sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Cristianismo

A situação é complicada, pois sempre é complicada para nós. Nós, estes seres que vieram depois da Revolução Francesa que começam a perceber apenas fragmentos do mundo, que passam a entender do interior, do psicológico, a pautar-se por estímulos exteriores. Ou também, nós, seres que rompemos com a visão plural dos politeístas, unificamo-nos com o cristianismo, rompemos com o tempo cíclico e fizemo-lo único e irreversível, e por mais que os valores mudem, que o mundo mude, seguimos com uma estrutura cristã, mesmo que esta seja subjacente ou profonada.
Não falemos de negar um deus cristão ou um deus qualquer, ou aceitá-lo, senão, simplesmente, termos, de algum modo, uma visão de mundo, extremamente cristã. A questão que se põe não é acreditar em um deus, não acreditar ou negá-lo, mas, sim, como compartilhamos uma visão de mundo. O tempo pessoal e irreversível, por mais que tenhamos a ilusão de que o tempo é cada vez mais rápido, é uma herança cristã, presa à cultura ocidental. Desprezamos o tempo cíclico, no qual o fechamento de um tempo é o iminente ressurgimento do passado. A história, embora neguemos qualquer vertente teleológica, caminha em linha reta, dirigindo-se para um futuro. Na era clássica, tínhamos a repetição do modelo, mas não de forma ritualística como nas sociedades primitivas. Atualmente, temos algo que é sempre a quebra do passado imediato, impulsionado pela mudança que se torna constante. Ou seja, a constância da sociedade moderna é a mudança. A própria vertente existencialista, por mais desapegada a um deus que seja, não se desvincula das idéias cristãs. Isto é, a liberdade provem do resultado de nossas escolhas, somos esse resultado, e estamos livres a fazer escolhas que dependem de nós mesmos, temos a liberdade de escolher. De onde virá esse pressuposto? Creio que ouvi falar em livre arbítrio. Ponto para o cristianismo.
Portanto, o ponto ao que devemos chegar é que podemos ser ateus, agnósticos, crentes, etc. mas toda a nossa visão de mundo, do Ocidente é claro, está assaz arraigada a visão de mundo cristã. Doutrina forte essa, criou paradigmas que estão subjacentes, inclusive, nos seu maiores negadores. Não sabemos quanto tempo isso levará para mudar e se mudará, pois o mundo deve acabar antes. Opa! O fim dos tempos também é uma idéia cristã. Logo, mais forte, mais poderoso e, perdão pela licença hiperbólica, mais onipresente, onipotente e onisciente que Deus, é o cristianismo. E, destarte, a situação é complicada para nós, porque por mais afastados que estejamos de uma doutrina cristã, sua visão de mundo é os nossos olhos.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Onde estamos quando estamos?

Onde estamos quando estamos em algum lugar? Isto é, vale mais a presença física ou a intelectual? Sabemos que a linguagem é simbólica, ou seja, os signos remetem a outras coisas que não precisam estar presentes, basta que sejam nomeadas para que as ativemos em nossa mente. Então, raríssimas vezes, estamos onde estamos de corpo e mente. Um corpo não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Contudo, a mente faz parte do corpo e, geralmente, está em um lugar distinto ao seu. Destarte, teremos que dar autonomia àquela. Quando alguém está a contar-nos algo, deslocamos nossa capacidade cognitiva, para recuperar os significantes dos signos que outrem nos despeja, logo nosso corpo está em frente da pessoa, mas nossa mente acompanha o percurso de seu relato. Quando, sentados no sofá da sala de nossas casas, abrimos um livro, deixamos que nossa mente flutue na narrativa, na teoria ou na poesia e passamos a compartilhar o seu tempo e seu universo fictício. O mesmo quando lemos um artigo na internet, vemos televisão, ouvimos música, escrevemos algo. Também, quando estamos, simplesmente, sentados a pensar na vida, nosso cérebro cria situações, possibilidades, hipóteses que, naquele momento, são os lugares onde estamos.
Se assim o é, a mente ganha estatuto autônomo, pois ela está sempre em lugar divergente de nosso corpo, e, como ela é quem nos governa, estamos onde o intelecto demandar. No entanto, em algum momento, mente e corpo têm de convergirem no tempo e no espaço e tornar o tempo presente, que é o único tempo verdadeiramente existente, em presente absoluto, em efemeridade irrecuperável. Talvez, isso, somente, ocorra nos momentos em que os sentimentos vêm à tona. Quando amamos e estamos no momento preciso de amar o amor, apenas, fazemos isto: amamos; nos momentos de raiva, damos vazão à nossa ira e, apenas, ela existe, sem que nos reportemos a outros momentos; na hora da alegria, vivienciamo-la pura e simples. Porém, devemos notar que esses momentos são ínfimos, somente, existem por apenas um lampejo de tempo.
Portanto, sim, é possível que estejamos em dois lugares simultaneamente, e não só é possível, como também é o que ocorre na maior parte do tempo de nossa existência. Provavelmente, por essa razão, sempre, o passado e o futuro sejam melhores do que o presente, pois este, poucas vezes, ocorre de forma plena, aliando corpo e mente no mesmo tempo e espaço, e as regressões e projeções têm a característica de selecionar o que desejamos. Haja vista que o tempo da mente, o tempo interior é diferente do tempo exterior, do tempo convenciondo do relógio. Então, além de estarmos, freqüentemente, em dois lugares diferentes de forma tautócrona, também, vivenciamos dois tempos simultâneos.

