sábado, 26 de setembro de 2009

Estamos sempre presos

Questionamos o mundo ou questionamos a nós mesmos? Talvez, a ambos. É-nos complicado pensar outro modo de vida diferente do que levamos. Não um pensamento referente a como seria minha vida se eu fosse palestino ou mulher, mas pensar em um mundo cuja estrutura fosse completamente distinta da nossa.
Se pensarmos que o berço da civilização ocidental é a Grécia, deveríamos refazer a trajetória de toda a herança cultural por ela deixada e observar que pontos cruciais modificariam nossa construção sócio-cultural. Contudo, podemos pensar nos gregos como herdeiros de uma cultura africana e que os postulados culturais tivessem-nos chegado por meio desta. Mas, há, ainda, mais uma questão de forte pressão que nos levou a ser o que somos: o cristianismo, ou o legado judaico-cristão. Pois, o monoteísmo exerce a exclusão, o rechaço dos deuses, o que nos leva sempre a termos escolhas que converjam para o único, que se trabalhem com eleições nas quais a vitória de um é a dissipação do outro, que não consegue conviver, harmonicamente, com as diferenças. E se o monoteísmo comporta tais características, o cristianismo acentua-as. Pensemos, por exemplos, nos mouros que durante oito séculos ocuparam a Península Ibérica, eles conviveram, pacificamente (termo que deve acarretar diversas restrições), com os habitantes do lugar, permitindo os cultos religiosos, as manifestações culturais, etc, recíproca que não ocorreu, por parte dos cristãos, no momento da reconquista.
Mas a questão é que estamos arraigados aos paradigmas construídos ao longo da história e herdados por nós. Isto é, podemos questionar tudo, pois nada é natuaral (falo em relações sociais), mas não modificaremos quase nada, se conseguirmos modificar algo. A primeira mudança do ser é a interior, mas, por mais que questionemos, mudaremos, apenas, uma pequena parcela, haja vista a impossibilidade de mudarmo-nos totalmente. O que está dito é: pensemos, questionemos, para exercitarmo-nos intelectualmente, para buscar compreender como o mundo funciona, para tentar mudar algo com que não concordemos, mas não nos esqueçamos de que sempre estamos presos a diversos paradigmas sócio-culturais.
"... obedecer é mais fácil que entender. Era? Não sou cão, não sou coisa. Antes isto, que sei, para se ter ódio da vida: que força a gente a ser filho-pequeno de estranhos..."
Grande Sertão: Veredas. Guimarães Rosa.

5 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Pensar já um grande ato diante de tudo. Já seria um bom início. Depois a reflexão, a inflexão, para depois a práxis. Talvez por esta ordem o caminho melhor.

Meu abraço, Bentancurt.
Continuemos...

Unknown disse...

Se todo indivíduo conseguisse realizar uma alteração interior (amadurecimento emocional intra e inter-pessoal)a cada dia que passasse, ao final de um ano teríamos um mundo melhor de se viver... A primeira revolução necessária é a interior!

John Rômulo disse...

Penso logo existo!
O pensamento,o pensamento propio,é a única coisa que nos pertence na verdade! Nen mesmo o corpo...
Cuido muito dos meus pensamentos,gosto de pensar sobre mim e sobre tudo.Pensar profundamente!


ótimo blog! esterei sempre aqui!

Rodrigo Bentancurt disse...

Obrigado,John. Seja bem-vindo.

Anônimo disse...

Nunca seremos livres o suficiente, mas a liberdade que dispomos , se é necessário para o extremo sensível e caotico do existi!

Beijos
De quem te gosta,

Fyllos.