. 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Amanhã começa

Não é muito comum, ou melhor, é, praticamente, inexistente a presença desse tema neste espaço, mas a ansiedade está me dominando, e eis que surge um agente complicador: a impossibilidade de um mesmo corpo ocupar dois lugares ao mesmo tempo.
Amanhã, começa, para o Inter, o Mundial de Clubes da FIFA, e, como muitos sabem, tenho uma doença por esse time, afinal é minha paixão mais antiga, mais antiga ainda que as letras, pois quando aprendi a ler já era colorado. O agente complicador é uma prova final de literatura portuguesa amanhã na hora do jogo. Não deixarei de fazer a prova, porém terei minha capacidade de concentração diminuída consideravelmente.
Bem, a questão é que todo o fanatismo, seja ele qual for, é péssimo, então não me considero um fanático, senão um apaixonado, um romântico em relação ao Campeão de Tudo. Sim, tenho brigas terríveis com ele, fico de mal (as pessoas dizem: "não adianta, você aí furioso e os jogadores ganhando milhões), mas não brigo com jogadores, brigo com o time, os jogadores, assim como nós seres humanos, passam, o amor pelo clube é transcendente, é inexplicável, é egoísta e generoso, é exigente e complacente!
Então, espero que amanhã comece mais um capítulo de uma história terminada com lágrimas de alegria, gritos de explosão, catarse de emoções! Gritemos, vibremos, torçamos! Vamos, Inter!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Seco

Certa vez, contou-me um amigo uma história sobre um homem seco. Ele me dizia que esse homem fora extremamente emotivo e sensível ao longo de sua vida. Via um cachorro sendo maltratado e abria a torrente de lágrimas; lembrava-se de algo triste, caía aos prantos; algo perturbava-o, chorava de maneira incontrolável. Mas um dia as lágrimas secaram quase que completamente. Uma catástrofe acontecia, e o homem parecia impassível; alguém muito próximo adoecia gravemente, e ele parecia indiferente. 
Contudo, meu amigo disse-me que havia algo de diferente nesse homem, pois ele não permanecia inalterado, senão suas lágrimas haviam secado. Achei a história um pouco estranha e havia me esquecido dela, até que conheci, tempos atrás, esse homem, tornei-me seu amigo íntimo, ele contou-me, então, sua peculiaridade. Não fosse ouvir de sua boca, não acreditaria naquilo. Ele se abalava da mesma forma que dantes com o que de ruim lhe acontecia, sentia toda tristeza e angústia próprias desses momentos, mas não chorava, aliás, segundo ele chorava, mas sem lágrimas e dizia que era pior do que chorar compulsivamente; primeiro, porque não consegui tirar a angústia e a tristeza de si, mantendo-as em seu interior, sem expurgá-las, mantinha-as no seu interior sendo cada vez mais abalado por essas coisas; segundo, porque as pessoas acreditavam que ele era um homem seco, incapaz de sensibilizar-se diante das adversidades. 
Essa é a história do homem que todos achavam que era seco por dentro, e vocês não sabem o que é pior, percebi que ele era mais infeliz que o mais emotivo dos homens. 

