Quando contamos a um adolescente uma história passada conosco quando tínhamos a sua idade, surgem questões como: por que não ligamos para o celular? Por que não deixamos um recado pelo Orkut? É-lhes difícil compreender a vida sem essas tecnologias (obviamente que nos referimos a pessoas com condições materiais para usufruir de esses objetos, haja vista, diferentemente, do que muitos pensam, esses meios de comunicação não existem, senão em desejo, para grandíssimo número de pessoas). A questão interessante é que, embora hajamos vivido a maior parte de nossas vidas sem essas tecnologias, hoje, estamos tão dependentes de si que nos encontramos sem saber o que fazer quando, por algum motivo, vemo-nos privados delas. Um celular sem sinal cria-nos a angústia da incomunicabilidade em um caso de emergência, e a nossa vida é um constante caso de emergência. Sem internet ou computador, não poderemos realizar as tarefas, a nós, designadas, perderemos prazos, deixaremos trabalhos inconclusos.
O apagão e os sucessivos apaguinhos, que não atingiram a região onde moro, fizeram as pessoas brincar de séc. XIX, porém automotorizados, por algumas horas, mesmo que, diferentemente, dos sujeitos do século retrasado, soubessem do que estavam a ser privadas. Praticamente, tudo depende da energia elétrica, inclusive nosso comportamento. Não temos condições de executar tarefas de largo porte na ausência da eletricidade. Somos sujeitos que atravessamos a noite como se fosse dia, pois sem a luz do sol, temos a luz da lâmpada. Armazenamos alimentos perecíveis em nossas geladeiras, informamo-nos com a TV, o radia e a internet; divulgamos o que desejamos através desses meios também. Enfim, somos sujeitos elétricos. Sem luz, perdemos, em um primeiro momento, o entretenimento, depois a vida. Assim, que alternativa apontaríamos para comportarmo-nos se nos tirassem essas tecnologias?
Duvidamos que as pessoas leiam à luz de velas, que construam edificações sem energia. Enfim, duvidamos que as pessoas conversem sem basear-se no que lhes é fornecido pelos meios de comunicação. Então, façamos uma reflexão: com energia elétrica, mas sem PC’s, TV’a, rádios, celulares. Nessa situação, nosso comportamento mudaria drasticamente. Começaríamos a ter opiniões “mais próprias”, pois, na ausência da infinidade de informações que nos despejam a cada minuto, teríamos de fazer um exame atento da sobre a vida e nossas posições acerca do que nos rodeia. Debateríamos com argumentos. A moda seria feita por cada um de nós. Os ídolos seriam de outro tipo. Ou tudo seguiria semelhante, porque surgiriam outras formas de massificação do pensamento, inclusive, os jornais poderiam voltar a ter a importância que tiveram outrora. Mas seriam enormes, pois necessitariam de explicar tudo minuciosamente e portarem grande quantidade de gravuras.
Portanto, não há saída. Sempre, criar-se-iam novas alternativas para que a hegemonia se mantivesse. Somos sujeitos elétricos e massificados. Os meios pelos quais somos produzidos têm a grande capacidade de reinventar-se. Mas, paremos um pouco e pensemos sobre a nossa real dependência das coisas. Ser-nos-á tão dificultoso readaptar-nos a uma vida sem tantos instrumentos? Talvez, sim. Pois não vivemos, mas somos vividos.