domingo, 27 de novembro de 2011

Olhares

Hoje, almoçando em um restaurante, havia uma família na mesa ao lado. Pai, mãe, uma filha de aproximadamente dez anos e outra de uns sete. Percebo que o patriarca tem os olhos azuis muito claros. Viro para a mãe de uns olhos castanhos de muita expressividade. A menina mais velha tem olhos castanhos mas sem a expressividade dos da mãe. Nos da menina havia uma ponta de raiva. Notei o que acontecia. Espero a menina mais nova virar-se e confirmo minha hipótese, esta tinha os olhos azuis do pai, contudo, havia uma tristeza naquele olhar. Isso me surpreendeu.

Estava até o momento pensando que a menina mais velha sofrera, como quase todos os primogênitos, o ciúme de ver a mãe grávida, esperando um filho que dividirá as atenções até o momento apenas dedicadas a ela. A menina nasce com olhos lindos, escuta elogios que não são destinados à menina mais velha, o que vai gerando a raiva e o ciúme presentes em seu olhar. Então, a menina mais nova fala com a irmã mais velha, num tom que busca cumplicidade, mas não a encontra. A menina mais velha é ríspida, a mais nova se sente frustrada. Entendo, o que cada olhar carrega naquelas meninas.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Câncer da sociedade


               Há mais de um mês este espaço não era atualizado por falta de tempo que, embora siga existindo, não pode me impedir um posicionamento neste momento. Talvez seja paradoxal vir à internet falar sobre os protestos na própria internet, mas o ser humano é paradoxal por natureza.
            Nos últimos dias assistimos a campanhas no Facebook sobre um possível tratamento do ex-presidente Lula pelo SUS. Eu entendi, assim como a maioria das pessoas, que a brincadeira-protesto não era pela doença do ex-presidente, senão contra a saúde pública no Brasil que, diga-se de passagem, é caótica. Contudo, acho estranho o momento do protesto.
            No Brasil, não protestamos quando devemos ou fazemo-lo em momento inoportuno. Em 2007, na abertura dos Jogos Pan-americanos, ouvimos uma estrondosa vaia dirigida ao então presidente da República. Engraçado, pois a realização dos Jogos passou pela ampla contribuição do Estado. Logo, no momento que deveríamos mostrar ao mundo nossa capacidade de organização, vaiamos o presidente mais reconhecido que já tivemos fora do país. Agora, dá-se o caso do protesto na hora de uma doença gravíssima de uma pessoa que, não sei se para bem ou para mal, mudou a cara do país. Acho que somos apáticos e devemos reclamar, protestar, sair às ruas, levantar bandeiras, mas na hora certa.  
            Outro ponto: fazer a revolução pelo Facebook é fácil quero ver a mobilização das pessoas no mundo real. Quando temos que opinar na reunião de condomínio, na assembléia da faculdade, na câmara de vereadores, ficamos quietos e não nos envolvemos, porque “não gostamos de política”. Ora, ou fazemos as coisas acontecer de verdade ou nos calamos e vamos brincar com nosso avatar no mundo virtual.
            Também, achamos maravilhosa a capacidade de organização para reivindicar seus direitos dos europeus, dos chilenos ou dos argentinos, mas quando esse tipo de manifestações ocorrem no Brasil, não são pessoas protestando, mas baderneiros, vagabundos e bêbados que o fazem. Maldito pensamento colonial que ainda carregamos. Os gregos puseram fogo nas ruas, os chilenos incendiaram praças e prédios, os espanhóis “ocuparam” as ruas. No Brasil, os Sem-Terra, por exemplo, “invadem” terras, bagunçam a ordem. Não será ideológico os Sem-Terra “invadirem” fazendas e os espanhóis “ocuparem” praças?
            Protestemos, reclamemos, queimemos praças, mas não na internet, senão nas ruas e no momento certo, pois do conforto do lar é muito fácil. E, se estamos no conforto do lar, creio que o ex-presidente tem muito a ver com isso. Não sejamos nós o câncer da sociedade tratados pelo SUS!