terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Saudade

Convivemos com as pessoas, temo-las ao nosso lado durante anos a fio. Depois, vem o distanciamento que é natural, pois as vidas sempre seguem rumos distintos. A falta da convivência que, outrora, era a base do que nos rodeava, faz com que a saudade invade-nos. A presença da ausência é angustiante. O desejo não realizado de estarmos com quem desejamos, faz o coração ficar apertado e as lágrimas rolarem com a simples lembrança. Não falemos, somente, da morte de pessoas queridas, mas da distância física que o vasto mundo nos impõe. Sejam homens ou mulheres, a saudade é o sentimento mais poderoso e mais eficaz em relação à desestruturação emocional de cada um. Aquela frase, muito usada em séculos passados que homem não chora, tinha uma exceção, as lágrimas advindas pela saudade. Esta projetada ou rememorada faz, como todo o sentimento, que a sintamos sem, necessariamente, sentirmo-la. O que é, senão saudade projetada, o sentimento que nos faz cair em prantos quando pensamos na futura morte de alguém que amamos? Esse denso desespero é fruto da consciência que poderemos seguir a existir privados da pessoa a quem queremos. Quando nos lembramos de que já sentimos saudade, ela retorna como saudade. Embora esse fato aconteça com todos os sentimentos, a saudade dói, pois ela desencadeia uma série de outros sentimentos negativos.
A saudade deixa-nos impacientes, angustiados e aflitos. Corrói-nos o coração essa ausência. Não conseguimos respirar quando somos sufocados por essa fenda incipiente ou antiga. Pensamos, simplesmente, na ausência do ser amado, da vida que tínhamos ou do lugar onde vivemos. Limpamos as imperfeições, polimos e deixamos perfeito o saudoso, aumentando, destarte, a saudade. Claro, que saudade é uma bela palavra, cheia de significados, mas o sentimento saudade é terrível. A saudade é uma ponte que se faz de nosso coração até o sujeito amado. Uma ponte não tão pequena para ser cruzada imediatamente, nem tão longa que impeça a visão daquilo que sentimos saudade. E, à diferença de outros sentimentos, a saudade é duradoura, e a angústia que ela nos causa também o é.
Porém, ouvimos asserções que a saudade, somente, é boa quando estamos prestes a matá-la. Discordo! A saudade nunca é boa. O bom é a projeção de que, em breve, não a sentiremos mais. Logo o positivo não reside sobre a saudade, mas sim, sobre a expectativa de sua dissipação.
Portanto, somos reféns da saudade, salvo em casos que ela pode ser, rapidamente, exterminada. Contudo, na maioria das vezes, ela se instaura em nós, porque sabemos da dificuldade e dos empecilhos que nos impossibilitam tal concretização. A saudade de pessoas que estão longe, podemos matá-la desvencilhando-nos dos obstáculos, isso serve também para os lugares, os objetos, mas há duas saudades de pior trajeto: a do que fomos outrora; e a única, realmente, impossível de ser quebrada: a dos que já se foram, pois a ponte rompeu-se no meio do caminho e vemos, apenas, a pessoa saudosa sem que possamos abraçá-la. Mas o pior de tudo é que, com o passar do tempo, uma bruma vai formando-se, tornando a pessoa, mera, lembrança da lembrança, sem que saudade diminua.

5 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Deixei alguns assuntos sem falar, bom vamos lá.
Amado meu,

Bom, seus textos são maravilhosos lindos como você, e evidentemente com longos assuntos para se debaterem, me fincarei neste trecho selecionado. Rodrigo, a saudade só existe porque damos ao sujeito, isto é, ao objeto existência, somos feitos para sermos animais sociais, isto é,vivermos em função do outro. Agora não deixe que esta pulsão de lembrança do outro lhe impeça de ver o sujo (acaso tenha) de alguém.Pois, faz parte de nossa natureza ver e sentir aquilo que queremos, isto é,constituir um castelo cujas areias são movediças em nossos corações.A saudade é positiva para sabermos quem nos são caros, agora ela é negativa quando deixamos de viver em meio a nossa falta, procure amenizar esta trágica epifania dentro do teu peito,dói... Isso eu sei, e não é fácil suportar. Mas, existe distâncias necessárias para, talvez, quem sabe, constituirmos uma corda em lealdade e imortalização de positivos sentimentos.Somente estes não passam com a mão pesada do destino ou, as vezes, vão-se como um pêndulo.O único antídoto para saudade é equilíbrio, e discernimento bem tido ao lembrar , isto é, ao usar o mecanismo chamado : memória.
Beijos no coração!!

Por exemplo,eu estou com saudades de ti :)

Anônimo disse...

Não conseguimos respirar quando somos sufocados por essa fenda incipiente ou antiga. Pensamos, simplesmente, na ausência do ser amado, da vida que tínhamos ou do lugar onde vivemos. Limpamos as imperfeições, polimos e deixamos perfeito o saudoso, aumentando, destarte, a saudade. Claro, que saudade é uma bela palavra, cheia de significados, mas o sentimento saudade é terrível. A saudade é uma ponte que se faz de nosso coração até o sujeito amado."


Refiro-me especificamente a este trechO.

Rodrigo Bentancurt disse...

Pois é, Fyllos, mas é que eu não que se necessite de um antídoto para a saudade! As experiências, quer sejam positivas, quer negativas, constroem-nos como sujeitos. E acho que a saudade, essa fenda, como no trecho citado, mostra-nos que temos sentimentos não tão egoístas.
Beijos

Unknown disse...

sensacional pexe! eu por exemplo.. ja to sentindo saudade de pessoas que ainda nao se afastaram de mim.. mas com certeza irão.. e ai, eh um misto de felicidade e tristeza q provoca sensações nunca dante sentidas por mim