Temos requerimentos sociais sempre. Embora não concordemos com diversos aspectos da demanda social, devemos cumpri-los afim de conseguirmos viver. Se não concordamos com o pragmatismo, devemos, diversas vezes, ser pragmáticos; se não concordamos com o capitalismo, temos de receber o salário proposto pelo patrão; etc.
Como já se mencionara em outra postagem, não podemos viver em uma redoma de vidro, pois necessitamos de aceitar múltiplos fatos que não queremos e relegar, a um segundo plano, coisas que, deveras, agradam-nos. Então, entramos na crise de identidade que sofrem todas as carreiras da área de humanidades. Pois, o que fazemos não serve, pragmaticamente, para esta sociedade, por conseguinte tornamo-nos loucos, vagabundos, imprestáveis. Contudo, o que fazer com o conhecimento acumulado? Há diversas pessoas que buscam um fim prático para isso e enjaulam-se em um discurso cujo teor não corresponde, plenamente, aos pragmáticos e, simultaneamente, distancia-os de sua área original das humanas. Sigamos com os poréns. Entretanto, outrora, pela forma como se tinha a concepção de mundo, por parte dos sujeitos ou, mais antigamente, dos indivíduos, era possível enriquecer o intelecto. Atualmente, isso de nada serve se não se ganhar dinheiro. Assim, não somente os valores intelectuais, se não também os de caráter, os morais são rechaçados para cumprir-se o objetivo de angariar fundos para si.
Essa crise de identidade se agrava (claro que menciono isso porque estou imiscuído nesses fatos), principalmente, com quem trabalha com artes. A literatura não tem uma razão de ser, no senso comum, que não seja o entretenimento, então para que alguns estudam a diversão dos outros? Não se deve procurar na literatura algo mais que ela mesma. Todas as formas e expressões, representações e transfigurações que ela carrega consigo podem levar-nos a uma série de arquétipos tão antigos quanto a própria literatura, porém esta nos mostra sempre, ou melhor, tem em estado latente a visão de mundo do sujeito criador. Destarte, podemos aprofundar uma citação de Friedrich Engels, na qual afirmava ter aprendido mais sobre a história da França lendo Balzac que em livros de história. Essa afirmação vai além do realismo (ponto discutível)da obra do escritor francês, pois denota que se podia apreender a visão dos sujeitos sensíveis aos acontecimentos contemporâneos a si. E o que se está a esquecer é essa importantíssima dimensão não só da literatura, mas das artes em geral.
Por sua vez, esse esquecimento traz consigo conseqüências trágicas à sociedade. Observemos a falta de escrúpulos de grande parte dos políticos, a corrupção presente em todos os níveis da estrutura social. Entramos em um círculo vicioso, porque o pragmatismo afasta-nos de nossa essência humana e, afastados, tornamo-nos mais pragmáticos ainda. Solução? Não tenho idéia, afinal não posso perder muito tempo pensando, pois tenho mais o que fazer!