Hoje, ao acordar-me, aconteceu-me algo que ocorre-nos a todos, tinha uma música na cabeça por razões cujos psicanalistas explicar-me-iam. Porém, prefiro recair no senso comum e ficar sem entender o motivo desta lembrança. O essencial é que tinha uma múscia na cabeça, mas deparei-me com um grave problema, o de gênese. Provavelmente, haja ouvido essa música antes, embora não lembre quando, nem quem a cantava, nem mais de sua letra que um mísero verso.
Talvez, tenha-a ouvido há muitos anos, creio eu que há aproximadamente quinze anos, quando eu beirava os dez de idade. A execução era feita pelo excelente músico uruguaio Alejandro Massiotti que, como a maioria dos talentos uruguaios, teve a necessidade de deixar a sua pátria para obter o reconhecimento pela sua música. Contudo, não posso afirmar com exatidão que haja sido assim. O que tornou a lembrança da música mais interessante foi a quantidade de outras memórias que a acompanharam, sejam estas certas ou não. Digo certas ou erradas, porque se a música não foi executada pelo músico na situação da qual me lembrei, são erradas as lembranças e deveriam ser outras no lugar destas.
Lembrei-me de Rivera, no uruguai, em uma época que a infância fazia pensar que o mundo era ali, que tudo chegava ali, que tudo passava por aquela bonita cidade interiorana. Naquele lugar, ergueram-se muitas de minhas características que, posteriormente, desenvolveram-se ou ficaram estagnadas em mim. Lembrei-me de uma idade em que as responsabilidades eram pequenas e a liberdade enorme, embora, como toda a criança que tem a sorte de ter grandes pai e mãe como eu os tive e tenho-os, fosse proibido de muitas coisas que desejava fazer. Mas, isso é liberdade também, pois a liberdade é utópica, como diria Benjamín Carrario. E agora vista desde o ponto onde me encontro a infância foi uma utopia, pois é lembrança. Nunca mais a teremos, mas ela nos terá para sempre.
Enfim, havia começado falando da música, mas foi assim que aconteceu. A música trouxe-me idéias e lembranças tão distantes dela que seria impossível refazer o labirinto que ela percorreu, os signos que criaram outros signos e outros signos e assim ad infinitum. Entretanto, isso não importa mais, porque esse leque de lembranças agora já é lembrança, logo utópico, pois é perfeito. Seja qual for o cantor, estas lembranças foram tidas e assim já se tornaram verdade da memória. Obrigado, música, pois, havia uma parte da memória que há muito eu não visitava.
Um comentário:
É.... as vezes acontece algo parecido comigo, mas não é uma música e sim um "cheiro" que eu sinto que me lembram brincadeiras e coisas de qdo eu corria pelas terras vermelhas das missões... principalmente o cheiro da chuva, ou de alguma comida caseira... nada muito específico, só me lembro, as vezes....
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