sábado, 24 de outubro de 2009

Ataques pessoais

As palavras estão permeadas de significados construídos sócio-historicamente. Palavras estas que são empregadas em determinados contextos, iluminando-se, assim, algum ou alguns de seus sentidos e apagando-se outros que, contudo, seguem a existir em estado latente. Nessa senda, sempre, fazemos escolhas a partir da gama de signos que temos em nosso eixo paradigmático, para combiná-los no eixo sintagmático. Entretanto, para que servem esses conhecimentos se vemos uma crescente falta de compromisso com a palavra o que acarreta discussões cada vez mais vazias?
A falta de capacidade, por grande parte das pessoas em manter um debate no nível das idéias sem deslocar os argumentos para o lado pessoal, impede que a construção de nosso paradigma cultural ou destrói o que já foi erigido, pois não conseguimos não discutir pessoas. Esse fato leva a discussões que não passam de um amontoado de palavras cuja falta de conhecimento, no dizer, por parte dos "oponentes" transforma-se em simples despejo de palavras. Dizer que vamos a um compromisso e faltarmos, dizer que chegaremos em determinado horário e atrasarmo-nos, afirmar, com veemência, algo que, na verdade, não temos noção do que seja mostra, em uma esfera cotidiana, a falta de responsabilidade com a palavra. Aliando-se esses dois elementos observamos que os ataques pessoais são fruto da ignorância e da falta de ética. Ora, é muita falta de seriedade difamarmos alguém porque não concordamos consigo.
Além disso, as discussões são vazias, pois toda vez que tentamos dar um passo à frente, na melhor das hipóteses, não saímos do lugar. Debatemos entre os nossos pares, não discordamos de pontos divergentes, pois a intransigência é assobrosa. Então, para que lugar queremos avançar? De que nos serve avançar também, se vamos todos parar na mesma cova. E embora, aceitemos as idéias dos outros, nossa intenção, em última instância, é que os demais , conosco, concordem, porque sempre temos a percepção do mundo através de nós e, destarte, o nosso ponto de vista é o melhor, pois é único para cada um.
Portanto, cabe, discutindo simplesmente idéias, aceitarmos a posição do outro sem partirmos para ataques pessoais, embora o conjunto de idéias de um sujeito mostre quem realmente ele é. Mesmo assim, se tivermos responsabilidade no dizer, conseguiremos debater as idéias e, inclusive, fazermos o que é mais difícl, pois o orgulho nos achata: assumirmos que mudamos de opinião devido a capacidade argumentativa do outro. Porque, se atitude e discurso forem coerentes no sujeito, artigo raro esse, seremos, assim, sujeitos mais livres, haja vista que cumprimos um primeiro compromisso, o com nós mesmos.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sociedade do espetáculo

Hoje, remexendo em meus papéis da faculdade, encontrei um texto escrito há dois anos. Creio que ainda é atual, por isso resolvi transcrevê-lo neste espaço.

