Há mais de um mês este espaço não
era atualizado por falta de tempo que, embora siga existindo, não pode me
impedir um posicionamento neste momento. Talvez seja paradoxal vir à internet
falar sobre os protestos na própria internet, mas o ser humano é paradoxal por
natureza.
Nos
últimos dias assistimos a campanhas no Facebook sobre um possível tratamento do
ex-presidente Lula pelo SUS. Eu entendi, assim como a maioria das pessoas, que
a brincadeira-protesto não era pela doença do ex-presidente, senão contra a
saúde pública no Brasil que, diga-se de passagem, é caótica. Contudo, acho
estranho o momento do protesto.
No
Brasil, não protestamos quando devemos ou fazemo-lo em momento inoportuno. Em
2007, na abertura dos Jogos Pan-americanos, ouvimos uma estrondosa vaia
dirigida ao então presidente da República. Engraçado, pois a realização dos
Jogos passou pela ampla contribuição do Estado. Logo, no momento que deveríamos
mostrar ao mundo nossa capacidade de organização, vaiamos o presidente mais
reconhecido que já tivemos fora do país. Agora, dá-se o caso do protesto na
hora de uma doença gravíssima de uma pessoa que, não sei se para bem ou para
mal, mudou a cara do país. Acho que somos apáticos e devemos reclamar,
protestar, sair às ruas, levantar bandeiras, mas na hora certa.
Outro
ponto: fazer a revolução pelo Facebook é fácil quero ver a mobilização das
pessoas no mundo real. Quando temos que opinar na reunião de condomínio, na
assembléia da faculdade, na câmara de vereadores, ficamos quietos e não nos
envolvemos, porque “não gostamos de política”. Ora, ou fazemos as coisas
acontecer de verdade ou nos calamos e vamos brincar com nosso avatar no mundo
virtual.
Também,
achamos maravilhosa a capacidade de organização para reivindicar seus direitos
dos europeus, dos chilenos ou dos argentinos, mas quando esse tipo de
manifestações ocorrem no Brasil, não são pessoas protestando, mas baderneiros,
vagabundos e bêbados que o fazem. Maldito pensamento colonial que ainda
carregamos. Os gregos puseram fogo nas ruas, os chilenos incendiaram praças e
prédios, os espanhóis “ocuparam” as ruas. No Brasil, os Sem-Terra, por exemplo,
“invadem” terras, bagunçam a ordem. Não será ideológico os Sem-Terra
“invadirem” fazendas e os espanhóis “ocuparem” praças?
Protestemos,
reclamemos, queimemos praças, mas não na internet, senão nas ruas e no momento
certo, pois do conforto do lar é muito fácil. E, se estamos no conforto do lar, creio que o
ex-presidente tem muito a ver com isso. Não sejamos nós o câncer da sociedade
tratados pelo SUS!