Agir errado, essa é uma asserção bastante complicada e discutível, aliás como o são todas as asserções culturalmente arraigadas . Não entendemos, não entendíamos e, talvez, nunca entenderemos como é que pode haver uma forma correta de agir, ou ainda, uma forma mais certa que outra. Cada cultura tem pressupostos explícitos ou tácitos em sua base, que permitem uma maior adequação ao convívio social, e quem não está adequado, em maior parte, ruma à exclusão.
Estava a ver um filme nacional, que se passa em São Paulo, e, em um determinado momento, um casal de personagens vai de carro pelas avenidas da metrópole e chega a um bosque. Bem, pensei eu, vão observar a natureza, ledo engano. O casal atravessa o bosque, sobe uma elevação e põe-se a contemplar os arranha-céus da capital paulista. Isso, na época clássica (não a greco-latina) seria considerado uma inadequação. Dar as costas à natureza para admirar as construções humanas.
Narro esse fato, pois a loucura que encerra os loucos em manicômios, as almas em corpos, os seres no mundo, é uma construção social, dependente da capacidade dos humanos de agirem conforme leis tácitas de comportamento (isto é sentimento, sem bases teóricas. Não citarei Foucault, algum poeta, ou qualquer outro louco). Da mesma forma, temos a tendência de julgar culturas diferentes da nossa como bárbaras, no sentido pejorativo do significante, pois agem de maneira distinta da nossa. Acusamos mulçumanos de bárbaros por suicidarem-se em nome de Alá, mas ignoramos que os seguidores de Moisés fazem a circuncisão, e os irmão de Jesus matam-se e roubam-se, diariamente, a fim de que uns tenham mais que os outros. Na nossa barbárie é assim, o que é diferente é pior, ou invejado.
E quando olhamos uns aos outros, agimos da mesma forma. Os gostos, que não têm afinidade com os nossos, são mau gosto. As ações, que divergem das nossas, são inconcebíveis. Muitas vezes, ou quase sempre, os loucos são os outros, por assumirem uma postura que tachamos de descabida, quando, de forma tautócrona, gostaríamos de assumi-la. Talvez, essa forma seja pior maneira de agir, porque acabamos a agir de acordo com o que podemos, mas não como queremos e esquecemo-nos que a vida é uma, e não fazer o que se deseja pode ser um caminho sem volta.
5 comentários:
Rodrigo,
vim aqui reforçar o meu novo endereço. Agora escrevo no www.oequadordascoisas.blogspot.com
Tua presença é construtiva.
Abraço forte, meu caro.
Diga-se de passagem: muito bom o blog.
grande abraço
Rodrigo,
li teu texto agora e lembrei-me de uma passagem de George Orwell, em seu clássico "1984": "Se a liberdade significa alguma coisa, será, sobretudo, o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir."
O teu pensamento vai de encontro a esse tema, o da liberdade total ou, como gostam alguns, absoluta. Há muito o que se pensar sobre, mas você corrobora um percurso que é por demais evidente e, também, aterrador.
Por outro viés, pego o caso da língua e suas variantes. A coisa toda envolvendo o "errado" e o "correto". É também outro exemplo dessa tua discussão sobre culturas e preconceito.
Muito bom descobrir teu espaço, camarada.
Continuemos...
--
Bom dia, amado Rodrigo.
Quero enfatizar a ideia de Germano.Enfim veio-me a cabeça:
os Ypisilons já escrito por Adolf Huxley. Assim também ,a falsificação,a artificialidade nunca estiveram tão presentes em nossa realidade,as manias e vicios controlados e,descritos em 1984 por George Orwell.
O Estado conseguiu fazer valer seus planos.O que temos são:seres ocos,sujos,presos no capital alegórico do consumo.Costumo dizer que,são os pseudo selfts,ou seja, mentes já manipuladas pelas imagens arquétipos,já apresentadas por de Jung.Não temos o agir,pois o conciente não consegue mais "discernir" ou seja,ter a crítica construtiva,de modo que imagens não são decifradas,e já estão preponderadas na manipula
do próprio inconsciente.
Enfim,a sociabilidade a muito não existe e sim dura!Ou seja, nada de ação, apenas alienação, afinal se conformar é muito melhor do que acordar para a absurdidade humana!
Bjos e meu afeto, querido!!
Germano, tu sabes que passou-me em branco a questão lingüística, e tens razão sobre ela. Os julgamentos de valor ao usar uma variante diferente que, por motivos culturais, é vista como mais prestigiada vai ao encontro do que falei. Obrigado, camarada, pela importantante lembrança.
Postar um comentário