segunda-feira, 20 de julho de 2009

Medo do escuro

No escuro, nossas pupilas aumentam de tamanho a fim de que possamos adaptar-nos à falta de luz. Todos os seres humanos, salvo alguma disfunção biológica, vêem, fazem uso da visão como o principal sentido. Vemos para creer, mas podemos creer no que vemos? Ou basta que vejamos para instituir a crença na verdade de um fato?
Vemos com os olhos, necessitamos ser expostos à luz e pronto, vemos. Talvez, esse seja nosso maior erro histórico, ver com os olhos, ou ver, simplesmente, com os olhos. Deveríamos ver com o coração e com a razão. Obviamente, que há uma atividade cognitiva na visão, que a transforma em imagem e fá-la ser internalizada, contudo, refiro-me à razão depuradora de imagens captadas, transformadas em algo mais além das imagens vistas, com o auxílio incólume do coração. Já fiz menção, há um certo tempo, da necessidade que teríamos de usar razão e emoção juntas, volto a esse ponto, como sempre retorno aos pontos que me parecem mais fascinantes de serem tocados.
Não conseguimos tomar decisões racionais sem que o coração imiscua-se nelas. Porém, por muitas vezes, relegar a sensibilidade para um segundo plano, passamos a ser como os homens que habitavam a caverna platônica. Somos sombras, que não conseguem ver além do que lhes é posto para que o vejam da forma que se deseja, e cria-se uma massa acéfala, ou melhor, cega em relação a tudo que nos rodeia. Se as coisas são como são, não há motivos para pensarmos que deveriam ser assim. Podemos buscar sair da escuridão e tentar ver nas coisas algo mais do que nos é dado para ver à primeira vista. Podemos olhar tudo mais de uma vez e pensar sobre o que temos ao nosso redor, o que somos, como agimos, como nossos valores estão formados e o seus porquês.
Saramago alertou " se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.", em sua epígrafe de "Ensaio sobre a Cegueira", pois quanto estamos perdendo por não repararmos no mundo e em nós mesmos como parte integrante do mundo? Que há muita coisa entre o céu e a terra, isso sabemos há séculos, mas o escuro em que vivemos causa-me medo. Tenho medo do escuro deliberado de nossa existência.

8 comentários:

Anônimo disse...

Boa tarde,amado Rodrigo.

Eu lhe respondi no meu blog.
Estou tendo um problema:publico um texto por exemplo,8 da noite e, fica postado como 3 da tarde(eu e meu atrasso em tecnologia rsrs).

Bom, amei seu texto, adoro ler você.Medo do escuro dizes isto, lembrei-me de tempo perdido:
" (...)Não tenho medo do escuro, mais deixe as luzes acessas agora".Grande R.Russo,além disso, podemos colocar na era das trevas antes do iluminismo,pois mencionas séculos,e,estamos em uma era tão banalizada haja vista que,temos informação e mau uso dela.
Tornamo-nos tão narcísicos e artifiais.Temos medo de abrarçarmos quem amamos,medo de expor nossos medos,nossos anseios, pois somos humanos(ainda que exijam de nós o contrário).


Mas querido,há sim muita coisa entre o céu e a terra, isto já fora escrito por Willian Blacke, em seu livro intitulado:
"casamento entre Céu e inferno".
No entanto,procure criatividade nas compulsões a arte e a superação está em tudo que nos rodeia.

Seja na luta pela liberdade,seja no não aceitar a linguagem morta, pois isto é extremamente medonho.
Não tenhas medo! seja das sombras a claridade!
Seja um anjo vísceral em expor sua feridas,"Augusto dos anjos" fora cuspido pelos assassinos da alma, no entanto hoje suas palavras são entendidas pelos ativistas que levantam a bandeira do anti-conformismo da arte.
Logo,verás sua alma rejuverescer ,
pois o saber entristeze,mas, nos traz sabedoria.

Assim, como Bod Dylan voçê enxerguara através das máscaras, e isto é um prémio sem igual -não vivermos em jaulas de manipulação-.


PS: Apaguei o primeiro recado, porque achei mais cabível me prolongar, escrever mais pra ti!

Beijos cheios de afeto!!

Rodrigo Bentancurt disse...

Pois é, Fyllos, mas o meu medo não é do escuro em si, senão da deliberação humana para viver nele e pensar que não há outra forma para viver. E o medo é o combustível que nos faz andar. Medo sim, covardia jamais.
Bjos.

εϊз Anne Cris εϊз disse...

Vivemos no escuro, nisso concordo.... mas não com o fato de termos somente uma forma de "como viver"... acho que é mais escuro para quem não vê as diversas possibilidades...
Vivemos no escuro por não conseguirmos ver estas diversas formas claramente.... iluminados são aqueles que conseguem ver motivo para estar aqui, além do simples motivo "experimentar"...

Rodrigo Bentancurt disse...

Anne. Claro. Mas, vou mais por uma vertente existencialista e considero que a exoeriência é experimento da vida que é uma só.
Bjos

Anônimo disse...

Rodrigo,


Eu entendi, mas acho interassante sempre a música e os processos históricos que intercalam o homem.

Enfim, isto me lembra a alegoria da caverna ,infelismente muitos seres vivem sim na escuridão.Pois, não dispertam para razão pura.

Caba há quem libertá-los?
Voçê,eu e todas as mentes que captaram a genuidade do saber,ou melhor de temos como andar com o combustível das próprias pernas.Evidentemente,o medo como dizes é interassante.Mas,não pode ser além de covardia "conformismo" afinal a linha de ambas são bem tênues.


Uma linda noite!!

BJOS!!

Germano Viana Xavier disse...

Dilema. O escuro. Todos eles. Escrevo muito sobre ele. Interajo, destituo-me dele. Mas ele é feito de sombra. Acompanha-nos.

Gostei muito de blog, colega de Letras, das Letras. Cheguei aqui atrávés do blog da Fyllos.

Espero que siguemos nessa construção.

Abraço forte, camarada.
Continuemos...

Rodrigo Bentancurt disse...

Que bom que gostaste, colega das Letras. Espero que sigamos nessa construção. Abraço

Paula Figueiredo disse...

penso por aí... Acho, no entanto, que o problema é ver com a razão intelectual, sem que haja suficiente contemplação. O problema é que vemos com os olhos dos nossos desejos e medos. A questão que já discutimos, a projeção.
Eu acredito na compaixão. Mas acredito nela apenas enquanto acredito poder exercê-la, isto é, trabalho comigo mesma o perdão e me libero do pensamento idiota de que o mundo deveria ser justo comigo já que sou tão boazinha...
O que colho hoje é de minha responsabilidade, e não me culpo. Sinto compaixão por meu próximo ao saber de minha sina, pois assim também sei q cada um tem a sua, a seu próprio modo e sempre desafiante, quase impossível...
Evoluo a passos lentos e isso é grande coisa, grande coisa... preciso saber lidar com o vazio primeiro, aceitar a natureza da vida primeiro e parar de me prender na sala de espelhos do medo e do desejo... Tudo é o que é. “You cannot find peace by avoiding life.” (Virginia Woolf)
E a vida é feita de dor e de prazer que vem e vai... Apenas isso. Os conceitos são apenas invenções... A angústia passa um pouco se a gente exercita a presença no aqui e agora através do corpo... Dê uma lida no meu post "Equanimus", lá falo sobre isso. Abraços!