
Fernando Pessoa, além de poeta, foi um dramaturgo da não literatura (não encontro melhor expressão para o que o senso comum sói chamar vida real). Em um mundo que estava à beira da primeira grande Guerra, nascem os heterônimos de Fernando Pessoa. Cada um com seu estilo, com sua biografia, com seu mapa astral, com a sua poesia. É incrível lermos um poema de Alberto Caeiro e uma ode de Ricardo Reis e reconhecermos, facilmente, que se trata de poetas muito diferentes entre si, porém, empiricamente, foi a mesma mão que os escreveu. Esses heterônimos eram personagens de um mundo cotidiano, publicavam artigos, trocavam correspondências e procuravam, através de textos - e de outra forma não o poderia ser - comprovar a sua existência como homens de carne e osso.
O teatro de poetas de Pessoa tinha suas personagens principais no modernista Álvaro de Campos, no pastor metafísico Alberto Caeiro e no clássico produtor de odes Ricardo Reis, este residente no Brasil. Cada um desses poetas cria uma imagem de poeta e, por conseguinte, um eu-lírico que torna difícil acreditarmos nas questões de um autor enquanto sujeito no mundo, senão como mão que deve escrever. Afinal, já não estou a falar da biografia.
Pois bem, Fernando Pessoa poeta e dramaturgo da poesia, entendamos o dramaturgo como criador de poetas, funcionário público português e com ligações a certo ocultismo de Alister Crowley, o mesmo que era cantado por Raul Seixas. Creio que da vida do poeta é o que tenho a falar, porque da neurastenia acho que é prescindívil devido ao fato do esforço intelectual dispensado pelo poeta.
Portanto, sem especulações sobre a sua e vida e com um deleite propiciado pelos poetas que foi Fernando Pessoa, inclusive quando assinava seu nome de registro, que nos pode importar a sua vida? Nada. Temos a sua poesia.
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