Quando, um pouco antes de ser assassinado por um agente da KGB, Leon Trotsky afirmou que trabalho assalariado é trabalho alienado, inserido na tradição marxista, obviamente, ele se referia a uma mão-de-obra que produzia sem saber com que finalidade, entre outros conceitos. Porém, a alienação, com o desenvolvimento do capitalismo, chegou a um patamar em que as pessoas passaram a comercializar-se. Pessoas essas que, é claro, são não só sujeitos históricos produzidos pela sociedade como também seus produtores.
Há vários atalhos para se alcançar a fama e o sucesso que podem ser trilhados por aqueles cujo talento se resume na beleza. A pessoa pode fazer uma pequena participação em uma novela, na qual o foco não será a capacidade interpretativa do ator, mas a estética das formas de seu corpo, item relevante para fazer com que a audiência suba; ou, noutra opção, pode dançar em um grupo de pagode ou, o que é mais incrível, até mesmo cantar em algum grupo. Mas, hoje, o que está em voga são os "reality shows", programas televisivos que conseguem captar "a essência do vazio" de seus participantes, os quais se comportam de uma forma tão natural, que não percebem que estão sendo filmados. O pior é que os telespectadores acreditam nisso. Assim, as pessoas vão vendendo sua imagem, ou melhor, as imagens das personagens por elas criadas, e a população compra-as, apaixonando-se por elas e, depois da eternidade de três meses, esquecem-se dessas figuras, mesmo porque, nesse ínterim, provavelmente, já apareçam novos "produtos" para serem consumidos.
Todos esses programas, artistas e consumidores da cultura de massa estão trabalhando arduamente para que as pessoas se alienem cada vez mais da realidade e, por conseguinte, dos problemas que o mundo vive, contribuindo para a total banalização do ser. Já os intelectuais, que criticam ferrenhamente a cultura do espetáculo, estão ajudando-a também, pois não apresentam nenhuma alternativa para revertê-la. Então, é mais interessante saber o que aconteceu na novela do que saber o que aconteceu ao seu lado, é preferível conhecer o vencedor do "BBB" ao deputado que levou o nosso voto nas últimas eleições. No entanto, saber o que ocorre no Congresso Nacional não é muito diferente de saber o que ocorre no "Big Brother", a não ser pelo fato de que as câmeras do Congrsso só funcionam de terça a quinta e as festas são muito monótonas, já que sempre acabam em pizza.
Se Trotsky visse o que acontece hoje, essa sociedade do espetáculo, ele diria... Acho que não diria nada, pois teria que assistir aos programas para poder criticá-los depois. E, assim, a cultura nacional, que advém de um processo histórico, é deixada de lado em detrimento de "celebridades" e fatos efêmeros. É hora de reagir e inscrever-se no "BBB".

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Forma e conteúdo

Forma e conteúdo, instâncias importantes não só na linguagem literária, como também no cotidiano. Se o que se fala é importante, a forma de fazê-lo não o é menos. Todos sabemos que o mesmo conteúdo pode ser expresso de diversas formas. Então, o que nos cabe é saber adequar a forma à situação propícia. Amenizamos, modalizamos os enunciados quando damos uma triste ou grave notícia; somos rudes ou ternos quando desejamos mobilizar, tirar outrem da pusilanimidade. Ou seja, a forma expressa o conteúdo a fim de gerar determinado efeito, ou amenizá-lo, o que, na quase totalidade das vezes, é incotrolável.
Contudo, podemos trabalhar a forma, enchê-la, simplesmente, de forma e esvaziá-la de conteúdo. Somos pegos de surpresa por uma questão que não sabemos a resposta, e nosso orgulho faz com que desenvolvamos, ordenadamente, um aglomerado de palavras cujo significado fica relegado a segundo plano, e, assim, logramos o efeito de parecer que sabemos de algo que não temos noção. Portanto, enganamos aos outros e, em parte, a nós mesmos. E quando contamos uma mentira na qual os demais acreditam. Há um conteúdo modificado ou, apenas, existente em nosso intelecto, e o expressamos em uma forma tão verossímil que passa ao estatuto de verdade. Destarte, podemos ser ludibriados, enganados pelos outros da mesma maneira que podemos enganá-los.
Também há os que têm muito a dizer, mas, por uma série de razões, não conseguem expressar o que desejam, ou não têm altura, na voz, para serem ouvidos. Já vimos pessoas que não tiveram acesso à educação formal, ou uma educação precária, porém fazem uma leitura de mundo extremamente peculiar e interessante e são deixadas para trás pelos com forma-sem conteúdo. Às vezes, percebemos o quão profunda é uma reflexão desse tipo e vemo-la tolhida.
Não sei, se este espaço é adequado para se discorrer sobre forma e conteúdo, porque, na maioria das vezes, se tem forma sem conteúdo, conteúdo sem forma ou nem um, nem outro. Entretanto, os que conseguem conciliar ambos, podem falar, enganar, precaver-se e, o que é deveras importante, calar, pois o silêncio comunica. Paradoxalmente, os que fazem com perfeição a união da forma com o conteúdo extrapolam as fronteiras do cotidiano, com o qual não conseguem manter-se ligados, são estrangeiros da vida comum, e fazem a ARTE.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Objetivos

