sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Silêncio


                 Ao nos apresentarmos virtualmente, podemos forjar uma personalidade outra, inventar gostos que não temos, viagens que não fizemos, amigos que não nos conhecem, mas em não podemos mudar algo: seguimos sendo quem somos. Não sei se essa é a causa ou o efeito de hoje em dia termos de silenciar tudo, pois tudo ofende, denigre. Há uns dez ou quinze anos, quando eu ainda freqüentava a escola, bullying era deboche e ninguém procurava o psicólogo por causa disso, brincar com políticos, gays, mulheres, portugueses, judeus, árabes, bêbados, era piada, não ofensa a um grupo inteiro.
            Não sei se estou raciocinando direito, mas a proibição de falar não proíbe agir. Isto é, vemos manifestações abertas de preconceito e de violência contra tudo que é diferente de uma maioria hipócrita, que silencia a brincadeira e grita a plenos pulmões as ações. Na televisão, não há relações amorosas entre gays, gordos são excluídos de todos os lugares, negros e mulheres seguem recebendo um salário inferior de homens brancos ocupando as mesmas funções. Silenciar a piada é grito maior do preconceito.
            Ao silenciar todas essas coisas, fazemos que se crie um mundo harmônico cujas diferenças são respeitadas, as pessoas são solidárias e respeitam os outros. “mamãe, aquele cara é bixa porque ele beijou outro cara. – não diga bixa, meu filho, ele é gay. – tá bom, mas ele segue beijando aquele cara.” Ouvi esse diálogo na rua, tomara que ele seguisse com a mãe explicando ao filho que isso não tem problema e não deve chocar. Tomara! Tomara que os aspectos de etnias não choquem, que quando leiamos um livro no qual há um herói capaz, interessante, conquistador, inteligente, corajoso, não nos choquemos na página 54 quando soubermos que ele é negro, como deveria ser Jesus, o maior herói da literatura ocidental! A questão não é esconder os preconceitos, mas expô-los para fazer com que desapareçam.