quinta-feira, 16 de julho de 2009

Tradutores de mentiras

Cansamo-nos de nossa mente, cansamo-nos de ter idéias e de ter de traduzi-las em palvras sem que expressem integralmente o que queremos, cansamo-nos de sentir e ter de traduzir sentimentos em idéias e estas em palavras. Nossa vida é uma tradução, e somos tradutores conhecidos também por seres humanos.
A defasagem, ou melhor, a distância entre as palavras e as coisas, já a trataria Foucault, produz cansaço mental que produz esgotamento físico. As meias palavras expressam melhor, permitem que o outro preencha o discurso com a significação que mais lhe apraz e não ficam distantes das palavras inteiras, pois estás também não expressam a completude almejada por nós. Terrível luta com as palavras, contra as palavras, com as idéias e contra elas, contra sentir, realmente, o que se sente e poder dizê-lo de verdade. A verdade não existe, criamo-la. Somos criadores de verdades, vendedores de ilusões, não passamos de tradutores de vida.
Traduz-se a vida em discurso, mas podemos mentir. Se mentimos, o que há de verdade nisso? Há verdade sim. A verdade é afirmar que uma mentira é uma mentira, ou seja, sabemos que mentimos e isso é verdade, esse é o paradoxo da mentira. Contudo, amiúde, vendemos uma mentira como uma mera omissão, toda a mentira é uma omissão, quer parcial ou total. Total, no sentido, de que é uma falta de verdade, mas atenhamo-nos às parciais. Quando queremos expressar o mais profundo dos pensamentos, não o podemos fazer, pois as palavras não dizem tudo, por conseguinte, omitimos, no significante, uma parte do significado, logo mentimos. Então, somos tradutores mentirosos, que, embora queiramos dizer a verdade, nunca conseguimos.

5 comentários:

Anônimo disse...

Querido Rodrigo,

Geralmente sou poética e Filosófica demais.Acaso fiquei assim,meio que com medo de estar invandindo seus lindos pensamentos!

Mas,agora terá que me aturar em profunda dialética...rs.

Olha,belíssimo como você este texto.Sabe, somos tradutores de inverdades, afinal de contas jamais chegaríamos aos passos rápidos da verdade ampla, seguimos seus rastros.Rastros aos quais são banais, e como Drummond já nos ensaltizou: Tropeçamos na pedra chamada destino. Esta é a sina da vida, procuramos com a escrita, procuramos dentro do nosso eu,encontrarmos-ei com nós mesmos( afinal somos vácuos e somos tão temporários como um pêndulo).

Traduzimos aquilo que estamos condenados a surportar, a existência e fazemos dela algo verdadeiro ou falso, afinal a verdade é ainda inacançavel por nosso eu!!

Beijos!!!

Rodrigo Bentancurt disse...

Tomara que assim seja. Pois, coloco a tese, tu a antítese para nunca chegarmos à utópica síntese hegeliana.

Anônimo disse...

Oh! Meu caro Rodrigo, evidente.Serei a antítese e você a síntese ,logo juntos seremos
a : tese.Eu particularmente na questão do positivismo histórico de Hegel, recuso a ideia de que , a razão seja uma força histórica autônoma (isto é, não condicionada pela condição material ou econômica ,social ou política de uma determinada época).E, em segundo lugar, pela suposição de que a razão é a força histórica que cria a sociedade ,e cultura.Ou seja, escrevemos ,amamos ,buscamos e sobrevivemos com as mudanças históricas de contradição ,pois as existências ocorrem pelos conflitos e pelos acasos múltiplos do pessimismo.

Beijos, querido!!

Rodrigo Bentancurt disse...

Então, eu não tenho conhecimento suficiente de Hegel para discordar. Acho, simplesmente, que em sua época, o idealismo era um ponto a ser explorado e ele o fez com grandeza, tanto que influenciou, demasiadamente, o materialismo histórico marxista. Mas, também acho, empiricamente, e em palpites de um não-filósofo que sou, que as condições materiais estão, intimamente, ligadas à razão. Não sei se fui claro.

Anônimo disse...

Ao contrário, Marx revira Hegel de cabeça para baixo, e transforma outro método da dialética conhecida como tese.
Sucessivamente,a dialética além de discurso do método como apontado por Decartez, passa a ser estudado como materialismo histórico, evidente que antes de disso era hermeutica adota até mesmo por Platão.

Beijos!