Sempre temos objetivos, sonhos, esperanças, projetos de vida, mesmo que o projeto de vida seja não ter projetos, esperanças, sonhos ou objetivos. Precisamos de algum tipo de ponto que culmine uma caminhada e satisfaça-nos e, destarte, temos uma razão de viver. Erguemos muitas pequenas conquistas que, muitas vezes, não notamos que as são, para conseguirmos alçar o total cujo benefíco será nosso prazer, nossa felicidade ou um instante de alegria. Contudo, quando o objetivo maior é alcançado, a felicidade é efêmera e traçamos outro objetivo maior, e dessa forma vamos caminhando para algum lugar, vamos, enfim, vivendo. Ou seja, vamos, simultaneamente, morrendo.
Sabemos todos que terminaremos no mesmo lugar, mas precisamos agarrar-nos a algo para fazer da existência algo positivo e prazeroso. Alguns apegam-se a fé, seja ela no que for, outros na materialidade abstrata do pensamento, outros apegam-se no não apego a nada. Criamos ilusões e vamos em direção a elas, mas sem perguntarmo-nos por qual motivo. Talvez, não haja motivo nenhum, sejamos apenas caminhantes vagando pelo mundo, mas, lembremo-nos de que toda caminhada deixa pegadas. Pois, por mais que sejamos notados e reconhecidos, que obtenhamos o desejado, nunca mudaremos nossa condição humana. Nossos anseios e angústias, nosso medos e coragens, nossa saúde e nossa doença, nossa vida e nossa morte, serão sempre os mesmo, tenhamos feito o desejado ou não.
Porém, viver é bom, embora seja ruim. É bom ter alegrias, rir, chorar, sofrer conquistar, aprender, ensinar, ganhar, perder. O ruim é pensar sobre os motivos que nos impelem às ações, o porquê de viver. Ou seja, não pensar muito permite que tenhamos a superficialidade das emoções e que sejam mais "puras", entretanto é assaz reles ter uma existência assim. Então, felizes dos que têm a alienação como base de sua vida! Porém, infelizes, também, por não saberem tudo o que estão perdendo. Isto é, na vida não há nada pleno. Todos os ganhos são perdas, todas as perdas são ganhos, toda a vida é morte e em toda a morte subjaz uma vida.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Miragens

Estamos em meio a um deserto. Tudo o que vemos são miragens. Passamos, praticamente, toda a nossa existência modificando-nos ao ponto de conhecermo-nos em partes, afinal somos sujeitos fragmentados. Se isso acontece com nós mesmos, imaginemos com o que nos é exterior. Já se mencionou, neste espaço, que a diferença entre conhecermo-nos a nós próprios e conhecermos aos outros é que convivemos mais tempo conosco do que com os outros.
A realidade, temo a possibilidade de sentidos que traz consigo esse significante, pode existir em algo que não existe? É real um determinado objeto que não existe? Podemos dizer que não e, assim, damos espaço à ficção, e a realidade de seus elementos se dá dentro de seu universo, ou seja, a instância ficcional. Mas, quando algo existe e não o conhecemos, isso é real? É não sendo. Destarte, o objeto ou fato vai passar ao estatuto de real quando for nomeado. Contudo, nomeamos o que não existe e nem pelo simples ato de havermos nomeado-o passa a ser real. Entretanto, cabe mais um questionamento: as memórias são reais? Elas nos remetem a fatos acontecidos ou imaginados, contudo esses fatos não são mais reais, no sentido que lhes damos, senão apenas memórias, embora possam ser consideradas reais como memórias.
Então, depois desse parêntese, voltemos ao deserto da existência. Será que há algo de real no que vemos? Pois tudo é passível de desaparecer e transformar-se em memória. Objetos, pessoas, fatos, tudo está sobre esse vazio ao qual nomeamos deserto que só pode ser irrigado por uma chuva chamada discurso. Portanto, somos miragens observando outras miragens.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Enunciador coletivo

