terça-feira, 27 de outubro de 2009

Onde estamos quando estamos?

Onde estamos quando estamos em algum lugar? Isto é, vale mais a presença física ou a intelectual? Sabemos que a linguagem é simbólica, ou seja, os signos remetem a outras coisas que não precisam estar presentes, basta que sejam nomeadas para que as ativemos em nossa mente. Então, raríssimas vezes, estamos onde estamos de corpo e mente. Um corpo não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Contudo, a mente faz parte do corpo e, geralmente, está em um lugar distinto ao seu. Destarte, teremos que dar autonomia àquela. Quando alguém está a contar-nos algo, deslocamos nossa capacidade cognitiva, para recuperar os significantes dos signos que outrem nos despeja, logo nosso corpo está em frente da pessoa, mas nossa mente acompanha o percurso de seu relato. Quando, sentados no sofá da sala de nossas casas, abrimos um livro, deixamos que nossa mente flutue na narrativa, na teoria ou na poesia e passamos a compartilhar o seu tempo e seu universo fictício. O mesmo quando lemos um artigo na internet, vemos televisão, ouvimos música, escrevemos algo. Também, quando estamos, simplesmente, sentados a pensar na vida, nosso cérebro cria situações, possibilidades, hipóteses que, naquele momento, são os lugares onde estamos.
Se assim o é, a mente ganha estatuto autônomo, pois ela está sempre em lugar divergente de nosso corpo, e, como ela é quem nos governa, estamos onde o intelecto demandar. No entanto, em algum momento, mente e corpo têm de convergirem no tempo e no espaço e tornar o tempo presente, que é o único tempo verdadeiramente existente, em presente absoluto, em efemeridade irrecuperável. Talvez, isso, somente, ocorra nos momentos em que os sentimentos vêm à tona. Quando amamos e estamos no momento preciso de amar o amor, apenas, fazemos isto: amamos; nos momentos de raiva, damos vazão à nossa ira e, apenas, ela existe, sem que nos reportemos a outros momentos; na hora da alegria, vivienciamo-la pura e simples. Porém, devemos notar que esses momentos são ínfimos, somente, existem por apenas um lampejo de tempo.
Portanto, sim, é possível que estejamos em dois lugares simultaneamente, e não só é possível, como também é o que ocorre na maior parte do tempo de nossa existência. Provavelmente, por essa razão, sempre, o passado e o futuro sejam melhores do que o presente, pois este, poucas vezes, ocorre de forma plena, aliando corpo e mente no mesmo tempo e espaço, e as regressões e projeções têm a característica de selecionar o que desejamos. Haja vista que o tempo da mente, o tempo interior é diferente do tempo exterior, do tempo convenciondo do relógio. Então, além de estarmos, freqüentemente, em dois lugares diferentes de forma tautócrona, também, vivenciamos dois tempos simultâneos.

3 comentários:

Paula Figueiredo disse...

Este seu texto me remeteu a um trecho de um conto infantil. Aqui está:
"Eles entraram no pomar da mesma forma que antes. Mais uma vez uma árvore curvou-se graciosamente para chegar ao seu alcance, e a donzela sorveu a pera que estava na ponta do ramo. O mago aproximou-se deles, mas não muito. "Vocês são deste mundo ou não são deste mundo?" perguntou ele. "Eu fui outrora do mundo", respondeu a donzela, "no entanto, não sou deste mundo". "Ela é humana ou é um espírito?" - perguntou o rei ao mago, e o mago respondeu que era as duas coisas. O coração do rei deu um salto, e ele se apressou em chegar até ela" (A donzela sem mãos - Irmãos Grimm).

Diego Cosmo disse...

Massa o texto! Muita viagem! hehehe
Realmente os pensamentos sao surreais, como os sonhos também são, é algo vivido e nao vivido no sentido literal, a mente é poderosa e juntando com nossa criatividade, viajamos p/ longe! É meio como viver em dois mundos, o nosso universo particular e o próprio mundo (planeta terra). É um assunto muito propício a muitas reflexoes! hehe

vlw pela contribuição lá no meu blog Rodrigo! vlw mesmo! To te seguindo aqui no seu!

um abraçoo!

Diego Cosmo disse...

da continuidade la na minha postagem! O papo lá ta rolando! xd
vlwww