quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Greve e esquizofrenia

           O meu desânimo não vem de olhar ao redor e ver colegas e alunos na rua, mas da esquizofrenia existente em sujeitos que, há bem pouco tempo, estavam do nosso lado e agora nos olham como inimigos, manipulam discursos, mascarando números do movimento, e são categóricos nas suas negações e ameaças.
            O Secretário de Educação do RS, que fazia parte do comando de greve de 1987, quando esta se alastrou por 90 dias, hoje afirma a impossibilidade de pagamento do salário que é não só LEGÍTIMO, mas LEGAL aos seus colegas professores. Contudo, não há dinheiro para o piso, e isso é verdade, pois, pagando o piso, faltaria para CCs, para a dívida pública, que deveria ser negociada pela união, já que o piso é lei federal, para os deputados e seus auxílios...
           Não falemos de coisas materiais, deixemos o salário de lado, observemos outras faces que estão em pauta. A esquizofrenia se mantém. Vemos, diariamente, por parte dos que são colegas, mas estão governo, afirmações sobre a reforma no Ensino Médio que não condizem com as observações de quem está, na prática, envolvido com a educação, ou seja, alunos e professores. As ideias da reforma do Ensino Médio, à exceção de algumas, são boas, mas estruturalmente impossíveis, pedagogicamente inviáveis e humanamente cruéis. Com a quantidade de alunos que temos, a falta de infraestrutura, a elevada carga horária e a burocracia que essa reforma demanda, ficaremos sempre preenchendo papéis, escrevendo relatórios e não conseguiremos jamais nos envolver com as aulas. Repito: muitas ideias são boas, mas não se encaixam com os recursos financeiros, humanos e físicos que temos, além disso há algumas "confusões" teóricas que a proposta apresenta.
           O interessante seria uma reforma verdadeira e viável, feita por professores de SALA DE AULA, não de gabinete, e alunos. A educação deveria ser um programa de Estado e não de governo, mas quem quer isso? Quem quer um povo crítico e consciente de seu poder? Quem quer um ser humano que perceba a felicidade em coisas espirituais e não materiais? Quem quer? EU QUERO! Por isso, do meu desânimo com a esquizofrenia farei força! Eu não posso me omitir, pois me omitindo eu perco a minha razão de ser, minha razão de ser PROFESSOR!

sábado, 24 de agosto de 2013

Penumbra

            A luz fraca, ou melhor, a penumbra opaca, que entrava na sala, era capaz de ofuscar as janelas do meu corpo. Meus olhos, cansados, a meia altura corroboravam a minha existência. Estava cansado de estar sentado, com a vida passando, sem passar por ela.
          Me sentia como um boi, percorrendo um caminho marcado direto para o matadouro, simplesmente andando, sem saber por quê. Não queria isso, caminhar, a esmo, direto para o fim certo e doloroso de todos.
        Queria me virar, enfurecido, contra a manada. Queria ser o estouro, queria ser o fogo. Queria percorrer a trilha inversa, fazer o caminho mais longo e sinuoso. A cada passo, deixar uma pegada indelével, criando pistas para os que quisessem me encontrar. Não queria o silêncio, antes o barulho, a algazarra, o sorriso largo e sincero.

        A sombra diminuía, eu também. 

domingo, 14 de abril de 2013

Maioridade penal


             
                  Há tempos não visito este espaço, mas a ânsia de falar sobre isto me obrigou. Vejo, sempre depois de um crime contra alguém das classes média ou alta, vir à tona a discussão sobre a maioridade penal, mas não consigo entender tal proposta. Ideias de reclusão apenas afastam as mazelas do nosso campo de visão, mas não põem um ponto final, nem sequer, na verdade, uma vírgula.
            Obnubilados que estamos, deixamos de perceber a relação existente entre fatos isolados e o todo ao qual pertencem. Temos um sistema prisional agonizante, péssimas condições de vida no cárcere e nenhuma tratativa de recuperação dos recluídos. Diminuir a maioridade penal é fazer jorrar jovens, aos borbotões, dentro de presídios adolescentes, tirá-los da nossa vista por um tempo e esperá-los pós-graduados no submundo.
            Poderíamos pensar que o investimento financeiro necessário é em educação. Uma educação que nos ensine a pensar, uma educação que nos lembre do pequeno fato, esquecido por muitos, de que somos seres humanos e, portanto, racionais e EMOCIONAIS, concomitantemente, sem a sobreposição de um elemento sobre o outro. Uma educação que nos aponte o lado ético da existência e nos faça ficar chocados com a troca de uma vida por um celular, ou de seis vidas por R$ 870, impedindo-nos, assim, de cometer tais atos não por uma questão de vigia e punição, mas pela consciência. Obviamente, é mais fácil recluir jovens de 16 anos do que revisar nossos (desde o mero cidadão até a máquina do Estado) atos, para percebermos que todos somos culpados, pois mostramos quem somos pela ação, não pelo discurso.