O que é realmente nosso, no discurso, é um enigma. Sistematizamos, de modo geral, o que falamos, com mais afinco o que escrevemos, mas usamos a memória, ou melhor, o esquecimento como base para criarmos a necessária ilusão da originalidade. Sempre que enunciamos algo, temos presente o mito do Adão lingüístico, pois seria-nos impossível seguir as pistas e buscar o ponto de partida do que está em jogo na instância enunciativa.
Na era clássica, havia o preceito do bom, belo e verdadeiro como partes integrantes de um objeto no qual a ausência de uma das qualidades acarretaria a inexistência de todas. Assim o indivíduo ocupava uma posição de castas, fala como membro de um coletivo. A ascensão da burguesia e com ela o movimento romântico quebram essa estrutura e faz-se presente o conceito de originalidade. O bom, desde esse momento, não é mais o que segue os modelos com perfeição, senão o que cria algo novo. Porém, há algo realmente novo? Ou haverá, apenas, adaptações do que já está dado para formação de algo mudado? Eis uma questão que, à primeira vista, pode parecer menos importante, contudo se há, meras, modificações, por que se discute tanto a originalidade e a criação de novas formas?
É assaz difícil pensarmos algo, completamente, novo. Então, a partir das formas preexistentes, criamos algo diferenciado e isso é o único que podemos fazer. Ninguém se pergunta se o inventor do automóvel, por exemplo, teve uma divina inspiração e o trouxe à luz, ou se pensou que já existiam as carroças e os motores e era possível juntá-los, adicionando outros materiais e chegar a um objeto terceiro. Entretanto, nas artes e nas enunciações cotidianas temos a necessidade de esquecermo-nos do que já está em nossa mente e que reformulamos e afirmamos como nosso. Assim, isto não fui eu que escrevi, é compartilhado por todos e estava, em estado latente, em meu cérebro. Isto tudo é uma simples justificativa pelo uso, neste espaço, do pronome "nós", do qual este enunciador não se desvincula. Então, embora tenhamos o conceito de originalidade, ao que tudo indica, os enunciados jamais deixarão de ser coletivos, mesmo que seja um único sujeito que os formule para o enunciatário.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Já é outubro

O título da postagem, por mais pífio que seja, carrega consigo muitos significados.
Quando estamos na infância, tudo nos é belo, bom. Não problematizamos o mundo que nos cerca e do qual somos parte integrante, obviamente, que isso para os que vivem com condições humanas, pois há quem esteja animalizado pela miséria, o tal Bicho-homem, de Manuel Bandeira. Mas para os que gozam de uma vida que os permita distanciarem-se dos problemas, a infância é uma época sem medos permanentes, sem preocupações recorrentes. O ruim é que dura pouco, muito pouco.
Entretanto, não é a infância que dura pouco, é nossa percepção do tempo que é outra. Hoje, quando percebi que era dois de outubro e o ano está nos seus derradeiros meses, assustei-me (embora este mês seja o de começo da primavera, e esta por sua vez carregue consigo toda uma simbologia de vida, de ressurreição, no hemisfério sul, ela nos aproxima do fim do ciclo anual o qual tomamos como medida de tempo). Talvez, essa percepçao se dê dessa forma porque fazemos diversas coisas das quais não gostamos inteiramente e , com o passar do tempo, prendemo-nos a elas de uma forma cuja a dificuldade de desapego é enorme e, assim conhecemos o tédio. O problema é que os dias passam sem que os tenhamos vivido plenamente, então percebemos que a vida está a passar por nós, em uma velocidade astronômica, e não nós por ela. Os dias passam, contudo não prcebemos que os segundos e os minutos também passam e, por serem pequenos demais para nós, descartamo-los, sem observarmos que são neles que vivemos a vida!