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Gostos

Às vezes atribuem à maturidade a característica de ser uma fase na qual nossos gostos mudam. Na verdade, não há transformação, há aceitação. Nossos gostos estavam ali escondidos sob máscaras de aceitação nos grupos, pois a adolescência é uma etapa cujas decisões vêm pautadas pelo selo da tribo à qual pertencemos ou tencionamos pertencer. Claro, há a mudança da vida, que modifica o ser em diversos aspectos, inclusive, nos gostos. Contudo, não estou me referindo a mudança de gosto para algo superior, cujo trabalho com abstrações, incorporações de estruturas novas, mas ao gosto de algo que não aceitávamos anos atrás.
Quando temos quinze anos, somos rebeldes (cada vez menos isso vem acontecendo) e marcamos nossos gostos não só pelo que os demais do grupo exigem, como também pela discordância que temos a priori com os mais velhos; se eles gostam de X, mesmo gostando também, não gostamos de X, e esse é o xis da questão. Aquele gosto fica lá e de tanto ser prescindido acabamos, realmente, desprezando-o, no entanto ele ataca novamente. Mais velhos ou mais maduros, pelo menos, começamos a observar o valor emotivo (e que é o gosto senão um apelo emotivo que agrada ou desagrada?) que ele representa e passamos assumir e a aceitar esses gostos. Para especificar a questão, refiro-me a gostos musicais, literários, estilísticos, enfim uma série de gostos. Uma vez aceitos esses gostos eles se misturam aos forjados e criam a idiossincrasia do sujeito, uma parte de essência, outra construída socialmente. 

domingo, 17 de outubro de 2010

Solidão

O medo de que a única voz ouvida seja o eco da nossa é constante. A solidão é estar em companhia consigo mesmo, e nós somos tão rudes, tão maus, tão egoístas em nosso íntimo a ponto de nos refutarmos.
Estar só é estar acompanhado de tudo que se esconde dos outros, é estar com o eu que não mostramos a ninguém, é estar com nossas angústias, anseios, nossos desejos, nossas buscas, nossas recusas. Estar só é obrigar-se a estar acompanhado do silêncio eloqüente do nosso âmago, é escutar a voz interior contando-nos como somos de fato, o que temos de essência e o que mudou.
Mas, estar só é saber observar erros e acertos, é glorificar-se pelo que nos agrada, é arrepender-se das escolhas (e das renúncias, uma não vem sem a outra), é saber que a nossa existência é extremamente importante para nós apenas. Mas isso é o mais importante, pois somos nós os responsáveis por ela, e é a nos que deve interessar.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Latinidade II

(Continuação)
Contudo, idiossincrasias todos os países latinos têm. Seja na variedade lingüística, na literatura, no Estado, na forma de conduzir a economia, no liberalismo ou conservadorismo do seu povo, seja na visão de mundo própria do país. Apesar de todos esses itens citados, compartilhamos mais semelhanças do que diferenças. A primeira é nos opormos ao Ocidente. Na verdade, não uma oposição, mas uma mágoa por sabermos que não somos parte disso convencionadamente chamado Ocidente no qual temos desejo de intrometermo-nos. Fomos colonizados pelo Ocidente e nos liberamos da servidão por seus filhos criollos que deixaram uma forte chaga de semente no solo latino que até hoje faz florescer caudilhos populistas em estações políticas semelhantes à primavera compartilhadas pelos latinos.
É interessante percebermos essas diferenças e semelhanças, pois elas nos fazem perceber o outro; perceber que não somos únicos e elementos culturais são convenções que se enraízam em nossas mentes. Sim, as fronteiras são a maior ficção inventada pelo homem. Basta retornarmos ao meu local de nascimento para observar que idiomas, países, pessoas e inclusive horários diferentes, em alguns meses do ano, apenas se diferenciam por questões convencionadas. Assim, latinos de duas identidades compartilham suas diferenças produzidas pela cultura sem perceber que somos mais parecidos do que diferentes. Se essa fronteira tangível evidencia tal fato, todas as demais fronteiras latino-americanas podem fazer o mesmo, basta que nos entendamos como produtos dessa mesma cultura. 

