terça-feira, 28 de setembro de 2010

Quem sou eu

Há uma lacuna no Orkut, sim no Orkut, que vem me intrigando há bastante tempo. Na página de apresentação do perfil, existe um espaço para ser preenchido: quem sou eu. Mas isso é pergunta que se faça? Não sei quem eu sou. Isso é muito complicado, muito polêmico. Dizer quem eu sou é como conceituar a mágoa, a existência, o amor, enfim tudo cuja carga subjetiva é primordial a sua definição; e não existe nada mais subjetivo que nós mesmos.
Afinal, eu sou o que penso que sou ou que os outros pensam que sou? Serei um desses ou todos esses? Serei um sempre eu ou uma continuidades de eus só perceptíveis pós morte? Nessas definições, há uma heterogeneidade de conceitos, muitas vezes radicalmente opostos, que se vão perpetuando ou remodelando.
E o pathos? Não levamos em conta o que os outros pensam que somos para adequar-nos, se nos agrada, para desmitificarmos o conceito, se não.
Enfim, tudo que posso é entrar na Tabacaria com Fernando Pessoa e concluir que:
                                   Não sou nada.
                                   Nunca serei nada.
                                   Não posso querer ser nada.
                                   À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. 

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Primavera

Hoje é a entrada da primavera. No Brasil, não damos muita importância a essa data, ao passo que, em países como a Argentina, 21 de setembro é dia de folga para os estudantes, que se reúnem nas praças, fazendo piqueniques. Neste 21, nesta cidade sulina, Santa Maria, a primavera foi recebida com clima outonal, chuva, vento e temperatura abaixo da que já nos acostumáramos. Não, não, não, esta não é uma postagem meteorológica.
Quero, na verdade, retornar à pauta que vem sendo tratada nas últimas postagens do blog, as convenções. O nosso tempo moderno é linear, desloca-se para frente sem que haja repetições ou retornos, já para os gregos o tempo era cíclico. Havia um eterno retorno ao nascimento, simbolizado pela primavera. Assim, o nascimento era a primavera, passando pelo auge no verão, agonizando no outono, morrendo no inverno para renascer na primavera.
Essa noção implica uma perspectiva diferente da que temos. Somos levados a entender a existência, a história e tudo que esta última leva consigo, como uma construção progressiva que nos carrega para o fim. Vemos, no futuro, o fim, o ponto final e não a possibilidade de uma renovação, de que todo o fim é um recomeço embora esse recomeço seja sem nós.
Toda essa fala em catadupas é apenas para dizer que a percepção do tempo muda e com ela a nossa percepção de nós mesmos e da existência. Seja bem-vinda, primavera. Mais um recomeço em nossas vidas.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Convenção

Já conversamos, neste espaço, sobre a pseudo-naturalidade de tudo que nos rodeia, mas, por ser um tema tão rico e tão explorável, retornemos a ele.
Sabemos que atitudes, comportamentos, tendências, posturas são exigências de uma vida em sociedade, contudo assim são em uma determinada sociedade, em um determinado tempo. No século XIX, por exemplo, qualquer ação que escamoteasse a mulher da vida social era natural, hoje, atitudes como essa são consideradas machistas e relegadas a um segundo plano como fonte de barbarismo. A questão é fundamental, no entanto pode levar a um desespero diante da impotência de modificação do status quo. Provocar, argüir, pressionar a realidade através da razão e fazer o mesmo também com esta demanda reflexão, paciência e arrojo, pois a realidade que nos constrói é, por nós, construída. Enfim, não quero resumir a grande aula de Literatura Fantástica, logo passemos a outro tópico.
E, nas relações interpessoais, como se projetam essas convenções? Não pretendo responder a essa questão, senão lançar dados para que construamos essa idéia juntos. Como historicamente acontecem as relações entre pais e filhos, professor e alunos, irmãos, casais, amigos? Não precisamos ser intelectualmente muito agudos para percebermos que elas se modificam ao longo do tempo. Se outrora os pais exerciam uma posição hierárquica cuja contestação de posições, de atitudes, permissões ou proibições era impossível, atualmente, percebemos um diálogo e, infelizmente, em muitos casos, uma atitude de sobreposição dos filhos. Portanto, as relações, a partir desse exemplo, e a forma como elas se dão são convenções sociais por nós construídas que, entretanto, experimentamos, empiricamente, e nos fazem os seres que somos como frutos de uma trajetória de vida.
Então, como podemos pensar nossas angústias, sofrimentos, expectativas e alegrias? Afinal, são sentimentos tão individuais que temos dificuldade de explicá-los em outras línguas quando alguém nos pergunta o que significam. Contudo, são construções sociais também que nos guiam como sentir e o que sentir em cada situação. Conclusão: esta massa é mais homogênea do que parece, mas paradoxalmente, é mais, muito mais heterogênea do que imaginamos, apenas não temos liberdade e, muito provavelmente, nunca a teremos, porque se as convenções nos retiram o particular e nos colocam no centro do geral, alguém as convencionou.