sábado, 19 de fevereiro de 2011

Os espanhóis conheciam Descartes


Chego a conclusão que os espanhóis conheceram o francês René Descartes (1596-1650)  muito melhor que os portugueses. Quando se anda por cidades hispânicas, percebe-se a organização urbana desses lugares, quadras, realmente, quadradas, planos arquitetônicos bem distribuídos, ou seja, lugares nos quais as pessoas conseguem andar tranqüilamente mesmo sem conhecê-los. Uma praça central cujos pontos ao redor são a igreja, a administração pública e casarões da época da colonização. Obviamente, o filósofo e matemático francês é posterior à incipiente colonização, embora o período de urbanização das colônias é contemporâneo ao erudito francês. A urbanização cartesiana chega ao cúmulo de na Argentina as áreas cêntricas terem um ponto zero de onde partem todas as demais ruas com numeração crescente de Norte a Sul, de Leste a Oeste, ninguém alfabetizado, por mais esforço que faça, conseguirá perder-se. Já a herança urbanística portuguesa é muito simples, cresça como puder, como der, vão fazendo uma casa atrás da outra e azar, se chover e desabar a defesa civil pede doações. Essa herança foi muito bem internalizada por nós que seguimos com o mesmo plano arquitetônico de nossos centros urbanos.
A questão é que o plano urbano é apenas uma amostra superficial muito visível da desorganização que herdamos, e que os portugueses atribuem aos índios, pois se algo herdamos destes foi a higiene. Assim, somos assistemáticos nos planos escolares, no respeito que dispensamos aos outros, nos pedidos de desculpas que damos por nossas irresponsabilidades. E assim, seguimos sem conhecer Descartes. 

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Intensidade


Acho que o meu carpe diem deveria ser “que não seja imortal posto que é chama/ mas que seja infinito enquanto dure”, isto é, não um exato carpe diem, mas uma forma de pensarmos a existência e a nossa ação sobre o mundo, enquanto ele age sobre nós. Às vezes desejamos uma existência duradoura e, para tal, privamo-nos de uma gama de situações, de ações em nome da quantidade.
Projetamos uma vida longa, embora para isso precisemos deixar muito do que nos agrada. Projetamos relacionamentos para vida inteira e para tal abdicamos do que nos interessava neles para não batermos de frente. Mas o que vale é a qualidade, aqui, leia-se intensidade. A vida deve ser intensa. Tudo pode durar um minuto se for profundo. A pele deve arrepiar-se, os sentimentos aflorarem, pois assim sentimos que estamos vivendo.
Portanto, onde diz intensidade, leia-se vida. No entanto, uma vida vivida, que espreme até a última gota de suco de tudo, viver sem ter a nostalgia de haver deixado de fazer uma porção de coisas que não somos mais capazes hoje. Isso é viver intensamente. Não projetemos a imortalidade, queiramos a intensidade.