Com meus alunos, vemos como as palavras têm poder, que elas nunca são simplesmente um signo linguístico objetivo, frio e insosso. As palavras reverberam, produzem sentidos, provocam emoções e forjam identidades. Começo assim, pois acredito que falar sobre o que aconteceu com meus colegas do PR esta semana como CONFRONTO entre professores e policiais é criminoso. Professores e policiais são servidores estaduais com salários baixos e condições precárias de trabalho, que, ao longo dos anos, veem suas imagens denegridas socialmente.
O que aconteceu esta semana foi a economia solapando o ser humano, como acontece todos os dias em níveis, nem sempre, menos brutais. A demanda econômica obriga a mexer com quem tem menos poder econômico, logo a previdência dos professores e, para assegurar a vitória da economia, utilizam-se os colegas que têm o mesmo nível econômico, ou seja, os policiais. Assim, parece que este é o cerne, mas, enquanto isso, vota-se, numa democrática sessão, na qual os interessados são impedidos de assistir, o futuro previdenciário do magistério.
Só isso já seria terrível, entretanto ações geram reações numa cadeia ininterrupta: a selvageria no PR não é amplamente difundida pela imprensa tradicional, TV, jornais, rádio; as redes sociais começam, estranhamente, a ter erros em seus sistemas para matérias cujo teor é barbárie paranaense e, não obstante, uma importante revista de circulação nacional achincalha o magistério, criando uma nova identidade para os professores.
Concordo com a revista (e cito revista, pois a matéria não foi assinada) no que diz respeito aos salários. Talvez um professor, que ganhe mais hoje, não modifique seu modo de dar aula no ato e nem todos os problemas de educação sejam resolvidos com um reajuste salarial. Contudo, tenho a plena convicção que, a longo prazo, essa é a saída. Melhor remuneração, menos tempo frente a alunos, mais tempo para estudo e preparo de boas aulas, com novas dinâmicas e concepções sobre a sociedade, os jovens e a própria educação. Sabemos dos problemas na educação, mas também sabemos o quanto podemos melhorar, e como, nós, professores queremos isso não para dar uma resposta à sociedade, mas para transformá-la em um lugar mais humano, no qual nunca alguém vincularia dinheiro à barbárie física e psicológica a que assistimos há poucos dias!
(Imagem: Giuliano Gomes/Estadão Conteúdo)