domingo, 29 de agosto de 2010

Distância relativa

Na última postagem, há 2000 anos atrás, falou-se do abraço, a aproximação de dois corpos que pode verter afeto. Tratemos agora de algo oposto, a distância. Como se calcula a distância de afeto? Isto é, podemos estar longe estando próximos; podemos estar colados a quilômetros de lonjura. Tudo depende, na vida tudo depende, de como encararemos os fatos.
Podemos morar na mesma cidade, passarmos o dia em companhia dos amigos, pais, pessoa amada, ou seja, de quem concedemos afeto, mas estarmos anos luz de distância, pois não há afinidade. Não conseguimos fazer a trama necessária para que o afeto seja um entrelaçado de emoções mútuas. O contrário também é verdadeiro. Temos um oceano que nos separa, contudo nos sentimos tão próximos que somos capazes de reduzir a distância a um nada.
Em poucas palavras, hoje estou sintético, se tudo é relativo, é impossível falar em absoluto de algo como distância, porque nós a construímos com nossos assombros e desconfianças, com nossas angústias e fantasmas; no entanto também podemos desfazê-la, mandando tudo isso embora e sentido-nos próximos de coração.

domingo, 8 de agosto de 2010

Abraço

O abraço é tão importante que Eduardo Galeano escreveu um livro a seu respeito, El libro de los abrazos. O abraço conforta e é confortador; o abraço envolve, entrelaça duas pessoas, fazendo que o coração de uma toque no peito da outra; o abraço apertado, que estala as vértebra, transmite calor, carinho, confiança, paz e lágrimas. Um ombro amigo apenas se torna paraíso de ânimo quando se abraça, e se deixam os sentimentos fluírem como rios incertos na sua correnteza.
O abraço pode ser coletivo em comemoração a algo, mas quando ocorre o que fala é uma emoção por outro motivo que não pelo abraço; o abraço precisa de intimidade; um abraço de pai, um abraço de mãe, transmitem, nesse silêncio loquaz, os melhores conselhos possíveis; o abraço da pessoa amada diz eu te amo; o abraço elimina a carência mais que um beijo; o abraço faz as pazes, sela a amizade; mata a saudade, despede e espera o retorno; o abraço falso nem abraço é, pois se afasta logo e não permite se concretizar; o abraço é puro, é ingênuo, é infantil, é verdadeiro, é a queda das máscaras, é o sentimento desarmado de um casca que o esconde muitas vezes; não saberia viver sem um abraço.
O abraço é tão importante que, neste post, o texto abraça a imagem!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Rotina e Cotidiano

Segundo o Dicionário Aurélio, rotina: seqüência de atos ou procedimentos que se observa pela força do hábito; rotineira. Cotidiano: aquilo que se faz ou ocorre todos os dias. Os dois significados são bastante próximos, assim como a sua diferença, que é quase imperceptível, no entanto, o cotidiano é extremamente aprazível, enquanto a rotina é cansativa e digna de rejeição.
Estabelecer ações que se repetem e dão ritmo à vida, deixar que a vida imponha suas necessidades, apresentando-nos tarefas a serem realizadas habitualmente, é importante, é, digamos até, necessário para quem pretende algo de interessante em sua vida. É do cotidiano dormir, acordar, comer, estudar, trabalhar, divertir-se, conhecer pessoas, afastar-se de pessoas, criar expectativas, perder as esperanças, apaixonar-se, desiludir-se, mudar. Sim, mudar faz parte do cotidiano; cada dia a cada minuto que passa somos outro, com um minuto a mais de vida, com algo diferente, com um aprendizado, com uma sensação, com uma passagem do tempo ao menos. Já a rotina machuca, pois é a impossibilidade de um acontecimento novo. É algo que pesa, porque se faz sentir desagradável. Algo que antes era prazeroso, uma novidade que, ao passar do tempo, torna-se hábito pode ser cotidiana quando temos a possibilidade de fugirmos dela, agora quando se enraíza e não nos deixa escapatória faz-se rotina. A rotina é a própria desilusão com a seqüência repetida dos fatos; pode ser encarada como o cotidiano sem fuga, sem flexibilidade, rígido e inexorável. Ou seja, a rotina é o que pela sua repetição dilacera. É uma ferida aberta e remoída, impedindo sua cicatrização, diária. Do mais banal ao mais necessário, a rotina é aquela sensação de não querer mais aquilo, contudo ser impelido ao indesejado. As ações cotidianas regram a vida, colocam horários, métodos e et ceteras; a rotina é quando essas regras querem ser quebradas, porém não se pode burlá-las.
Para quem chegou até aqui no texto e não concordou tudo bem, pois para mim isso é cotidiano. Se discordou de cada um dos conceitos, sem problemas, pois isto é uma negociação de sentidos e podem ser invertidos para quem crê que cotidiano é o descrito como rotina e vice-versa. Agora, fica um pedido, tornem a leitura algo do cotidiano, sem virar rotina.