quinta-feira, 4 de junho de 2009

Eus

Somos todos sujeitos inéditos, únicos, irrepetíveis. Somos um com caractrísticas e escolhas peculiares que nos tornam o que somos. Contudo, somos muitos em um só. Somos o resultado das experiências malogradas e das exitosas. Somos o que vamos recolhendo e o que nos modifica. Somos, concomitantemente, diferentes e iguais a nós mesmos.
Ninguém é igual. O máximo que podemos ser é semelhantes aos outros cujas características espirituais, morais, sentimentais, aproximam-nos, por termos trajetórias parecidas. Ora, isso aparenta ser bastante lógico, portanto não haveria necessidade de pensarmos acerca de tal assunto. Porém, somos diferentes de nós mesmos. Somos um uno idivisível dividido, um receptáculo de nós. Somos os mesmos, em essência, de quando tínhamos três anos, quinze, vinte e cinco ou sessenta, mas, se pensarmos um pouco, vemos que somos outros, ou pelo menos deveríamos ser. Sinto, hoje, que as pessoas de quinze anos são mais parecidas comigo de quinze anos, do que eu, hoje, comigo mesmo quando tinha quinze anos. Pois, assim flui a vida. Temos fases, gostos, vontades, desejos, repressões, esperanças, desilusões típicas da fase que vivemos, e isso nos faz diferentes dos outros e de nós.
Essas diferentes representções de nossos eus fazem-no crescer e mudar, fazem-nos ser quem somos. Nossas escolhas levam-nos a caminhos diferentes e a construirmos a nós mesmos de forma diferente. Quando fazemos uma escolha, e sempre as fazemos, abrimos mão de um leque assaz significativo de caminhos, ou seja, estamos a forjar-nos de uma maneira em detrimento de outras, e assim somos o que somos, pelo fato de sermos outros. Mas, a cada escolha, modificamo-nos e transformamo-nos em outros, agregamos experiência, absorvemos a vida e o que nos redeia.
Então, a pesar de sermos os mesmos, somos outros. Somos o conjunto de eus que nos constituem. Somos a estrutura em aberto do que depositamos em nós. Ou seja, tautocronamente, somos o que fomos, pois isso é que nos faz ser quem somos, e não somos quem fomos, porque se a essência é a mesma, o restante é diverso. Isto somos: seres fragmentados de seres em um único ser. Somos a união na diversidade.

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