quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Os royalties da contradição


Começo com um esclarecimento: não sou sociólogo, não sou cientista político. Este texto faz parte do senso comum, com ideias recolhidas na observação.
Os royalties da exploração do pré-sal serão divididos por todas as unidades da federação e não apenas pelos estados exploradores. Acho isso justo, mas a aqui no Rio Grande do Sul, a comemoração desse fato é extremamente contraditória.
A Revolução Farroupilha, que forjou nossa identidade de gaúcho, sendo compartilhada por todos os rio-grandenses, de diversas etnias que nada têm a ver com os gaúchos em si, foi uma luta em nome da injustiça. A injustiça de pagar muitos impostos para sustentar as partes menos desenvolvidas do país, ou, como já ouvi dizer, trabalhávamos para manter nordestinos. Aparte o preconceito carregado nessa frase, podemos pensar algumas coisas. Não eram os trabalhadores, esfarrapados, que trabalhavam na quase escravidão, os negros; e na escravidão, os brancos, que pagavam os impostos, eram os grandes proprietários de terra. Logo, os interesses contrariados eram da elite gaúcha em um país, em um tempo, que a agropecuária era uma das principais fontes de renda.
Agora, terão os fluminenses e os catarinenses, por exemplo, o direito de dizer que não querem dividir seu dinheiro com os gaúchos atrasados, ainda vivendo da agropecuária extensiva na era do agronegócio? Creio que uma injustiça não justifica outra. Mas o que cria a tensão nessa contradição é que a causa imediata da Revolução Farroupilha valia em 1835 e não vale em 2012, desfazendo a aura épica que essa revolução apresenta. Assim, como defesa dos interesses de poucos, a Revolução Farroupilha, como os royalties do pré-sal nos permitem ver 150 anos depois, não difere muito do golpe de 64, a não ser que a revolução não atingiu seu objetivo.

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