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Latinidade I

Nasci em um lugar muito peculiar, mas apenas percebi isso quando me afastei dele, fui a um ponto onde ninguém o conhecia e a curiosidade estava criada. Senti-me dono do segredo, poderoso conhecedor de uma realidade nova para todos e, neste momento, para mim também. A fronteira, meu lugar natal, já é algo ambígua por natureza, no entanto, imaginem quando o local é diferente das outras fronteiras do mundo. Sim, não há águas que a dividam, nem pontes, nem alfândegas, senão as ruas principais de um país acabando nas ruas principais do outro. À medida que as pessoas vão observando as peculiaridades dessa fronteira, o trânsito livre de seus cidadãos, os idiomas diferentes com perfeito entendimento de ambas as partes, vão criando uma curiosidade à Eldorado de um lugar distante.
Meu pai, uruguaio típico, minha mãe, representante da brasilidade encravada em uma língua portuguesa limpa e estudada, comunicam-se perfeitamente, dividem sentimentos e um filho.  Isso aponta uma situação de latinidade. Isso também apenas percebi quando estava distante. Na Argentina, conheci além de argentinos, obviamente, mexicanos, paraguaios, chilenos, peruanos, guatemaltecos e europeus. Observamos, os latinos, que o primeiro requisito de latinidade era negá-la, era dizer que latinos eram os outros. “Uruguaio, você é bem latino”, “não. Latinos são os mexicanos.” “Mexicano, tu és o exemplar do latino-americano!” e ele respondia: “Latinos são os centro americanos”, “Guatemalteco, o estereotipo do latino.” “latinos são os chilenos”, e assim ad infinitum. Os brasileiros nem se menciona como negam essa latinidade, haja vista o idioma que nos afasta e uma série de idiossincrasias.
(Continua)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Quem sou eu

Há uma lacuna no Orkut, sim no Orkut, que vem me intrigando há bastante tempo. Na página de apresentação do perfil, existe um espaço para ser preenchido: quem sou eu. Mas isso é pergunta que se faça? Não sei quem eu sou. Isso é muito complicado, muito polêmico. Dizer quem eu sou é como conceituar a mágoa, a existência, o amor, enfim tudo cuja carga subjetiva é primordial a sua definição; e não existe nada mais subjetivo que nós mesmos.
Afinal, eu sou o que penso que sou ou que os outros pensam que sou? Serei um desses ou todos esses? Serei um sempre eu ou uma continuidades de eus só perceptíveis pós morte? Nessas definições, há uma heterogeneidade de conceitos, muitas vezes radicalmente opostos, que se vão perpetuando ou remodelando.
E o pathos? Não levamos em conta o que os outros pensam que somos para adequar-nos, se nos agrada, para desmitificarmos o conceito, se não.
Enfim, tudo que posso é entrar na Tabacaria com Fernando Pessoa e concluir que:
                                   Não sou nada.
                                   Nunca serei nada.
                                   Não posso querer ser nada.
                                   À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. 

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Primavera

Hoje é a entrada da primavera. No Brasil, não damos muita importância a essa data, ao passo que, em países como a Argentina, 21 de setembro é dia de folga para os estudantes, que se reúnem nas praças, fazendo piqueniques. Neste 21, nesta cidade sulina, Santa Maria, a primavera foi recebida com clima outonal, chuva, vento e temperatura abaixo da que já nos acostumáramos. Não, não, não, esta não é uma postagem meteorológica.
Quero, na verdade, retornar à pauta que vem sendo tratada nas últimas postagens do blog, as convenções. O nosso tempo moderno é linear, desloca-se para frente sem que haja repetições ou retornos, já para os gregos o tempo era cíclico. Havia um eterno retorno ao nascimento, simbolizado pela primavera. Assim, o nascimento era a primavera, passando pelo auge no verão, agonizando no outono, morrendo no inverno para renascer na primavera.
Essa noção implica uma perspectiva diferente da que temos. Somos levados a entender a existência, a história e tudo que esta última leva consigo, como uma construção progressiva que nos carrega para o fim. Vemos, no futuro, o fim, o ponto final e não a possibilidade de uma renovação, de que todo o fim é um recomeço embora esse recomeço seja sem nós.
Toda essa fala em catadupas é apenas para dizer que a percepção do tempo muda e com ela a nossa percepção de nós mesmos e da existência. Seja bem-vinda, primavera. Mais um recomeço em nossas vidas.