Certa vez, contou-me um amigo uma história sobre um homem seco. Ele me dizia que esse homem fora extremamente emotivo e sensível ao longo de sua vida. Via um cachorro sendo maltratado e abria a torrente de lágrimas; lembrava-se de algo triste, caía aos prantos; algo perturbava-o, chorava de maneira incontrolável. Mas um dia as lágrimas secaram quase que completamente. Uma catástrofe acontecia, e o homem parecia impassível; alguém muito próximo adoecia gravemente, e ele parecia indiferente.
Contudo, meu amigo disse-me que havia algo de diferente nesse homem, pois ele não permanecia inalterado, senão suas lágrimas haviam secado. Achei a história um pouco estranha e havia me esquecido dela, até que conheci, tempos atrás, esse homem, tornei-me seu amigo íntimo, ele contou-me, então, sua peculiaridade. Não fosse ouvir de sua boca, não acreditaria naquilo. Ele se abalava da mesma forma que dantes com o que de ruim lhe acontecia, sentia toda tristeza e angústia próprias desses momentos, mas não chorava, aliás, segundo ele chorava, mas sem lágrimas e dizia que era pior do que chorar compulsivamente; primeiro, porque não consegui tirar a angústia e a tristeza de si, mantendo-as em seu interior, sem expurgá-las, mantinha-as no seu interior sendo cada vez mais abalado por essas coisas; segundo, porque as pessoas acreditavam que ele era um homem seco, incapaz de sensibilizar-se diante das adversidades.
Essa é a história do homem que todos achavam que era seco por dentro, e vocês não sabem o que é pior, percebi que ele era mais infeliz que o mais emotivo dos homens.