sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A tristeza

Quanta tristeza se abala em nosso peito pelo simples fato de sermos o que somos e termos medo que a felicidade, esse instante que assim se chama, acabe. A tristeza, muitas vezes, aparece, no momento, de maior alegria, transvestida de angústia, e esta provém da incerteza de duração contínua da felicidade. Pois sim, temos dificuldade, desconfiança, afinal somos sujeitos pós-modernos (embora eu não entenda muito bem o que isso significa), do que nos acontece de positivo.
Assim como descremos da boa esmola, é uma característica nossa buscar sempre obter vantagem sobre os demais, então desconfiamos do gesto gratuito; assim como lutamos pela liberdade e quando logramos o seu esboço, arrasamo-la e perseguimos tempos de enrijecimento; assim como desejamos o tempo livre, o ócio, o descanso, notamos o deprimente que é um domingo de chuva, não sabemos como usar o tempo; assim como perseguimos a felicidade, quando tocamos esse efêmero momento, não sabemos o que o fazer, aterrorizamo-nos com medo de que acabe, logo não nos aprazemos e, dessa forma, damos lugar a angústia, para que esta descambe para a tristeza.
Não sei se na maior parte do tempo somos tristes ou felizes, ou apenas somos. O que, na verdade, podemos perceber é que a tristeza é mais duradoura que angústia, porém isso pode ser relativizado, pois temos a impressão que o tempo dura mais nos estados negativos que nos positivos. Duas horas de tédio são muito mais tempo que duas de diversão. Destarte, a impressão de duração da tristeza é maior que a da felicidade. Contudo, há um agravante já mencionado: é bastante mais difícil, em um momento de tristeza, a alegria sobrepujá-la que o contrário. Ah, e esses sentimentos são o que são e não os controlamos, infelizmente.
A inexorabilidade dos sentimentos fá-los guiar-nos. Somos tomados pelo êxtase ou pela depressão e não conseguimos combatê-los, por essa razão apelamos a remédios, e somos seres dopados para a vida, pois é assaz complicado agüentá-la de cara limpa. O que podemos tirar disso? É que não conseguimos suportar a vida, esta é um fado e cada um busca solução onde é mais fácil encontrar a saída: remédios, bebida, drogas, suicídio, ou todos. A vida é triste por natureza, cabe-nos vivê-la, o único que não saberemos é o porquê. Talvez, se o soubéssemos a vida fosse feliz, mas, com certeza, não seria esta.

2 comentários:

uma poetinha... disse...

Triste? pode até ser...por isso, todo mundo vem com um kit tintas para colori-la, e ela ficar boa de se viver...
bjinhos

f milach disse...

ótimo texto! o ser humano é assimétrico na sua percepção de alegria e de tristeza. concordo contigo quando colocas que a vida é triste por natureza. na verdade, penso que, se não fosse pela idéia de tristeza, a alegria dificilmente ocorreria.