segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Morte na luta

Há alguns dias, no interior do Rio Grande do Sul, houve mais um conflito entre os Sem-Terra e a polícia militar. Adivinhemos o resultado. Mais um Sem-Terra morto.
Enfim, os camponeses do movimento são os desordeiros, os marginais, a escória da raça humana, porque ocupam a propriedade privada alheia, são uns baderneiros. Ironicamente, são sempre os da escória que morrem, por disparos de nossa egrégia polícia. O que nunca se comenta, é a situação da mesma constituição que garante a propriedade privada, também exigir que toda a terra deva contribuir socialmente e que, se não o fizer, deve ser desapropriada com a finalidade de que se realize a reforma agrária. Além disso imaginemos a situação:
- O senhor tem direito a esta terra. Agora, ela é sua.
- Obrigado, senhor. Mas é que eu só tenho minha enxada, será que consigo um financiamento pra cultivar?
- Aí, você já quer demais, né, malandro? Já tá com a terra. Aproveita e não reclama.
- Sim, senhor.
Algo de muito parecido aconteceu no México, no começo do século passado, gerou diversas lutas que existem até os nossos dias. Assim funciona a reforma agrária, no país, em que roubar é arte e pichar é crime. Termino com as palavras de um excerto de "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto.

ASSISTE AO ENTERRO DE UM TRABALHADOR DE EITO E OUVE O QUE DIZEM DO MORTO OS AMIGOS QUE O LEVARAM AO CEMITÉRIO

— Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a cota menor
que tiraste em vida.
— É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
deste latifúndio.
— Não é cova grande,
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.
— É uma cova grande
para teu pouco defunto,
mas estarás mais ancho
que estavas no mundo.
— É uma cova grande
para teu defunto parco,
porém mais que no mundo
te sentirás largo.
— É uma cova grande
para tua carne pouca,
mas a terra dada
não se abre a boca.

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