Às vezes, por não sabermos os rumos que o sujeito toma ao longo da vida, por não sabermos ou não acreditarmos que existe algo além desta, por não compreendermos o sentido da existência, cria-se um vazio em nosso espírito.
O vazio espera para ser preenchido, porém ele é que nos preenche de nada e tudo que podemos fazer é tentar subsituí-lo por algo cuja função é desfazer o vazio. Na verdade, somos vazios na essência. O vazio, contudo, não é substituível, ele apenas preenche um espaço que estava vazio e passa a ficar cheio do vazio quando antes era vazio de tudo.
Os sentimentos vivem por ênfase, talvez, interpretativa. Eles estão todos aí: o amor, a raiva, o ódio, a angústia, a saudade, etc., e alguma fagulha faz alguns preponderarem em relação aos demais. Na mesma senda, podemos pensar que a ênfase dada a alguns sentimentos pode durar segundos ou anos, gerar gozo ou depressão, e a felicidade, que vem da alegria, dura momentos. Pois, geralmente, (invertendo a sabedoria popular) depois da bonança vem a tempestade. Amiúde, nos momentos de felicidade, estamos a um passo da tristeza, e à medida que nos afastamos desta, paradoxalmente, aproximamo-nos mais. Estamos felizes e o medo de que a felicidade acabe fá-la acabar. O vazio instaura-se, em nós, depois que a projeção é realidade, ou seja, desejamos algo, com o mero fim de que isso nos realize, e quando obtemos o desejado (seja ele amor, sucesso, dinheiro, cultura, sabedoria, prestígio) a realização é menor do que imaginávamos. Então, procuramos outras coisas para forjar, a nós mesmos, que isso sim nos realizará. Pronto! Estamos cheios de vazio.
Portanto, digo que somos vazios na essência, porque, a não ser as emoções de alívo como a dor, a fome, o sono, as demais construímo-las culturalmente. Antes, éramos vazio, em diversos momentos o vazio domina os demais sentimentos, como um único tirano que subjuga um povo inteiro, e, finalmente, para o vazio vamos. O que nos resta é tentar deixar os espaços vazios de tudo sempre cheios de algo, se não o vazio enche os espaços vazios de tudo de vazio vazio.
3 comentários:
oi, rodrigo. belo texto sobre o vazio humano, quanto mais numa época em que estamos condicionados a preenchê-lo com tantas formas menos nobres do que as que citastes por aqui. vou te favoritar :)
Lindíssimo, querido Rodrigo, posso assim chamar-lhe?
Adorei seu blog,sua forma excentrica, poética e filosófica de expressa.Somos o vázio enquanto existimos, o que a própria psicanálise caracterizaria como a falta,somos feitos disto, de amplitude e vácuo.Posso acompanhar-te?Seria uma honra.Para que,possamos trocar ideias e dialeticarmos.
Abraços....
Um linda semana!!
Claro que podes. Fica à vontade, pois este espaço aqui está para isso.
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